Como viajar com ética:
Como viajar com ética:
Uma entrevista com Jeff Greenwald, escritor e perito responsável de turismo
Rhett Butler, mongabay.com
29/2/2008
Ecoturismo é coisa quente. Empresas de turismo no mundo inteiro estão
colocando etiquetas eco-afáveis nas suas excursões e hotéis
para atrair visitantes de convicções verdes. Infelizmente alguns
"ecoturismos" não são muito bons para o meio ambiente
ou a população local. Estas voltas ao mundo eco-turísticos
de três semanas com avião particular por apenas US $ 42.950 gerará
uma grande quantidade de gases de efeito de estufa enquanto você está
voando entre alojamentos de luxo que importam alimentos e pessoal de outros
lugares. Igualmente aquelas esculturas de madeira compradas em centros turísticos
podem não originar de artesãos indígenas, mas de uma fábrica
transformando madeiras duras de espécies em extinção da
floresta tropical em lembranças turísticas de consumo. Âncoras
pesadas caindo sobre recifes não são boas nem para ecossistema
dos recifes de coral nem para a sustentabilidade da indústria turística
local. Então, o que é que um verdadeiro "ecotourista"
deve fazer? Será que é realmente possível viajar sem atropelar
a cultura e tradição e sem sujar mais o meio ambiente?
Jeff Greenwald numa atribuição em Sri Lanka, Por Dwayne |
O escritor Jeff Greenwald diz que é possível. Greenwald, que
escreveu o primeiro blog internacional em 1993/1994, já publicou vários
livros (listados embaixo) e escreveu para o New York Times Magazine, National
Geographic Adventure, Exterior, Salon.com. Ele é diretor executivo do Ethical Traveler (ethicaltraveler.org),
uma comunidade global dedicada a explorar o "potencial embaixadorial"
de viagens mundiais.
Greenwald recebeu e respondeu gentilmente algumas perguntas de mongabay.com
sobre a sua filosofia para viagens éticas, bem como sobre suas inspirações
como escritor.
Mongabay: Qual é o seu lugar favorito e porquê?
Greenwald: O meu lugar predileto – fora da área da baía
de São Francisco – teria que ser Nepal. Foi o primeiro lugar que eu realmente
fiquei muito ligado. Mudando para Kathmandu, em 1979, foi a primeira vez que
eu vivia em outro país, estudei sua cultura e aprendí sua língua.
Estive voltando muitas vezes durante os últimos 27 anos.
Mongabay: Como você se tornou um escritor de viagens?
Greenwald: Bom, eu não sou estritamente um escritor de viagens.
Eu escrevo bastante sobre ciências e meio ambiente, e também escrevo
sobre política e cultura popular. Como adolescente fui sempre profundamente
inspirado por filmes sobre lugares exóticos e distantes – filmes como Lawrence
da Arábia, e 2001: Uma odisseia no espaço. Eles me encheram com
uma vontade de procurar lugares remotos.
Mongabay: Como isso funciona? Você inventa uma história
primeiro e depois viaja, ou vice-versa?
Greenwald: Neste ponto da minha carreira funciona das duas maneiras.
Às vezes eu vou arremessar uma história que me interessa, em outros
momentos algo virá através de mesa de um editor que se parece
com um "história para Jeff ", e ele ou ela vai me dar uma chamada.
Mongabay: Do you have any advice for aspiring travel writers? Você
tem algum conselho para os aspirantes de escritor de viagens?
Buddha in Nepal. Photo by Jeff Greenwald
Photo taken by Jeff Greenwald during the Holi festival in Jaisalmer, Rajasthan, |
Greenwald: Você não necessariamente tem que ir para a escola
com a intenção de ser um escritor. Seria enganoso pensar que qualquer
pessoa pode ser um escritor. É como dizer que qualquer um pode ser psicólogo
Jungiano, ou um pianista de jazz. Algumas pessoas têm inclinação
para o trabalho que realizam. Se você é criativo, está disposto
a gastar seu tempo, e pode aceitar a rejeição que, muitas vezes,
vem com o serviço, poderá ser cortado de ser um escritor.
É melhor começar de escrever para os mais curtos, "início
de livro" seções de revistas. Para escrever de viagens, é
importante perceber, que praticamente todos os destinos da terra já foram
cobertos – de modo que você precisa desenvolver seu próprio ângulo
num destino. Um exemplo que eu gosto de mencionar nas minhas oficinas é
um amigo que é um bombeiro. Quando ele viaja, ele frequentemente visita
prédios locais de bombeiros, e então escreve sobre o seu encontro.
Tenho um outro amigo, Elliot Hester, que escreve sobre suas aventuras como um
comissário de bordo africano americano.
Nestes dias poucos editores considerarão uma história geral
sobre Madrid, a menos que você seja um escritor conhecido e comercializável.
Mas, se você é um fã de vitrais, e escreve um artigo sobre
os vitrais das catedrais de Madrid, aí a história pode ser diferente.
