Uma carta publicada na revista Nature Climate Change escrita por dez proeminentes cientistas brasileiros está repercutindo nos principais veículos da mídia brasileira. Eles alertam que a fraca governança ambiental do governo Temer e o lobby da bancada ruralista, do agronegócio e da mineração estão resultando em políticas que aumentam o desmatamento.
Os cientistas destacaram a atuação de Temer, em especial, observando que: “o Presidente do Brasil assinou medidas provisórias e decretos reduzindo as exigências para o licenciamento ambiental, suspendendo a ratificação de terras indígenas, reduzindo o tamanho de áreas protegidas e facilitando a grilagem de terras que resultam em áreas de desmatamentos ilegais.”
Os cientistas dizem que essas políticas estão minando as tentativas de reduzir o desmatamento e os cortes nas as emissões de CO2. Como resultado, o Brasil pode precisar gastar de US $ 2 a 5 trilhões a mais para reduzir suas emissões de carbono por outros meios, a fim de atingir as metas do Acordo Climático de Paris.
Essa advertência acontece quando o Brasil se prepara para as eleições presidenciais de outubro. As questões ambientais raramente têm uma grande influência sobre os eleitores brasileiros, mas os cientistas esperam que o conhecimento das conseqüências severas e onerosas das políticas do atual governo possa ajudar a informar melhor os brasileiros que forem às urnas.
Em uma carta contundente, publicada pela revista Nature Climate Change, dez cientistas brasileiros aadvertem que as políticas do atual governo tem potencial para aumentar significativamente as emissões de gases de efeito de estufa devido ao desmatamento, o que torna cada vez mais improvável que o Brasil venha a atingir os compromissos de redução de carbono a que se comprometeu no acordo do clima de Paris.
Se o governo de Michel Temer continuar apoiando medidas administrativas e legislativas que incentivam o desmatamento por proprietários de terras, os cientistas advertem que a nação precisará empregar medidas muito mais caras para fazer o corte de emissão de carbono em outros setores, se pretender atender aos compromissos de redução de carbono assumidos em Paris no final de 2015. Eles dizem que tais medidas custariam ao país pelo menos US$ 2 trilhões a amais, mas podendo chegar a US$ 5 trilhões.
De acordo com os cientistas “o presidente brasileiro assinou medidas provisórias e decretos reduzindo as exigências para o licenciamento ambiental, suspendendo a ratificação de terras indígenas, reduzindo o tamanho de áreas protegidas e facilitando a grilagem de terras que resultam em áreas de desmatamentos ilegais.” Eles concluem que essas ações “poderiam minar o sucesso das reduções de emissões de CO2 obtidos pelo Brasil através do controle do desmatamento”.
Eles afirmam que as ações do atual governo ajudam a “explicar como uma crise política pode ser o fator preponderante para o aumento do desmatamento e das emissões de carbono no país”. Os cientistas apontam para o fracasso do governo em impor o estado de direito, e para a oferta de incentivos que premiam o desmatamento como grandes obstáculos para se atingir as metas do Brasil no Acordo de Paris.
O desmatamento e outras questões ambientais raramente chegam as primeiras páginas no Brasil, mas muitos dos jornais do país estão divulgando essa advertência urgente dos cientistas. O Observatório do Código Florestal, uma rede de ONGs ambientalistas, perguntou a um dos pesquisadores, Raoni Rajão, por que ele achava que a carta estava atraindo tanta atenção:
A mensagem é muito direta: se o governo não prestar atenção às suas políticas ambientais e à sua governança em relação às alterações no solo e ao desmatamento, vai gastar todo o seu limite de emissão de carbono e não terá como desenvolver o país. E será muito difícil conseguir cumprir seus compromissos com o Acordo do Clima de Paris. E tudo isso terá um alto custo econômico. Esta mensagem foi bem captada e chegou ao público.
Com as eleições gerais marcadas para outubro, a política eleitoral atualmente está dominando as mídias do Brasil. Assim, o Observatório do Código Florestal perguntou a Raoni Rajão se essa carta da Nature Climate Change poderia afetar o resultado. Ele respondeu:
É muito difícil saber se conseguiremos influenciar as eleições. No momento, o que vemos é que, com exceção de um ou dois candidatos, a questão do meio ambiente é praticamente invisível no debate eleitoral. Se pelo menos conseguirmos passar a mensagem dos custos das emissões de carbono e das opções de desenvolvimento no debate, teremos conseguido muito.
E quem pagará esse custo se o Brasil não cumprir seus compromissos com o Acordo de Paris? Raoni Rajão respondeu:
Todos pagarão a conta porque não conseguiremos viver em um mundo com um aquecimento global menor do que dois graus a mais … os níveis do mar vão subir e teremos eventos climáticos extremos e desastres. E isso prejudicará a agricultura, porque os modelos climáticos mostram que estados como o Mato Grosso e até mesmo o Matopiba, região que inclui quatro estados do Cerrado (MA, TO, PI, BA), que tem duas safras por ano, com soja e outra safra menor, como o milho, não será capaz de manter isso, porque o período de seca se tornará mais longo, enquanto a estação chuvosa será mais curta.
O que o estudo mostrou foi que, se o Brasil exceder suas metas de redução de carbono, ou se outros países o fizerem, isso terá um custo e um custo muito alto … Se isso acontecer, é provável que o Brasil seja responsabilizado por suas ações isso e afetará as relações com outros países e as exportações.
O Brasil é atualmente o sétimo maior emissor mundial de gases de efeito estufa. Em Paris, comprometeu-se a cortar as emissões, reduzindo significativamente o desmatamento na Amazônia e em outros lugares. No entanto, dizem os dez cientistas: “O abandono das políticas de controle do desmatamento [pelo atual governo] e o apoio político às práticas agrícolas predatórias tornam impossível atingir as metas compatíveis com a contribuição do Brasil para um mundo de 2 ° Celsius”.