Em novo estudo, pesquisadores encontraram microplásticos no estômago de bugios-vermelhos-do-rio-juruá, evidenciando que a poluição por plástico alcança até espécies arborícolas em áreas protegidas.
A pesquisa sugere que microplásticos presentes em rios e resíduos plásticos presos nas árvores podem estar contaminando animais que vivem no dossel da floresta.
Cientistas detectaram microplásticos no sistema digestivo de uma espécie de bugio que vive em áreas protegidas da Amazônia brasileira, marcando a primeira evidência de ingestão de plástico por um primata arborícola, segundo um estudo recente.
Os pesquisadores do estudo publicado em setembro avaliaram 47 bugios-vermelhos-do-rio-juruá (Alouatta juara) e encontraram filamentos de microplástico de cor verde, menores que 5 milímetros, no estômago de dois indivíduos. Os macacos viviam nas Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã, no estado do Amazonas.
“A frequência foi baixa. Encontramos [plástico] em apenas dois macacos. Mesmo assim, já é muito. Eu teria preferido não encontrar nenhum”, disse a autora principal Anamélia de Souza Jesus, pesquisadora do Instituto Mamirauá, à Mongabay. “Encontrar microplásticos em ambientes preservados soa um alarme. Mostra que a poluição por plástico está alcançando lugares que supúnhamos serem protegidos.”
Nenhum animal foi morto ou lesado para o estudo. Os pesquisadores utilizaram restos de macacos doados por caçadores de subsistência por meio de uma parceria de duas décadas com comunidades locais. Isso permitiu que os cientistas estudassem órgãos que, de outra forma, seriam descartados.
A equipe coletou estômagos intactos dos macacos e os analisou em um ambiente laboratorial controlado. Os dois macacos que ingeriram os filamentos plásticos, visíveis apenas sob microscópio, foram caçados em 2015.
Os bugios-vermelhos-do-rio-juruá passam a maior parte de suas vidas no dossel da floresta, consumindo uma dieta herbívora de folhas e frutas. Isso torna improvável o consumo indireto de plástico por outras rotas, como por exemplo, via peixes, afirmou Jesus.
Os cientistas do estudo acreditam que o contato com o plástico pode ter ocorrido por meio da água dos rios ou devido ao lixo, como redes de pesca. As florestas de várzea onde vivem os bugios costumam alagar durante metade do ano, alcançando o galho das árvores. Quando os níveis da água recuam na estação seca, é possível que o plástico fique preso nas folhas das quais os macacos se alimentam.
Uma análise anterior da poluição por plástico na Amazônia, também conduzida pelo Instituto Mamirauá, encontrou contaminação plástica em peixes, tartarugas, peixes-boi e aves, bem como na água dos rios e sedimentos do solo. Mas a evidência de microplásticos alcançando macacos arborícolas nunca havia sido documentada antes.
“Agora temos evidências de que [o lixo plástico] está alcançando lugares que pensávamos serem inacessíveis”, disse Anamélia. “[Com isso], podemos tentar alcançar as pessoas capazes de implementar uma melhor gestão de resíduos.”
Citação:
de Souza Jesus, A., da Silva Nonato, F.A., Cruz, A.N. et al. First Evidence of Microplastic Ingestion by an Arboreal Primate. EcoHealth (2025). https://doi.org/10.1007/s10393-025-01758-2.