A Mongabay está lançando uma nova edição do livro “Uma Tempestade Perfeita na Amazônia”; a obra está sendo publicada em versão online, por partes e em três idiomas: espanhol, inglês e português.
O autor, Timothy J. Killeen, é um acadêmico e especialista que estuda desde a década de 1980 as florestas tropicais do Brasil e da Bolívia, onde viveu por mais de 35 anos.
Narrando os esforços de nove países amazônicos para conter o desmatamento, esta edição oferece uma visão geral dos temas mais relevantes para a conservação da biodiversidade da região, serviços ecossistêmicos e culturas indígenas, bem como uma descrição dos modelos de desenvolvimento convencional e sustentável que estão competindo por espaço na economia regional.
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Em 2010, a Eletronorte iniciou a construção de uma linha de transmissão de alta tensão (500 kW) para conectar as usinas de Tucuruí e Belo Monte; essa linha foi estendida para o norte até o Rio Amazonas, com conexões para Macapá (Amapá) e Manaus (Amazonas). Esse ambicioso empreendimento exigiu a construção de torres extraordinariamente altas (300 metros) para atravessar os 2,5 quilômetros de largura do Baixo Amazonas. A linha é praticamente paralela à faixa de domínio da PA-254, uma rodovia regional não melhorada, e fornece eletricidade a dezenas de cidades e vilarejos que antes dependiam da energia cara de geradores a diesel de pequena escala.
A linha de transmissão será eventualmente estendida até Boa Vista (Roraima), seguindo a faixa de domínio da BR-174. No entanto, sua conclusão foi paralisada porque atravessa os territórios do povo indígena Waimiri Atroari, que questionou aspectos do estudo de impacto ambiental. Ironicamente, a necessidade de eletricidade em Roraima foi exacerbada pelo término de um fornecimento de eletricidade de longa data do complexo de Guri, na Venezuela.
O desenvolvimento de energia hidrelétrica tem um apoio relativamente forte entre os habitantes do Amapá e de Roraima. No Amapá, a unidade D&R em Ferreira Gomes (250 MW) e a barragem R-o-R em Cachoeira Caldeirão (219 MW) foram construídas entre 2008 e 2016 com oposição mínima. Em Roraima, a proposta de desenvolvimento da unidade Bem Querer (650 MW) no Rio Branco tem forte apoio do setor empresarial de Boa Vista. A unidade de D&R proposta inundaria aproximadamente 56.000 hectares, mas está localizada em uma paisagem há muito impactada por assentamentos de pequenos proprietários e não infringiria nenhuma área protegida existente ou territórios indígenas. Os defensores do meio ambiente se opõem à barragem porque os estudos mostram que ela impedirá a migração anual do peixe-gato-golias e afetará a geoquímica do Rio Negro.

Ainda mais polêmico é o plano recentemente anunciado para ressuscitar o desenvolvimento do complexo D&R de Cachoeira Porteira (3 GW) no Rio Trombetas. Proposto pela primeira vez na década de 1980, foi incluído no inventário nacional de possíveis locais de barragens em 2006 pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a agência do Ministério de Minas e Energia responsável pelo desenvolvimento das estratégias energéticas de longo prazo do país. Nesse relatório, no entanto, a EPE observou que dois desses locais potenciais estavam localizados em uma unidade de conservação, dois em território indígena e dois em um assentamento patrocinado pelo INCRA, concedido às comunidades quilombolas.
O projeto de Cachoeira Porteira foi submetido a uma avaliação preliminar em 2014 e, após consulta às comunidades locais, o Ministério Público recomendou que todos os locais propostos na bacia hidrográfica do Trombetas fossem removidos da consideração para desenvolvimento futuro. O desenvolvimento de Cachoeira Porteira foi ressuscitado em janeiro de 2019 como parte do plano de Jair Bolsonaro de estender a rodovia BR-163 até a fronteira com o Suriname e abrir a Calha Norte para o desenvolvimento.
“Uma tempestade perfeita na Amazônia” é um livro de Timothy Killeen que contém as opiniões e análises do autor. A segunda edição foi publicada pela editora britânica The White Horse em 2021, sob os termos de uma licença Creative Commons (licença CC BY 4.0).