As emissões de carbono da usina serão maiores do que as de todo o Mianmar e ameaçarão meios de subsistência locais, afirmam grupos ambientalistas
A Indonésia irá em frente com a construção do que deve ser sua maior usina de energia à carvão, em Batang, Java Central, no próximo ano, declarou um alto funcionário do governo, minimizando a oposição de grupos ambientais e da comunidade local.
Desenvolvedores têm lutado para adquirir os cerca de 200 hectares de terra necessários para a planejada usina PLTU Batang, que teria dois gigawatts (GW) de capacidade. Residentes de cinco vilas protestaram contra o projeto, e alguns se recusaram a deixar suas terras com medo de possíveis danos ambientais à área.
Grupos ambientalistas também se opõem à usina, dizendo que ela se sobreporá a uma área marinha protegida e vai contra ao compromisso do presidente Susilo Bambang Yudhoyono de reduzir as emissões de carbono.
“Concluímos que o problema da terra é apenas uma pequena questão, então o avanço vai ocorrer em 2014”, afirmou o ministro da economia Hatta Rajasa em Jacarta em 17 de maio, como citado pelo merdeka.com.
Entretanto, residentes locais e organizações de assistência jurídica declaram que o processo de aquisição de terras foi marcado por intimidação e abusos de direitos humanos, e que a PT Bhimasena Power Indonesia (BPI), a companhia que realizará o projeto, ainda está longe de garantir a terra necessária, apenas de declarações do governo em contrário.
Protest against planned coal plant in Java. Photo by: Greenpeace/Indonesia.
“Centenas de milhares de residentes de cinco vilas ainda estão comprometidos em se opor à PLTU Batang. Mantemos nossa terra ancestral e não queremos que haja destruição ambiental em nossa área. E reiteramos que 70% de nossa terra ainda pertence a nós”, falou Roidhi, residente de Karanggenang, uma das vilas afetadas pelo projeto, ao Mongabay-Indonésia.
Oficiais do governo forneceram vários números conflitantes sobre a quantidade de terra necessária para o projeto e a porcentagem que já foi adquirida. Hatta comentou que o projeto requererá uma área de 192 hectares, e que a companhia já garantiu 187 hectares. No entanto, Lucy Eko Wuryanto, vice-ministra para infraestrutura de coordenação e planejamento regional, colocou que a companhia tinha adquirido 186 dos 226 hectares que o projeto requererá.
“Quando você observa os dados mencionados por Hatta Rajasa… Lucy Eko Wuryanto deixa muito claro que os dados mencionados são uma mera afirmação. Cada pessoa está reportando dados diferentes”, disse Wahyu Nandang Herawan, membro da equipe da Lembaga Bantuan Hukum (LBH) Semarang, organização de assistência jurídica que tem trabalhado com a comunidade.
“Essa é uma estratégia suja que estão usando para parecer que eles já adquiriram grandes quantidades de terra e esperam que os residentes que ainda não venderam suas terras sejam tentados a vender”.
No comunicado à imprensa enviado ao Mongabay-Indonésia, a LBH Semarang também afirmou que os moradores da área continuaram a enfrentar intimidação de bandidos, assim como da polícia, e de membros do exercito, que estão incitando os moradores a venderem suas terras.
O Greenpeace Indonésia também se manifestou contra a usina. Em um comunicado à imprensa em três de abril, o grupo disse que a usina emitiria 10,8 milhões de toneladas de carbono para a atmosfera, mais do que todas as emissões de carbono do Mianmar em 2009. A usina também liberará 226 kg de mercúrio a cada ano, afirmou o grupo, e se sobreporá à área de conservação marinha Ujungnegoro-Roban, poluindo águas ricas em pesca e ameaçando os meios de subsistência dos pescadores locais.
“Essa atitude mostra a relutância do governo de parar o vício do país no carvao, que é muito grande. A persistência de Hatta Rajasa em desenvolver usinas de energia intensivas em carbono contradiz o compromisso do presidente SBY [Susilo bambang Yudhoyono] de reduzir as emissões de gases do efeito estufa na Indonésia em 26% no ano de 2020”, falou o ativista de clima e energia do Greenpeace-Indonésia Arif Fiyanto ao Mongabay-Indonésia.
Uma vez terminada, a PLTU Batang deve ser uma das maiores usinas de carvão no sudeste da Ásia. A BPI, um empreendimento conjunto da J-Power Electric Power Development Co. e Itochu Corporation do Japão e da mineradora indonésia Adaro Energy, construirá a usina de US$ 4 milhões.