Mongabay: Como pode se tornar um viajante mais ético?
Dancers at a kava ceremony in 2006 in the village of Viani on Vanua Levu |
Greenwald: Primeiro aprenda sobre o lugar para qual você está
indo. Faça sua pesquisa – a Internet é um recurso maravilhoso
para isso. Compreender os costumes e as tradições locais. Aprenda
algumas palavras do idioma local. Mais importante ainda, perceba que as pessoas
no local que você visita são seres humanos como você. Eles
não são objetos numa vitrine em um museu. Trate as pessoas como
você gostaria de ser tratado.
Uma das primeiras coisas que você pode fazer para se tornar uma viajante
mais ético, é de compensar as emissões de carbono do seu
voo. Jatos queimam toneladas de combustível e produzem enormes quantidades
de dióxido de carbono. Pelo simples fato de viajar, você está
contribuindo para o problema. Por que não fazer parte da solução?
Há várias organizações sem fins lucrativos que oferecem
certificados de compensação de carbono, e plantam árvores
para compensar suas emissões de carbono cálculadas.
Mongabay: Onde estão os melhores lugares que um viajante ético
deve visitar?
Greenwald: O meu conselho é: que verifique na nossa lista dos
13 destinos top de viagens na website "Ethical Traveler". Uma maneira
de realmente apoiar esses países – lugares que estão a fazer as
coisas direito, ou pelo menos tentam – é de visitá-los. Viajando
para estes países, coloca dinheiro nas mãos da população
local e ajuda a incentivar o país a proteger o seu meio ambiente, a preservar
os hábitats naturais e respeitar os direitos humanos.
Mongabay: Será melhor para viajantes éticos de evitar
lugares como a Birmânia (Myanmar), onde existem sérias dúvidas
referentes as conexões de governo com operações de turismo?
Ou é melhor engajamento?
Photo of Jeff Greenwald on assignment in Koh Chang National Park, Thailand,
by Sashi Braga
Greenwald: Falando de lugares como a Birmânia, Cuba, e agora
Islândia , você enfrenta duas perguntas: Quais são as éticas
de visitar um país onde o governo viola os direitos humanos, e como você
pode viajar para esses sem beneficiar o governo e apoiar a opressão humana
ou degradação ambiental. A chave para viajar nesses lugares é
intenção e conscientização. Precisa-se ter a intenção
de aprender mais, e estar atentamente ciente para onde seu dinheiro está
indo.
Na Birmânia, em particular, penso que é perfeitamente possível
de viajar éticamente, mas apenas como um indivíduo: apoiando pousadas,
restaurantes e artesãos locais. É uma história diferente
se você estiver viajando em um grupo. Nesse caso, você provavelmente
pagará taxas do governo, ficará em hotéis multinacionais,
usando o governo e as companhias aéreas e serviços.
Mongabay: O senhor menciona Islândia, que acabou de retomar
a pesca comercial de baleias-fin ameaçadas. O senhor acha que haverá
uma redução de turismo por causa desta decisão?
Greenwald: Com certeza. Já foi, e haverá mais; pesquise
“Iceland tourism boycott” (Boicote de Turismo para Islãndia) na Internet
para mais informações. A franca verdade é que não
há desculpas para matar um mamífero inteligente, altamente social,
e muito menos uma espécie ameaçada de extinção.
Direitos indígenas não são um argumento válido neste
caso. Todo o tipo de práticas bárbaras indígenas – desde
a mutilação genital feminina até a caça de tigre
– foram proibidos no século passado. A mesma ética deve-se realizar
para pesca de baleia.
Mongabay: Quando será fácil para os viajantes de determinar
quais são as suas verdadeiras opções se tratando de ecoturismo?
Parece haver uma falta de conhecimento geral sobre uma norma única para
certificar se um hotel ou uma pousada apresentam critérios satisfatórios
de "ecoturismo" ?
The Golden-headed Langur or Cat Ba Langur (Trachypithecus poliocephalus),
endemic to the island of Cat Ba in North Vietnam. Photo courtesy of the
Seacology Foundation.
Greenwald: Não existem hoje ainda sistemas de certificação
de credibilidade universal para viagens, embora normas "verdes" existem
para hotéis. O problema é que, para ter responsabilidade, seria
necessário que uma organização envie representantes para
verificar todos esses lugares, o que é proibitivamente caro. Sem esse recurso,
é fundamental que nós façamos a nossa própria investigação.
Vasculhar a internet por informações positivas ou negativas sobre
as operadoras de turismo e suas facilidades. E não tenha medo de fazer
perguntas como: "Você compra suprimentos de mercados locais?"
"Quem é o dono da sua empresa?" "O que você faz com
o lixo?"
Mongabay: Em alguns lugares evidentemente os preços foram
aumentados na expectativa de que os visitantes vão negociar, onde em
outras áreas itens turísticos de artesanato são tão
baratos que parece errado de pechinchar. Qual é a forma de barganha ética?
