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Infraestrutura industrial para grãos e cereais

Matriz de campos de soja, reservas florestais e pastagens para gado na Amazônia brasileira. Crédito: Rhett A. Butler.

  • A Mongabay está lançando uma nova edição do livro “Uma Tempestade Perfeita na Amazônia”; a obra está sendo publicada em versão online, por partes e em três idiomas: espanhol, inglês e português.

  • O autor, Timothy J. Killeen, é um acadêmico e especialista que estuda desde a década de 1980 as florestas tropicais do Brasil e da Bolívia, onde viveu por mais de 35 anos.

  • Narrando os esforços de nove países amazônicos para conter o desmatamento, esta edição oferece uma visão geral dos temas mais relevantes para a conservação da biodiversidade da região, serviços ecossistêmicos e culturas indígenas, bem como uma descrição dos modelos de desenvolvimento convencional e sustentável que estão competindo por espaço na economia regional.

A cadeia de suprimento de soja/milho depende da existência de instalações logísticas de propriedade privada que são essenciais para receber, secar e armazenar a soja e os grãos para ração após a colheita. Sem silos, toda a colheita teria de ser transportada imediatamente para usinas de processamento ou terminais de exportação distantes.

Isso causaria ineficiências na cadeia de suprimentos e levaria a congestionamentos no número limitado de rodovias que conectam as regiões produtoras aos terminais de exportação. Os silos absorvem a produção durante a colheita e permitem que os grãos sejam despachados para os mercados nas semanas e meses seguintes.

A soja fermenta e estraga quando o acesso ao armazenamento é restrito devido à distância de transporte ou às longas filas nas instalações logísticas, principalmente se os grãos tiverem um alto teor de água. As estimativas de perda devido à deterioração variam de 5 a 6% ao ano, o que, em termos de valor monetário, varia de US$ 200 a 500 milhões anuais para o estado do Mato Grosso.

Plantas de soja na Amazônia boliviana. Crédito: Rhett A. Butler.

De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), Mato Grosso tinha uma capacidade total de armazenamento de 38,6 milhões de toneladas em 2016, aproximadamente 53% da safra combinada de soja e milho em 2020. Grande parte dessa capacidade é de propriedade e operada por uma das quatro empresas comerciais globais: ADM, Cargill, Luis Dreyfus e Bunge.

No entanto, o maior operador é o Grupo Amaggi, uma empresa familiar brasileira, que possui uma cadeia de suprimentos integrada que abrange a produção (280.000 hectares), silos (25 instalações), moinhos (3) e ativos de transporte (barcaças e caminhões). Outras empresas brasileiras que se concentram no mercado doméstico competem com essas empresas maiores, assim como uma empresa chinesa, a COFCO, com silos em Sorriso e São Lucas do Rio Verde, além de uma usina de biodiesel em Rondonópolis.

Além disso, as empresas que operam as principais ferrovias (Rumo e VLS) têm silos em suas instalações logísticas, tanto no campo quanto nos terminais portuários que operam em Santos (SP) e São Luís do Maranhão (MA).

Atualmente, há uma iniciativa organizada pela Associação Brasileira de Soja (Aprosoja Brasil) para promover o investimento em silos nas fazendas, o que reduziria o desperdício e daria aos agricultores a opção de manter seus grãos para venda posterior; isso beneficiaria seus resultados, pois os preços de venda nas fazendas são mais baixos durante a época de colheita.

Na Bolívia, que é o décimo maior produtor de soja do mundo e o sexto maior exportador de soja, os produtores também dependem da presença dos quatro traders globais, mas cerca de metade de sua produção é processada e comercializada por empresas sediadas na Bolívia, Venezuela ou Peru.

As usinas de esmagamento são o outro grande ativo industrial da soja. Como o nome indica, essas instalações processam os grãos, esmagando-os para extrair o óleo vegetal e separá-lo do farelo de soja (também chamado de torta de soja). O óleo de soja é consumido como alimento ou como ingrediente em produtos alimentícios ou outros bens de consumo; no Brasil, é usado como matéria-prima para a produção de biodiesel. A torta de soja, que é rica em proteínas, é usada como ingrediente em rações para animais.

A soja é exportada como semente (grão de soja), como óleo vegetal e como torta de soja. Quando exportada como semente, ela é processada em seu destino, onde seus dois principais produtos são consumidos, mas quando é processada perto da fazenda, ela oferece aos comerciantes a oportunidade de exportar os subprodutos para diferentes mercados.

Mais importante ainda, as usinas de esmagamento criam uma oportunidade estrategicamente importante para agregar valor à produção de soja, transformando-a em um produto com maior valor de mercado. Essa é a base dos setores de aves e suínos tanto no Mato Grosso quanto na Bolívia.

“Uma tempestade perfeita na Amazônia” é um livro de Timothy Killeen que contém as opiniões e análises do autor. A segunda edição foi publicada pela editora britânica The White Horse em 2021, sob os termos de uma licença Creative Commons (licença CC BY 4.0). 

Leia as outras partes extraídas do capítulo 3 aqui:

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