Este ano, os incêndios no Pantanal destruíram cerca de 4,1 milhões de hectares, cerca de 28% do bioma.
Uma onça-pintada macho de três anos foi alcançada pelo fogo e sofreu queimaduras de terceiro grau nas quatro patas enquanto corria sobre a vegetação queimada.
Em setembro, a onça foi resgatada por um grupo de veterinários e entregue a uma clínica que ajudou a tratar suas feridas.
Um mês depois, as chuvas haviam extinguido a maior parte dos incêndios e a onça-pintada foi solta no mesmo local de onde foi resgatada.
Quando uma equipe de veterinários voluntários resgatou Ousado, suas quatro patas estavam em carne-viva, com queimaduras de terceiro grau. Ousado é uma onça-pintada macho que vivia no Parque Estadual Encontro das Águas quando as chamas alcançaram a região, queimando o solo que o felino pisava enquanto tentava escapar.
Em 2020, o Pantanal — a maior planície inundável do planeta, abrangendo áreas do Brasil, do Paraguai e da Bolívia — sofreu grandes incêndios, possivelmente em decorrência da combinação da pior seca dos últimos 50 anos com a derrubada da mata para a abertura de terras agrícolas.
Estima-se que 4,1 milhões de hectares do Pantanal tenham queimado este ano, de acordo com dados compilados pelo Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Lasa). O número representa cerca de 28% de toda a região.
Os incêndios causaram um enorme impacto na vida selvagem, incluindo onças-pintadas, cuja população estimada é de cerca de 2 mil indivíduos no Corredor das Onças do Pantanal. Em setembro, a Panthera, organização global de conservação de felinos selvagens, estimou que 600 onças-pintadas tiveram seu habitat impactado pelos incêndios, resultando em muitos animais feridos ou mortos.
Algumas onças-pintadas, incluindo Ousado, de três anos de idade, foram resgatadas. Após ser capturado em 11 de setembro, Ousado foi levado primeiro ao hospital veterinário da Universidade Federal de Mato Grosso para tratamento preliminar, e depois para o centro de reprodução científica e clínica médica para felinos selvagens da ONG No Extinction (NEX).
“As lesões [em suas patas] eram extensas”, diz Thiago Luczinski, veterinário da NEX. “Ele estava desidratado e não estava comendo”. Depois de tomar antibióticos e receber tratamento para as patas queimadas, Ousado estava pronto para voltar à natureza pouco mais de um mês depois.
Em 20 de outubro, membros da equipe da Panthera, da NEX e de outras organizações transportaram Ousado de volta para o local onde ele havia sido resgatado.
“Não houve mais incêndios na região”, diz Fernando Tortato, cientista de conservação do programa de onça-pintada da Panthera, que esteve presente na soltura de Ousado. “As chuvas já começaram”, acrescenta.
Quando a equipe abriu a caixa metálica usada que transportava Ousado, ele sondou a área com cuidado, farejou o ar e sumiu no matagal. Os espectadores aplaudiram.
O animal continuará sendo monitorado por meio de um rádio transmissor colocado em sua coleira. Segundo Tortato, Ousado voltou rapidamente à sua rotina normal, e recentemente matou uma sucuri de 2 metros.
“Foi uma vitória”, diz Tortato. “Representou um novo começo para ele e simbolicamente para o Pantanal. Sua liberação coincidiu com a semana das primeiras chuvas. Tudo isso traz esperança para a recuperação do Pantanal”.
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