Dezenas de milhares de focos de incêndio estão destruindo a Amazônia brasileira nas últimas semanas e provocando protestos em cidades do Brasil e no exterior, pedindo que o presidente de extrema direita, Jair Bolsonaro, tome medidas eficazes para conter os incêndios na maior floresta tropical do mundo.
No dia 23 de agosto, manifestantes bloquearam estradas, gritando slogans e segurando cartazes onde se liam frases do tipo: “Parem de matar a nossa Amazônia” em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Londres, Genebra, Paris, Berlim e Toronto. Os manifestantes também exigiram a renúncia de Bolsonaro e do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.
Uma petição on-line no Reino Unido pediu à União Europeia para aplicar sanções ao Brasil pelo crescente desmatamento. Em apenas um dia, foram coletadas mais de 65 mil assinaturas. Caso alcance 100 mil adesões, a petição será considerada para debate no Parlamento.
O presidente da França, Emmanuel Macron, também convocou uma reunião de emergência um pouco antes da reunião anual do G7, em Biarritz, para discutir o número excessivo de incêndios, considerando a situação uma crise internacional e obtendo o apoio do primeiro ministro do Canadá, Justin Trudeau, e da chanceler da Alemanha, Angela Merkel.
Milhares de manifestantes tomaram as ruas de cidades do Brasil e do exterior no dia 23 de agosto, pedindo que o presidente de extrema direita, Jair Bolsonaro, tome medidas eficazes para conter os milhares focos de incêndio que estão destruindo a Amazônia brasileira nas últimas semanas.
Manifestantes bloquearam estradas, gritaram slogans e seguraram cartazes onde se liam frases como: “Parem de matar a nossa Amazônia” em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Londres, Genebra, Paris, Berlim e Toronto. Isto foi parte de um protesto internacional contra a falta de ação por parte da administração de Bolsonaro para proteger a maior floresta tropical do mundo, onde a ocorrência de incêndios e desmatamentos alcançaram nível recorde este ano.
Manifestantes em São Paulo ocuparam a Avenida Paulista, a via mais importante da cidade, tocando tambores, entoando cantos e segurando cartazes que pediam a saída de Bolsonaro e do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e declararam: “Sem floresta não há água”.
“Esta é a primeira vez que os brasileiros saem às ruas para defender a floresta desta forma”, disse a bióloga Erica Guimarães, enquanto os manifestantes entoavam: “O Bolsonaro sai, a Amazônia fica”. “Protestamos por melhores serviços de saúde, melhor educação, melhor conduta dos políticos, mas esquecemos da floresta. Não podemos fazer isso. A floresta nos dá vida. É parte do nosso DNA”, ela disse.
Os incêndios na Amazônia se tornaram o centro das atenções esta semana quando o céu de São Paulo escureceu repentinamente com fumaça no dia 19 de agosto. Segundo especialistas, o fenômeno tem relação com os desmatamentos e incêndios. O cenário chocante de São Paulo naquele dia, semelhante ao Armagedom, desencadeou muitas preocupações nas redes sociais do mundo todo com a hashtag #PrayforAmazonas, que alcançou mais de 300 mil tuítes em dois dias.
O número de focos de incêndio chegou 74.155 casos entre 1º de janeiro e 20 de agosto; um aumento de 85% comparado ao mesmo período de 2018, conforme informações do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Cerca de metade das ocorrências de incêndio deste ano foram registradas nos últimos 20 dias, o INPE mostrou. Os especialistas dizem que o aumento dos casos de incêndio está diretamente relacionado com o desmatamento, dada a falta de seca deste ano.
Em Londres, o protesto foi organizado pelo Extinction Rebellion (ER) um grupo famoso por seu recente ativismo em questões relacionadas às mudanças climáticas. Manifestantes seguraram cartazes dizendo: “Nosso lar está em chamas” e “Este é um crime contra a humanidade”, e exigiram a renúncia do presidente, gritando: “Eh, agora é hora do Bolsonaro ir embora!”
Marilyn Taylor, uma professora britânica participante do ER, disse que a manifestação está envolvendo muitas pessoas no eco-ativismo porque elas reconhecem a importância de proteger os “pulmões do planeta”.
“Bolsonaro diz que o mundo deveria permanecer fora dos problemas do Brasil, mas o mundo todo depende da Amazônia. O mundo deveria ajudar o Brasil a protegê-la.”
Crise internacional
A retaliação internacional contra a administração Bolsonaro aumentou desde o começo de agosto quando a Alemanha anunciou planos de suspender a verba de 35 milhões de euros (cerca de R$ 155 milhões) para o financiamento de projetos ambientais e a retenção de 33,2 milhões de dólares (cerca de R$ 130 milhões) feita pela Noruega ao Fundo Amazônia, devido à falta de envolvimento do Brasil para restringir o desmatamento na Amazônia.
