A Mongabay está lançando uma nova edição do livro “Uma Tempestade Perfeita na Amazônia”; a obra está sendo publicada em versão online, por partes e em três idiomas: espanhol, inglês e português.
O autor, Timothy J. Killeen, é um acadêmico e especialista que estuda desde a década de 1980 as florestas tropicais do Brasil e da Bolívia, onde viveu por mais de 35 anos.
Narrando os esforços de nove países amazônicos para conter o desmatamento, esta edição oferece uma visão geral dos temas mais relevantes para a conservação da biodiversidade da região, serviços ecossistêmicos e culturas indígenas, bem como uma descrição dos modelos de desenvolvimento convencional e sustentável que estão competindo por espaço na economia regional.
Como a soja é uma planta anual, seu preço pode variar muito em períodos relativamente curtos. Os agricultores podem optar por expandir o cultivo da soja quando os preços estão “bons”, o que acaba levando a um excesso de oferta e a uma queda nos preços; isso motiva os agricultores a mudar de cultura ou deixar a terra ociosa. Por esse motivo, os produtores de soja estão mais sintonizados com os mercados globais quando comparados aos produtores de carne bovina (veja acima) e mais ágeis quando comparados aos produtores de óleo de palma.
O Brasil exporta entre setenta e oitenta por cento de sua safra nacional de soja, enquanto a Bolívia exporta até 85% de sua produção. Consequentemente, o mercado global tem um impacto preponderante na economia agrícola de ambos os países. A demanda global por soja é impulsionada pelo consumo combinado de óleo vegetal e proteína vegetal. O óleo de soja concorre com o óleo de palma, que é mais competitivo com base no preço, mas a receita que os produtores obtêm com a torta de soja garante que ela continuará a ser amplamente cultivada em um futuro próximo.
A geopolítica também desempenha um papel importante. A guerra comercial entre os Estados Unidos e a China iniciada pelo governo Trump em 2017 levou a um aumento drástico na exportação de soja brasileira para a China. Acordos posteriores levaram a um retorno das exportações dos Estados Unidos para a China, mas o Brasil consolidou sua posição como o maior exportador mundial de soja (desde 2013) e desbancou os Estados Unidos como o maior produtor em 2019.
A demanda por soja deve dobrar até 2050. Em 2020, o Brasil exportou aproximadamente cinquenta por cento da sua produção total para a China No entanto, é mais provável que o aumento das exportações futuras venha do sul da Ásia, à medida que essa região se torna mais rica e aumenta seu consumo de proteína animal dependente do torta de soja. Da mesma forma, prevê-se que o crescimento populacional e o aumento da renda per capita na África Subsaariana aumentem o consumo de frango e carne suína.
Se as futuras cadeias de suprimentos permanecerem vinculadas aos cenários de produção atuais, os produtores sul-americanos fornecerão a maior parte do aumento da produção futura. Há outras opções, mas se o aumento projetado na demanda global por soja for atendido apenas pela produção na América do Sul, isso levaria quase inevitavelmente a novos desmatamentos na Amazônia ou, mais provavelmente, à conversão em larga escala de pastagens naturais nos biomas Cerrado, Campos e Pampa .
No curto prazo, os produtores brasileiros continuarão a expandir a produção porque seu conhecimento tecnológico, a abundância de terras e a infraestrutura pós-colheita tornam a expansão um investimento atraente. A melhoria dos sistemas de transporte a granel facilitará a expansão da produção no norte do Mato Grosso e aumentará a posição competitiva dessa região nos mercados globais.
Os aumentos na área de cultivo provavelmente ocorrerão em paisagens não florestais, incluindo pastagens cultivadas dentro do bioma amazônico, bem como pela conversão de paisagens de Cerrado, especialmente no setor nordeste da Pan-Amazônia (Figure 3.8).
No médio prazo, a pressão da soja e dos grãos para ração sobre a Amazônia dependerá da evolução do mercado global. As futuras cadeias de suprimentos poderão ser radicalmente diferentes das que predominam atualmente. Por exemplo, o aumento da demanda da África Subsaariana poderia ser atendido por políticas destinadas a garantir que a região permaneça autossuficiente na produção de alimentos. Da mesma forma, a União Europeia pode optar por adotar uma tendência emergente de obter soja orgânica e não-transgênica de produtores da Ucrânia.
“Uma tempestade perfeita na Amazônia” é um livro de Timothy Killeen que contém as opiniões e análises do autor. A segunda edição foi publicada pela editora britânica The White Horse em 2021, sob os termos de uma licença Creative Commons (licença CC BY 4.0).
Leia as outras partes extraídas do capítulo 3 aqui:
-
- Agricultura: A rentabilidade determina o uso da terra Setembro 26, 2023
- Modelos de produção de carne bovina Setembro 26, 2023
- Infraestrutura industrial Outubro 15, 2023
- Mercados nacionais x mercados globais Outubro 15, 2023
- A Amazônia Andina e as Guianas Outubro 17, 2023
- Cultivo intensivo: soja, milho e outras lavouras Outubro 17, 2023
- Infraestrutura industrial para grãos e cereais Outubro 31, 2023
- Mercados mundiais de soja e milho Novembro 1, 2023
- Suínos e aves: Agregando valor à produção agrícola Novembro 8, 2023
- O crescente setor de óleo de palma Novembro 8, 2023
- O que é necessário para que o óleo de palma chegue aos mercados internacionais? Novembro 16, 2023
- Cultivo de palma na Colômbia, Equador, Peru e Brasil Novembro 16, 2023
- Um impulso aos biocombustíveis Novembro 20, 2023
- O setor de café e cacau na Pan-Amazônia Novembro 20, 2023
- Cultivo e processamento de cafés da Amazônia Novembro 28, 2023
- Cacau de alta qualidade na Amazônia Novembro 28, 2023
- Cultivos de alimentos locais e nacionais Dezembro 3. 2023
- Coca: a cultura anti-desenvolvimento Dezembro 4, 2023