A Inovação Financeira para a Amazônia, Cerrado e Chaco (IFACC) destinou US$ 234,5 milhões (R$ 1,16 bilhão) para projetos voltados ao aumento da produtividade agrícola em áreas já desmatadas do Cerrado.
A iniciativa, lançada na COP de 2021, busca incluir o produtor rural na agenda de sustentabilidade ao mostrar que é possível aumentar os lucros sem avançar sobre a vegetação nativa.
Entre os projetos beneficiados, estão a expansão de cultivo de soja sobre pastagens degradadas e benefícios financeiros a produtores que preservam áreas maiores do que aquelas exigidas por lei.
Uma aliança lançada na Conferência do Clima (COP) de 2021 já destinou US$ 240 milhões (R$ 1,18 bilhão) para projetos que aliam o aumento da produtividade rural à preservação ambiental no Brasil. A Inovação Financeira para a Amazônia, Cerrado e Chaco (IFACC, da sigla em inglês) é liderada pela Tropical Forest Alliance (TFA), The Nature Conservancy (TNC) e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), e já conta com 16 signatários, entre eles o banco Santander e a gigante dos agrotóxicos Syngenta.
“Vemos um papel importante não só do setor financeiro, de colocar dinheiro na mesa, mas também de empresas que dependem da soja e do gado do Brasil no sentido de contribuírem [para a iniciativa]”, diz Danielle Carreira, diretora de engajamento com o setor financeiro da TFA. Ela explica que o principal objetivo da iniciativa é incluir o produtor na agenda da sustentabilidade, sem que ele tenha que abrir mão de continuar crescendo. “Queremos trazer a voz do produtor para a conversa.”
Dos onze projetos apoiados pela iniciativa, sete estão no Cerrado, que recebeu quase a totalidade dos recursos: US$ 234,5 milhões (R$ 1,16 bilhão), ou 98% do total. O dinheiro está sendo aplicado em projetos de recuperação de pastagens degradadas, incentivo à preservação de vegetação nativa e aumento da produtividade em áreas já desmatadas.
O protagonismo do bioma não é à toa. O Cerrado é a maior e mais biodiversa savana tropical do mundo, ao mesmo tempo em que responde por 60% da produção agrícola do Brasil. Ao contrário da Amazônia, onde o desmatamento caiu em 2023, no Cerrado a curva seguiu ascendente com a supressão de mais de 11.000 km² (1,1 milhão de hectares), segundo dados do Inpe, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. A maior parte do desmatamento se concentra no Matopiba, região entre os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia que se tornou a nova fronteira agrícola do país.
“O Brasil é uma potência, e vai crescer, e os fazendeiros querem aumentar sua renda. Então a questão é como podemos fornecer financiamento e apoio para eles aumentarem a produção sem desmatamento”, diz Greg Fishbein, diretor de finanças agrícolas na TNC. “A produção de soja e de gado no Brasil não vai parar. Então precisamos ajudar na transição”, acrescenta Carreira.
Entre os projetos apoiados no Cerrado, estão o Reverte, que já destinou US$ 116,9 milhões (R$ 579 milhões) para agricultores de Mato Grosso, Goiás e Maranhão expandirem sua produção de soja sobre áreas de pasto degradado, reduzindo a pressão sobre a vegetação nativa. Segundo o relatório da IFACC, o programa já levou ao aproveitamento de 82.941 hectares de pastagens degradadas e a meta é atingir 1 milhão de hectares nos próximos anos.
“Muito se fala na necessidade de usar melhor as áreas de pastagem degradadas, então ver um programa dessa magnitude totalmente dedicado a isso é muito empolgante. É um dos modelos críticos de produção que precisamos expandir”, diz Fishbein.
As pastagens ocupam 29% do Cerrado – cerca de 57 milhões de hectares – e um estudo publicado em 2021 mostrou que a maior parte dessa área tem condições de ser recuperada.
Já o projeto Commodity Responsável (Responsible Commodity Facility) já destinou US$ 47,2 milhões (R$ 233,8 milhões) a produtores rurais do Cerrado que se comprometeram a proteger a vegetação nativa para além do exigido por lei. O objetivo é garantir a proteção de 11.300 hectares, área que deve aumentar em dez vezes até 2025. “Esse é um grande exemplo de como dar um valor econômico para a preservação”, afirma Carreira.
O IFACC também financia quatro projetos na Amazônia, além de uma iniciativa que cobre tanto a Amazônia quanto o Cerrado. Na floresta tropical, os projetos são voltados para a bioeconomia, especialmente para o desenvolvimento de sistemas agroflorestais em parceria com comunidades locais.
O objetivo da coalizão é atingir US$ 1 bilhão (quase R$ 5 bilhões) em investimentos até 2025 e expandir sua atuação para o Chaco, um grande bioma de floresta seca que ocupa uma área entre o norte da Argentina, o Paraguai, a Bolívia e o Brasil.
Imagem do banner: A expansão da atividade agrícola sobre o Cerrado para a produção de commodities como soja, algodão e milho coloca em risco a maior savana tropical do mundo. Foto: RCF/divulgação