As ações foram tomadas após a divulgação de informações feitas pelo satélite de alerta do INPE, mostrando que o desmatamento na Amazônia brasileira em junho de 2019 foi 88% maior que no mesmo mês de 2018, enquanto que o desmatamento em julho de 2019 foi 278% maior em relação a julho de 2018. No geral, o desmatamento em 2019 é 57% maior que o ano passado, de acordo com o INPE.
Bolsonaro chamou os números de “mentiras”, mas não conseguiu provar o seu ataque contra uma instituição reconhecida nacional e internacionalmente pelos inovadores sistemas de imagem por satélite e programas de monitoramento do desmatamento. No entanto, Bolsonaro acusou o diretor do INPE, Ricardo Galvão, de trabalhar secretamente para uma ONG e o demitiu Isto provocou fortes repercussões na população e críticas na comunidade científica mundial.
Após as notícias sobre os incêndios — que ainda continuam com força na Amazônia por semanas — uma petição on-line no Reino Unido pediu à União Europeia para aplicar sanções ao Brasil pelo crescente desmatamento. Em um dia, foram coletadas mais de 65 mil assinaturas. Caso alcance 100 mil adesões, a petição será considerada para debate no Parlamento.
O presidente da França, Emmanuel Macron, também convocou na quinta-feira uma reunião de emergência um pouco antes da reunião anual do G7, em Biarritz, para discutir o número excessivo de incêndios, considerando a situação uma crise internacional e obtendo o apoio do primeiro ministro do Canadá, Justin Trudeau, e da chanceler da Alemanha, Angela Merkel. A França também teve o apoio da Irlanda em sua ameaça ao bloqueio do acordo de livre comércio entre a União Europeia e a América do Sul, caso Bolsonaro não tome providências para controlar os incêndios.
Bolsonaro reagiu às declarações de Macron, dizendo que o presidente francês tem “uma mentalidade colonialista”. Na noite da última sexta-feira, Bolsonaro foi à TV para falar sobre os protestos, anunciando que havia autorizado as Forças Armadas na ajuda ao combate dos incêndios que ainda estão ocorrendo na Amazônia e disse que adotará “tolerância zero para os crimes ambientais, da mesma forma como trata os outros tipos de crimes”.
“A floresta tropical amazônica é parte essencial da nossa história, do nosso território e de tudo que nos faz sentir brasileiros,” ele disse em pronunciamento para a rede nacional de televisão e rádio, algo raro para o presidente, que prefere usar a redes sociais para se comunicar. “Devido à minha formação militar e minha trajetória como homem público, tenho profundo amor e respeito pela Amazônia.”
As recentes declarações de Bolsonaro são bastante contraditórias com o seu longo passado de retórica a favor do agronegócio, que ele executou como política quando, logo após assumir o cargo no começo deste ano, tentou unir os ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente e tomou medidas para iniciar unidades de conservação e exploração de minérios em territórios indígenas – uma iniciativa que ele prometeu cumprir desde a época em que era candidato à presidência do país.
Para Camilo Kayapó, um indígena presente na manifestação de São Paulo, este tipo de retórica incentivou as devastações na Amazônia colocando em risco o meio ambiente e os habitantes da região. “O presidente está apoiando o desmatamento”, disse Camilo. “Bolsonaro está permitindo com que eles utilizem nossa terra para a mineração, para o abate de árvores e para a agricultura. E nós temos que presenciar a morte de membros de nossas famílias todos os dias”.
Apesar de receber o apoio de Bolsonaro, o agronegócio brasileiro está preocupado com um boicote internacional dos produtos agrícolas nacionais. De acordo com Marcello Brito, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio, “é apenas uma questão de tempo”.
“Vai custar muito ao Brasil reconquistar a confiança de alguns mercados internacionais”,” disse ele ao jornal de economia Valor Econômico.
Para Annaís Berlin, um ativista brasileiro que protestou em Londres, é essencial chamar a atenção de outros países para conter Bolsonaro.
“Outros governos…têm poder, [eles] precisam fazer algo. Boicotem o Brasil, impeçam o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia. Parem de falar com este ‘sujeito’ [Bolsonaro], disse Berlin.
Captura de imagem do cartaz: Manifestantes contra o presidente de extrema direita, Jair Bolsonaro, em frente da embaixada brasileira em Londres. Imagem de Elisângela Mendonça para a Mongabay.
Artigo original: https://news-mongabay-com.mongabay.com/2019/08/amazon-fires-trigger-protests-worldwide/