A Mongabay está lançando uma nova edição do livro “Uma Tempestade Perfeita na Amazônia”; a obra está sendo publicada em versão online, por partes e em três idiomas: espanhol, inglês e português.
O autor, Timothy J. Killeen, é um acadêmico e especialista que estuda desde a década de 1980 as florestas tropicais do Brasil e da Bolívia, onde viveu por mais de 35 anos.
Narrando os esforços de nove países amazônicos para conter o desmatamento, esta edição oferece uma visão geral dos temas mais relevantes para a conservação da biodiversidade da região, serviços ecossistêmicos e culturas indígenas, bem como uma descrição dos modelos de desenvolvimento convencional e sustentável que estão competindo por espaço na economia regional.
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O maior complexo hidrelétrico da Venezuela é a instalação mais antiga e menos sustentável da Pan-Amazônia. O complexo de represas no Rio Caroni é operado pela Electrificación del Caroni C.A. (EDELCA), uma subsidiária da Corporación Venezolana de Guayana (CVG), uma empresa estatal que inaugurou a primeira usina de energia D&R em Macagua em 1956 e iniciou a construção da barragem alta em Guri em 1963.
A produção de energia começou em Macagua em 1961 e em Guri em 1968; ambas expandiram a capacidade nas duas décadas seguintes com a adição de turbinas adicionais para atender à demanda por eletricidade durante um período de crescimento econômico sustentado. Posteriormente, a EDELCO acrescentou uma instalação (R-o-R) abaixo de Guri, em Caruachi, que começou a operar em 2006, e iniciou a construção de uma quarta usina em Tocoma em 2009. Quando concluídas, as quatro instalações combinadas terão uma capacidade instalada de 18 GW, tornando a Cascata Caroni o segundo maior complexo hidrelétrico do mundo.
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A barragem principal de 162 metros em Guri tem quase o dobro da altura de qualquer outra barragem na Pan-Amazônia; ela inundou 425.000 hectares para criar o maior lago artificial da América do Sul. O reservatório tem uma capacidade volumétrica de 135 quilômetros cúbicos e taxas de fluxo médias de cerca de 4.850 m3 s, o que teoricamente deve ser suficiente para manter o fluxo máximo de água por cerca de 320 dias por ano.
A hidrelétrica de Caroni fornece quase metade da energia elétrica da Venezuela e, quando a precipitação na bacia hidrográfica fica abaixo do normal, a escassez de fluxo de água reverbera pelo sistema, mergulhando imediatamente o país em uma crise de energia. Uma seca prolongada causada pelo fenômeno El Niño forçou a empresa nacional de energia a impor o racionamento de energia entre 2009 e 2013 e novamente em 2015 e 2016.
A dependência excessiva de um complexo hidrelétrico de megaescala fornece três lições básicas: (1) a energia hidrelétrica traz um risco explícito ligado à variabilidade climática; (2) a diversificação das fontes de energia é essencial; e (3) a energia hidrelétrica de grande escala impede a diversificação porque supera as fontes de energia alternativas durante os anos “normais”.
Um resultado ambiental positivo da dependência venezuelana do complexo de Guri foi a decisão de proteger a bacia hidrográfica de Caroni com cem por cento da área a montante reservada como parque nacional ou monumento nacional, ou zoneada como uma reserva especial de bacia hidrográfica com uso restrito da terra.
O fracasso na conclusão da represa e da usina de Tocoma é um exemplo dos problemas associados à energia hidrelétrica de grande escala: custos excessivos e corrupção. O orçamento original de US$ 3,1 bilhões aumentou para US$ 9 bilhões em 2018; acredita-se que cerca de US$ 1,5 bilhão tenha sido desviado por funcionários do governo em conluio com o consórcio de construção liderado pela Odebrecht, a empresa brasileira considerada culpada de fraude e suborno no escândalo da Lava Jato.
“Uma tempestade perfeita na Amazônia” é um livro de Timothy Killeen que contém as opiniões e análises do autor. A segunda edição foi publicada pela editora britânica The White Horse em 2021, sob os termos de uma licença Creative Commons (licença CC BY 4.0).
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