Mais da metade das maiores e mais velhas árvores envolvidas em um estudo recente morreram – ou tiveram partes importantes de sua estrutura mortas – entre 2005 e 2017.
Quase todas dessas árvores tinham no mínimo 1.000 anos e uma tinha aproximadamente 2.500 anos.
Pesquisadores acreditam que elevações na temperatura e mais de uma década de seca na África Austral, provavelmente devido a mudanças climáticas, podem ter matado esses baobás.
O membro mais velho de uma das espécies icônicas de árvores africanas, o baobá africano (Adansonia digitata), parece estar enfrentando dificuldades, segundo estudo divulgado no último mês. Por entre a variedade de árvores na África subsaariana, diversas culturas compartilham uma história parecida a respeito do primeiro surgimento da árvore de formato distinto, com seus galhos finos dispostos no topo de uma base circular que pode ser duas vezes maior que a própria altura da árvore.
O criador da Terra, conforme conta a história, colocou o baobá nas florestas exuberantes da Bacia do Congo primeiro. Contudo, a árvore reclamou do calor, então o criador a colocou mais para cima, nas florestas nubladas dos Montes Ruwenzori, ao longo da fronteira entre a atual Uganda e a República Democrática do Congo. Porém, mais uma vez, a árvore não estava feliz, alegando que a umidade de lá ainda estava muito elevada. Frustrado, o criador arrancou o baobá e o jogou nas regiões mais secas da África. Ele caiu com o topo virado para a terra, e é por essa razão que ele parece uma árvore virada, com suas raízes voltadas para o céu.
Agora esse famoso aborrecimento parece estar emergindo mais uma vez. A nova pesquisa, publicada no último mês no periódico Nature Plants, cataloga uma morte preocupante ocorrendo entre alguns dos maiores e mais velhos baobás do continente, provavelmente como resultado de mudanças climáticas.
“É definitivamente chocante e dramático experienciar a morte de tantas árvores com idade milenar durante nossa vida”, contou Adrian Patrut, principal autor do estudo e químico na Universidade Babes-Bolyai, na Romênia, para a Agence France-Presse.
Patrut e seus colegas estavam tentando esmiuçar a arquitetura incomum dos baobás, que com frequência inclui vãos ou “cavidades” em seus troncos, característica exclusiva à espécie. Em 2005, a equipe havia selecionado algumas dezenas dos maiores baobás africanos, todos da África Austral. Usando datação por radiocarbono de pedaços diferentes da mesma árvore, eles descobriram que um baobá germina um aglomerado de troncos no decorrer de sua existência, de maneira similar àquela com que outras árvores brotam os galhos. Esses troncos múltiplos conspiram para criar a arquitetura cada vez mais complexa pela qual as árvores mais velhas são conhecidas.
Entretanto, dando continuidade aos estudos, os cientistas descobriram que mais da metade das árvores mais velhas – a maioria das quais com mais de 1.000 anos e uma com aproximadamente 2.500 anos – haviam ou morrido completamente ou seus troncos maiores e mais velhos haviam morrido desde 2005.
A equipe averiguou as árvores em busca de sinais de infecção ou doença, mas não encontrou nenhuma. Em outro local, baobás mais velhos também estavam morrendo e, juntas, essas descobertas levaram a equipe a deduzir que uma mudança climática poderia ser o responsável.
Os anos de seca nessa parte da África e a elevação nas temperaturas poderiam estar os impedindo de se recuperar após sua florada ou a queda de suas folhas, contou Patrut ao Atlantic. Porém ele e os outros autores observaram que precisarão realizar mais pesquisas para terem certeza.
Erika Wise, climatologista da Universidade da Carolina do Norte que não estava envolvida na pesquisa, afirmou concordar que as mudanças climáticas provavelmente seriam “culpadas”, informou o Atlantic. Causas de morte mais comuns, adicionou, não fazem sentido para uma árvore de vida tão longa.
“[Uma] árvore de 500 anos experienciou muitos ataques de insetos e sobreviveu a todos eles”, ela contou à revista. “Alguma coisa as está empurrando à beira do desastre desta vez”.
Imagem do banner de um baobá na Tanzânia por Rhett A. Butler/Mongabay.
Citations
Patrut, A., Woodborne, S., Patrut, R. T., Rakosy, L., Lowy, D. A., Hall, G., & von Reden, K. F. (2018). The demise of the largest and oldest African baobabs. Nature Plants.
Wickens, G. E. (1982). The baobab: Africa’s upside-down tree. Kew Bulletin, 173-209.