A Mongabay está lançando uma nova edição do livro “Uma Tempestade Perfeita na Amazônia”; a obra está sendo publicada em versão online, por partes e em três idiomas: espanhol, inglês e português.
O autor, Timothy J. Killeen, é um acadêmico e especialista que estuda desde a década de 1980 as florestas tropicais do Brasil e da Bolívia, onde viveu por mais de 35 anos.
Narrando os esforços de nove países amazônicos para conter o desmatamento, esta edição oferece uma visão geral dos temas mais relevantes para a conservação da biodiversidade da região, serviços ecossistêmicos e culturas indígenas, bem como uma descrição dos modelos de desenvolvimento convencional e sustentável que estão competindo por espaço na economia regional.
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Embora nunca tenha sido organizada como um projeto específico, a Carretera Marginal de la Selva surgiu de vários projetos que foram estabelecidos no sopé dos Andes, da Colômbia à Bolívia. Adicionalmente à lacuna que atravessa a Serrania de Macarena, há uma pequena brecha entre o Equador e o Peru que conserva um corredor biológico entre o Parque Nacional Podocarpus, nos Andes, e a Reserva Biológica Cerro Plateado, na Cordilheira do Condor, e vários territórios indígenas Awajún no Peru.
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Dentro do território peruano, cujo presidente propôs a ideia, a Carretera Marginal de la Selva traça uma rota sinuosa através do sopé dos Andes, do Vale de Marañon, do Vale de Huallaga, das paisagens de piemonte de Huanuco e Pasco, e da Selva Central. Separados dessa contínua rodovia estão os segmentos dos Yungas peruanos e o piemonte de Madre de Díos. Praticamente toda a agricultura tropical de planície do Peru está localizada a menos de cinquenta quilômetros dessa estrada, o que, apesar de sua rota idiossincrática, faz dela um ativo estratégico que apoia a segurança alimentar nacional.
Mapas oficiais de rodovias mostram uma futura rota potencial para a Carretera Marginal de la Selva (PE-5S), que se estenderia ao sul da Selva Central por cerca de 800 quilômetros em direção aos campos de gás de Camisea até o Corredor Interoceánico del Sur, próximo a Puerto Maldonado (Madre de Díos).
Essa “lacuna” na rede rodoviária é, talvez, o corredor biológico mais importante do mundo, pois facilita o intercâmbio biológico entre as florestas tropicais megadiversas do sudeste da Amazônia e as florestas montanhosas dos Andes Centrais. O corredor apresenta algumas das maiores precipitações anuais do planeta e é considerado resiliente às mudanças climáticas devido aos padrões de fluxo de vento inerentemente estáveis e em escala continental. Uma rodovia, seja no piemonte ou no sopé, interromperia a capacidade das espécies de se adaptarem às mudanças de temperatura ao migrarem em um gradiente topográfico pelas encostas cobertas de floresta de três enormes cordilheiras (Vilcabamba, Urubamba, Vilcanota).
A relevância da região para a conservação da biodiversidade é conhecida há décadas, e a maior parte da área foi reservada como área protegida ou reserva indígena. Qualquer tentativa de comprometer a integridade dessas reservas enfrentará forte resistência de acadêmicos, da sociedade civil e dos povos indígenas. No entanto, o governo peruano, ou pelo menos os funcionários de sua agência de planejamento rodoviário, continuam a colocar a rodovia proposta nos mapas oficiais e, presumivelmente, nas carteiras de investimento de sua futura agenda de infraestructura.
A proposta de extensão da PE-5S até a fronteira com a Bolívia também interferiria em áreas protegidas, mas se conectaria a uma extensão planejada da estrada atualmente em construção entre Yucumo e Ixiamas (BO-16). Ao contrário de outras nações andinas, a Bolívia não tem um plano explícito para construir um corredor rodoviário denominado Carretera Marginal de la Selva; no entanto, as rodovias troncais em La Paz e no Chapare estão essencialmente em conformidade com o conceito original. A lacuna de 200 quilômetros entre essas duas seções é, como no Peru, um importante corredor biológico que foi incorporado à rede de áreas protegidas e/ou ao território indígena.
“Uma tempestade perfeita na Amazônia” é um livro de Timothy Killeen que contém as opiniões e análises do autor. A segunda edição foi publicada pela editora britânica The White Horse em 2021, sob os termos de uma licença Creative Commons (licença CC BY 4.0).