Em agosto, o colaborador da Mongabay Gustavo Faleiros e o produtor Márcio Isensee e Sá visitaram as florestas biodiversas singulares localizadas na divisa entre as bacias dos rios Purus e Madeira, onde um plano com décadas de atraso para melhorar a rodovia BR-319 está ganhando força, trazendo transformações ambientais.
O vídeo introdutório e a história apresentados aqui, juntamente com uma série de reportagens nas próximas semanas, mostram como as melhorias nas estradas federais estão trazendo pessoas de fora, empresários e criminosos para a região — todos ansiosos para lucrar com a redução da floresta por meio de operações madeireiras, criação de gado e outros negócios.
Neste primeiro artigo, traçamos o perfil de Realidade, uma pequena aldeia na Amazônia brasileira onde madeireiros, empresários e grileiros ainda estão nos estágios iniciais de ocupação.
Embora o desmatamento aqui ainda não seja tão rápido ou sério, como no Pará, no Mato Grosso e em outros estados, as taxas de crescimento dos negócios estão entre as mais altas do Brasil. Com cientistas alertando que o desmatamento da Amazônia pode piorar a mudança climática, trazendo secas extremas e uma mudança da floresta tropical para a savana na região, os analistas pedem que a vasta ecorregião da floresta úmida de Purus-Madeira seja conservada.
Quando chegamos na vila de Realidade, no Amazonas, na bacia do rio Madeira, fomos recebidos com suspeita imediata. Nossa primeira parada foi na serraria de Adilson Balbinotti, um homem agitado em seus 50 anos. Quando estacionamos nossa caminhonete, ele abaixou a cabeça na janela do passageiro e avistou nossas câmeras, unidades de GPS e celulares, que exibiam mapas observando os mais recentes alertas de desmatamento.
Explicamos que éramos jornalistas e ele rapidamente nos garantiu que não tinha problema em falar conosco sobre seus negócios. “Tudo o que fazemos aqui é legal”, garantiu.
Balbinotti é um dos muitos empresários do sul do Brasil chegando na Amazônia. Ele é conhecido como Gauchinho, um apelido que se refere ao seu estado de origem, o Rio Grande do Sul; uma fonte do sul de madeireiros, operadores de serraria, pecuaristas e fazendeiros desde a primeira onda de migração da Amazônia nos anos 70.
Empresários como Balbinotti começaram a chegar em Realidade há cerca de 10 anos. Eles foram atraídos pela esperança de novas oportunidades econômicas trazidas por uma promessa do governo de pavimentar e melhorar a BR-319, uma estrada federal que atravessa a vila.