Greenwald: Um viajante ético vai negociar com bastante respeito
pelo vendedor. Umas poucas rupias de uma forma ou de outra não vão
arruinar você. Ambas as partes devem saír da transação
satisfeitos.
Mongabay: Qual é a melhor maneira de descobrir os tabus locais?
Greenwald: O mundo de hoje é muito diferente de 10 anos atrás.
A Internet mudou tudo. Agora é fácil, gasta-se apenas alguns minutos
on-line para aprender mais sobre o que você precisa saber sobre tabus locais
em praticamente qualquer lugar do mundo. A maioria dos tabus é de bom senso,
como é óbvio; como por exemplo respeitar as imagens de Buda, ou
terminar a comida no seu prato. É uma tarefa de casa, mas a informação
está disponível facilmente. Recentemente procurei no Google Taboos
de Viagens na Uganda – 44.700 informações. Tailândia – 118.000.
França? 320.000.
Mongabay: Qual é a melhor coisa de dar a uma comunidade vivendo
ao redor de um hotel ou pousada , especialmente nos países em desenvolvimento?
Greenwald: Se você tem vinculos fortes com a comunidade, é
uma boa idéia de perguntar o que eles precisam. Talvez eles possam utilizar
livros para sua biblioteca, ou peças para suas máquinas de costura.
Ajuda poderia ser dada a um orfanato local, ou a uma determinada família.
Quando você voltar para casa, levante algum dinheiro contando par seus amigos
o que você gostaria de fazer, ou através do seu blog. Assim que tiver
o dinheiro, enviá-o para um pessoa de confiança, previamente selecionada,
e que será responsável pela distribuição correta dos
fundos.
Alternativamente, você pode descobrir quais organizações
já estão fazendo serviço na comunidade, e contribuir para
os esforços deles.
Mongabay: As pessoas muitas vezes perguntam "Que tipo de presentes
devo levar para as crianças, em um lugar longínquo?" Não
é problemático dar presentes ou dinheiro diretamente para as crianças?
Como isso deve ser feito?
The photo was taken in January, 2005 ii Arugam Bay,
eastern Sri Lanka, after the deadly tsunami
Greenwald: Estou firmemente convicto de que nunca se deve dar presentes
diretamente para as crianças em países em desenvolvimento. Se
você tem formado um vínculo com uma criança, ou com um grupo
de crianças, dê os presentes para os pais, professores ou líderes
comunitários. Isso é o lugar onde elas devem pedir presentes e
recompensas, não de visitantes de curto prazo e de turistas. Doces são
duplamente ruim, pois eles apresentam também uma questão de saúde
dental. Entregando presentes para as crianças, enquanto escalando é
especialmente desaconselhável, uma vez que está incentivando as
crianças de pedir esmola e representa um impacto para futuros visitantes.
Muitas rotas no Nepal e no Peru, por exemplo, foram transformadas em trilhas
virtuais de truque-ou-tratamento.
Em vez de distribuir presentinhos, pode-se levar mapas, ou imagens da própria
família ou da cidade natal para mostrar. Binóculos e prismas também
são fascinantes. Há muitas maneiras de interagir com crianças
sem comprar sua boa vontade. Dê uma olhada em meu artigo, Coping with Begging
on Third World (arcar com mendigos em trilhas no terceiro mundo) para mais
detalhes.
Mongabay: Você pode contar de uma das suas maiores experiências
impressionantes de viagens?
Greenwald: Um dos mais memoráveis episódios em minhas
viagens ocorreu em agosto de 1999, no Irão. Um pequeno grupo de americanos
foi visitar o país para observar o eclipse total do sol.
Na tarde do evento, encontrei-me em Esfahan na enorme praça Emam Khomeini:
um solitário americano entre uns 50.000 iranianos. Pouco antes da totalidade,
uma pequena, mas barulhenta anti-EUA demonstração estorou cerca
de 50 metros de distância de mim, claramente em benefício da imprensa
internacional. Acenderam bandeiras americanas, e acenaram punhos no ar. As equipes
europeias de notícias correram para ângulos melhores de câmera.
Ao mesmo tempo, algo inesperado aconteceu na minha área imediata. Todos
os iranianos nas proximidades- casais de meia-idade, estudantes fazendo piquenique,
e até escolares – levantaram e formaram um círculo ao meu redor.
Uma criança segurou meu dedo; um rapaz colocou a mão no meu ombro.
Um homem mais velho, com barba espessa e turbante preto, encostou em mim com
uma expressão de disgosto. "Você vê essas pessoas?"
Ele apontou para os manifestantes. "Eles deveriam obter um emprego."
Isso realmente me mostrou que as pessoas em todos os lugares, mesmo nos lugares
que consideramos perigosos, são bastante semelhantes. E isso demonstrou
que bondade pode ser encontrada em quase qualquer lugar e em qualquer situação.