A Mongabay está lançando uma nova edição do livro “Uma Tempestade Perfeita na Amazônia”; a obra está sendo publicada em versão online, por partes e em três idiomas: espanhol, inglês e português.
O autor, Timothy J. Killeen, é um acadêmico e especialista que estuda desde a década de 1980 as florestas tropicais do Brasil e da Bolívia, onde viveu por mais de 35 anos.
Narrando os esforços de nove países amazônicos para conter o desmatamento, esta edição oferece uma visão geral dos temas mais relevantes para a conservação da biodiversidade da região, serviços ecossistêmicos e culturas indígenas, bem como uma descrição dos modelos de desenvolvimento convencional e sustentável que estão competindo por espaço na economia regional.
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A mais antiga usina hidrelétrica na Amazônia brasileira é o complexo Tucuruí D&R (8,4 GW) no baixo Rio Tocantins, cerca de 200 quilômetros ao sul de sua confluência com o delta do Rio Amazonas. A represa e a usina foram construídas entre 1976 e 1984, e sua capacidade foi duplicada em 2007; os planos atuais preveem que a capacidade seja ampliada em mais 2,5 GW nos próximos anos.
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Tucuruí é de propriedade da Eletronorte, uma subsidiária da Eletrobras, que fornece a maior parte da energia elétrica consumida na Amazônia brasileira. Tucuruí foi construída antes das leis ambientais que exigiam a realização de um estudo de impacto ambiental, o que permitiu que seus proponentes desconsiderassem os impactos de um reservatório que cobria 280.000 hectares e a realocação de cerca de 30 mil cidadãos, incluindo várias comunidades indígenas. O enorme reservatório inundou uma floresta tropical intacta e as subsequentes emissões de metano da vegetação em decomposição foram estimadas em 2,5 milhões de toneladas de carbono por ano – uma pegada de GEE aproximadamente equivalente a uma usina de energia movida a gás.

A represa alterou radicalmente a ecologia do rio e causou grandes perturbações nas populações de peixes. A riqueza de espécies caiu em 25% abaixo da barragem e em 50% dentro do reservatório, mudanças que refletem a composição das comunidades de peixes e o declínio das espécies migratórias. A captura total de peixes no reservatório aumentou nos anos imediatamente posteriores ao seu represamento, mas diminuiu com o tempo, estabilizando-se em cerca de oitenta por cento do valor original.
O Tocantins é a bacia hidrográfica mais explorada na Amazônia brasileira. A Serra da Mesa, uma unidade de D&R, foi construída nas cabeceiras perto de Brasília simultaneamente com Tucuruí. Esses investimentos foram seguidos por quatro projetos de D&R de grande escala inaugurados entre 2000 e 2010 (Lajeado/Luís Eduardo Magalhães, Cana Brava, Peixe Angical e São Salvador) e uma unidade de R&R em Estreito em 2014. Há quatro locais adicionais no setor central do rio que são candidatos a barragens de grande escala: Marabá, logo abaixo da confluência do Araguaia e do Tocantins, seguido por Serra Quebrada, Tupiratins e Ipueiras.
A construção dessas quatro barragens é necessária para o desenvolvimento da hidrovia do Tocantins; nenhuma se sobrepõe a um território indígena ou unidade de conservação. A Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) identificou 24 locais adicionais como candidatos a instalações de média escala (< 150 MW), todos localizados relativamente no alto da bacia hidrográfica. Se todas essas barragens propostas fossem concluídas, a capacidade instalada total do Tocantins aumentaria de cerca de 13,2 GW para 20 GW.
O Rio Araguaia, o braço ocidental da bacia do Tocantins, está livre de barragens entre sua foz em Marabá e o centro do Mato Grosso, embora existam vários projetos planejados para a sua bacia hidrográfica superior. Dois projetos polêmicos foram cancelados pela agência reguladora ambiental (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais – IBAMA) com base em observações feitas durante os estudos de impacto ambiental: um deles é a hidrelétrica Santa Isabel, no baixo curso entre Goiás e Mato Grosso. Não há planos para estabelecer nenhuma barragem na seção média do rio, uma plana e ampla planície de inundação que inclui a Ilha do Bananal, um enorme complexo de áreas úmidas que foi reservado como área protegida ou reserva indígena.
“Uma tempestade perfeita na Amazônia” é um livro de Timothy Killeen que contém as opiniões e análises do autor. A segunda edição foi publicada pela editora britânica The White Horse em 2021, sob os termos de uma licença Creative Commons (licença CC BY 4.0).