Um vídeo, mostrando operações ilegais de mineração de ouro que transformaram parte da Amazônia em uma paisagem lunar, tornou-se viral no Youtube depois que um conhecido jornalista de rádio e TV chamou atenção para o caso.
Na semana passada, o jornalista e político peruano Güido Lombardi indicou a seus espectadores um vídeo produzido com uma câmera wing a bordo do Carnegie Airborne Observatory (CAO), um avião usado por pesquisadores para realizar monitoramento e análise avançados das florestas do Peru. O vídeo rapidamente atingiu mais de 60.000 visualizações no Youtube.
A atenção gerada pela transmissão é importante porque a questão da mineração de ouro na Amazônia peruana, apesar de seu crescente impacto, é pouco conhecida.
Voz de Güido Lombardi detalhando o dano causado causado pela mineração de ouro na região de Madre de Dios, no sudeste do Peru (em espanhol).
De acordo com Greg Asner, o cientista do Departamento de Ecologia Global do Carnegie Institute of Science que conduziu o desenvolvimento do CAO, a mineração de ouro afeta mais de 50.000 hectares só na parte sul da região de Madre de Dios. Um estudo ainda a ser publicado, de autoria conjunta de membros da equipe de Asner e pesquisadores peruanos, mostrará que a taxa de expansão quase triplicou nos últimos anos, pulando de 2.166 hectares por ano até 2008 para 6.145 de lá para .
Embora os números citados possam parecer abstratos, a extensão e a totalidade da devastação são impressionantes. Vastas áreas de floresta tropical rica em vida selvagem foram aniquiladas, enquanto córregos de águas claras transformaram-se em fossas lamacentas. Cursos d’água que passam por áreas de mineração tornaram-se vermelho-sangue, carregando toxinas e metais pesados, como mercúrio, para cidades e vilas situadas ao longo de seu curso. Praticamente toda essa atividade mineradora é ilegal.
Captura de tela de vídeo do CAO sobrevoando minas de ouro ilegais no Peru
Dados os danos crescentes causados pela mineração ilegal — incluindo problemas sociais como conflitos violentos, crime, condições precárias de trabalho, tráfico humano e prostituição —, compreender e controlar essa atividade é prioridade para o Ministério do Ambiente peruano. A agência, mais conhecida por sua sigla, MINAM, fez uma parceria com a equipe de Asner para monitorar a atividade mineradora quase em tempo real.
“Os sensores do CAO proveem informação detalhada e praticamente em tempo real sobre os padrões de degradação específicos da atividade de mineração de ouro”, disse ao mongabay.com Ernesto Raez, funcionário do alto escalão do MINAM. “Estamos muito interessados na capacidade da tecnologia a bordo do CAO de detectar focos de mineração ilegal de ouro nos sopés do leste dos Andes (onde são muito menos visíveis e mais fáceis de esconder), bem como traços de resíduos químicos da mineração de ouro na água, especialmente a presença de metais pesados.”
Raez diz que a mineração ilegal de ouro também está afetando áreas elevadas na bacia do lago Titicaca.
“A dimensão da mineração ilegal na bacia do Titicaca, particularmente nas cabeceiras do rio Ramis, é ainda mais chocante do que na floresta (se é que isso é possível), envolvendo intensa destruição de áreas pantanosas nas terras altas com uso de maquinaria pesada. São operações gigantescas. Foi encontrado arsênico no lago Titicaca.”
Ernesto Raez descrevendo o impacto da mineração de ouro (em espanhol).
O governo peruano ainda não tem uma estimativa da extensão das minas de ouro no país, mas Raez estima que a mineração informal chegue a envolver 150.000 pessoas no Peru, o que sugere uma atividade bastante arraigada, gerando uma situação muito difícil de resolver.
Asner diz que, qualquer que seja o número definitivo, está claro que a mineração de ouro está muito mais enraizada do que se estimava.
“Esses números são muito mais altos do que os de relatórios anteriores, tendo sido completamente validados por meio de uma combinação entre CLASlite [o sistema de monitoramento de desmatamento e degradação florestal por satélite usado extensivamente pelo MINAM], CAO e pesquisas de campo não oficiais”, disse Asner ao mongabay.com. “Trabalhar nesse problema com Ernesto e o MINAM é prioridade para a equipe do CAO”.