A Mongabay está lançando uma nova edição do livro “Uma Tempestade Perfeita na Amazônia”; a obra está sendo publicada em versão online, por partes e em três idiomas: espanhol, inglês e português.
O autor, Timothy J. Killeen, é um acadêmico e especialista que estuda desde a década de 1980 as florestas tropicais do Brasil e da Bolívia, onde viveu por mais de 35 anos.
Narrando os esforços de nove países amazônicos para conter o desmatamento, esta edição oferece uma visão geral dos temas mais relevantes para a conservação da biodiversidade da região, serviços ecossistêmicos e culturas indígenas, bem como uma descrição dos modelos de desenvolvimento convencional e sustentável que estão competindo por espaço na economia regional.
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Os frigoríficos também são importantes para os produtores porque a construção de uma instalação moderna estimulará o crescimento e a diversificação do setor pecuário. Os frigoríficos modernos devem estar localizados em uma boa estrada (de preferência pavimentada) para evitar o desgaste dos caminhões de refrigeração que transportam a carne para os mercados urbanos.
O número de frigoríficos modernos em escala industrial é uma boa medida da produtividade e da sofisticação do setor de carne bovina: O Mato Grosso tem 40 plantas frigoríficas que abatem cerca de 100.000 cabeças por semana, seguido por Rondônia, com 22 plantas frigoríficas que processam 50.000 cabeças por semana. Em contraste, o Pará tem apenas treze plantas modernas de escala industrial, mas ainda consegue abater 45.000 cabeças por semana, principalmente em plantas de processamento de menor escala. O Acre, distante dos mercados urbanos, tem apenas três plantas industriais que abatem cerca de 5.000 animais por semana.
Os frigoríficos devem operar com capacidade igual ou próxima à capacidade para serem lucrativos, e sua construção mudará o mercado de gado nas paisagens ao seu redor. Ter um abatedouro nas proximidades aumenta as opções de produção para os fazendeiros. Eles podem buscar um modelo de produção totalmente integrado (A+B+C), mas muitos optam por se especializar em operações de gado gordo (C), que são menos arriscadas e mais lucrativas.
O aumento da lucratividade motivará a maioria dos pecuaristas a aumentar a produção, seja pelo aumento da produtividade do rebanho usando tecnologia ou pela expansão da área de pastagem, ou ambos.
Em 2001, não havia abatedouros industriais ao longo de toda a extensão da Transamazônica ou nos municípios de São Felix de Xingu (HML nº 9) ou Novo Progresso (HML nº 17), onde os pecuaristas só têm a opção de seguir o paradigma de produção A+B. Ainda assim, essas comunidades remotas desempenham um papel essencial na cadeia de fornecimento de carne bovina, pois exportam seu gado magro para produtores próximos a frigoríficos especializados na produção de boi gordo. O município de São Felix do Xingu abriga o maior rebanho de gado do Brasil, com mais de dois milhões de cabeças pastando em aproximadamente 1,8 milhão de hectares de pasto.
Coincidentemente, esse município tem sofrido a maior taxa anual de desmatamento na Amazônia brasileira desde 2001.
Outro tipo de infraestrutura industrial é o feedlot, conhecido como confinamento no Brasil. Essas instalações industriais aumentam o ganho de peso diário e reduzem o tempo até o abate, duas métricas importantes que acompanham a melhoria da produtividade da carne bovina. O uso de confinamentos aumentou no Brasil de 500.000 cabeças em 2003 para 4,5 milhões em 2016 e 6,2 milhões até 2020. Em 2019, o Mato Grosso liderou o país no desenvolvimento de confinamentos, com mais de 175 instalações e uma capacidade instalada para 800 mil cabeças. Como os confinamentos reduzem o tempo até o abate, o número total de animais alimentados em confinamentos ultrapassou 1,2 milhão.
O impacto dos currais de confinamento no uso da terra é complexo. Sua crescente popularidade contribuiu para a melhoria da intensidade do uso da terra na cadeia de fornecimento de carne bovina; no entanto, a expansão do modelo de confinamento depende do paradigma da produção de soja e milho, que também tem uma pegada espacial em expansão. Ao mesmo tempo, os confinamentos aumentam a demanda por gado magro fornecido pelos fazendeiros da fronteira florestal. Os confinamentos também são uma fonte de poluição, devido à concentração do escoamento rico em nitrogênio do esterco, que contribui para a degradação hidrológica dos rios Tapajós, Xingu, Araguaia e Tocantins.
“Uma tempestade perfeita na Amazônia” é um livro de Timothy Killeen que contém as opiniões e análises do autor. A segunda edição foi publicada pela editora britânica The White Horse em 2021, sob os termos de uma licença Creative Commons (licença CC BY 4.0).