Novas estratégias para a Conservação de Florestas Tropicais
Novas estratégias para a Conservação de Florestas Tropicais
Rhett Butler e William F. Laurance
Traduzido por Marcela V.M. Mendes
31 de Julho, 2008
O deslocamento da pobreza conduzida pelo desflorestamento conduzido pelas empresas têm implicações na conservação
Em um intervalo de apenas 1-2 décadas, a natureza da destruição da floresta tropical mudou. Ao invés de ser dominado por agricultores rurais, o desflorestamento agora é substancialmente conduzido pelas maiores indústrias e globalização economica, com operações de madeira, e desenvolvimento de gás e óleo, plantações em larga escala, e plantações exóticas de árovores sendo as causas mais frequentes de perda florestal. Embora instigando sérios desafios, tais mudanças estão também criando importantes oportunidades para a conservação da floresta. Aqui discutimos que, apontando cada vez mais corporações estratégicas e grupos comerciais com campanhas de pressão pública, interesses de conservação poderiam ter maior influência no destino das florestas tropicais.
As florestas tropicais são os ecossistemas mais ricos biologicamente da Terra e desempenha papel vital na hidrologia regional, estoque de carbono, e clima global [1, 2]. Contudo a destruição das florestas tropicais continua em ritmo acelerado, com alguns 13 milhões de hectares de floresta desmatada ou dizimada a cada ano [3]. Enquanto essa taxa não tem mudado notadamente nas últimas décadas [3], os fundamentais condutores do desflorestamento mudam do desflorestamento causado pela subsistência nos anos 60 até os 80, para o desflorestamento causado pelas industrias mais recentemente [4-6]. Essa tendência, afirmamos, tem implicações na conservação da floresta.
Dos anos 60 aos anos 80, o desflorestamento tropical foi largamente promovido pelas políticas do governo para o desenvolvimento rural, incluindo empréstimos agrícolas, incentivos de impostos, e construção de estradas, juntamente com rápido crescimento populacional em muitas nações desenvolvidas [4-6]. Essas iniciativas, especialmente evidente em países como o Brasil e a Indonesia, alertou um influxo dramático de colonos nas áreas da fronteira e frequentemente causou rápida destruição da floresta. A noção de que agricultores de pequena escala e cultivadores em deslocamento eram responsáveis pela perda florestal [7] conduziu a iniciativas de conservação, tais como Conservação Integrada e Projetos de Desenvolvimento (ICDPs), isso tentou ligar a conservação da natureza com o desenvolvimento rural sustentável [8]. Muitos, no entanto, não acreditam que os ICDPs falharam e muito por causa da fragilidade de seus projetos e implementações e porque os povos locais tipicamente usam os fundos do ICDP para amparar suas rendas, ao invés de substituir os benefícios que eles ganham explorando a natureza [9-13].
Mais recentemente, o impacto direto dos povos rurais nas florestas tropicais parece ter estabilizado e poderia até estar diminuindo em algumas áreas. Apesar de muitas nações tropicais ainda terem alto crescimento populacional, fortes tendências de urbanização em nações em desenvolvimento (exceto na África do Sub-Sahara) significa que as populações rurais estão crescendo mais devagar, e em algumas nações estão começando a declinar (Figura 1)[14, 15]. A popularidade de programas de colonização em fronteira em larga escala tem também diminuiram em varios países [5, 16, 17]. Se tais tendências continuarem, eles poderiam aliviar algumas pressões sobre as florestas provenientes da agricultura em pequena escala, caça e coleta de lenha [18]. Ao mesmo tempo, mercados finenceiros globalizados e o boom das matérias primas pelo mundo inteiro estão criando um ambiente altamente atrativo para o setor privado [5, 6]. Como resultado, a extração de madeira, mineiração, desenvolvimento do óleo e gás, e especialmente agricultura em larga escala estão cada vez mais emergindo como causas dominantes da destruição das florestas tropicais [6, 19-22]. Na Amazônia Brasileira, no momento, criação de gado em larga escala estourou com o número de gado triplicando (de 22 para 74 milhões de cabeças) desde 1990 [23], enquanto a extração de madeira industrial e de soja tem também crescido dramaticamente [24, 25]. A afluente demanda por grãos e óleos comestíveis, conduzida pela sede global por biocombustiveiis e pelo aumento dos padrões de vida nos países em desenvolvimento, está ajudando a impulsionar essa tendência [19, 26, 27].
Oil palm plantation and logged-over forest in Borneo. |
Apesar de nós e outros estarmos alarmados pelo aumento do desflorestamento em escala industrial (Figure 2), discutimos aqui que isso também sinaliza oportunidades emergentes para a proteção e gerenciamento da floresta. Ao invés de tentar influenciar centenas de milhares de colonos florestais nos trópicos— um desafio desanimador, os melhores proponentes de conservação podem agora focar sua atenção em um numero bem menor de corporações que exploram recursos. Muitos desses são ou firmas multinationais ou companhias domésticas procurando acesso para os mercados internacionais [6, 19-22], que os compele a exibir alguma sensibilidade á crescente preocupação dos consumidores e acionistas globais. Quando eles erram, tais corporações podem ficar vulneráveis a ataques de sua imagem pública.
Confrontando as Corporações
Hoje, poucas corporações podem facilmente ignorar o meio ambiente. Grupos de conservação estão aprendendo a atacar as corporações transgressoras, mobilizando apoio via boicote de consumidores e campanhas de consciência pública. Por exemplo, seguindo uma intensa cruzada pública, o Greenpeace recentemente pressionou as maiores indústrias de soja da Amazônia a implementar uma moratória sob o processamento da soja, um mecanismo de rastreio para assegurar que suas colheitas estão vindo de produtores ambientalmente responsáveis [28]. Boicotes anteriores pela Rainforest Action Network (RAN) apontou algumas das maiores cadeias de varejo dos Estados Unidos, incluindo a Home Depot e Lowe’s, para alterar suas políticas de compras a favor de produtos de madeira mais sustentáveis [29]. Sob ameaças de publicidade negativa, a RAN convenceu até algumas das maiores firmas financeiras do mundo, incluindo a Goldman Sachs, JP Morgan Chase, Citigroup Inc., e Bank of America Corp, para modificar suas práticas de empréstimos e financiamento para projetos silvicolas [30].
Soy farms in Bolivia |
Tendências recentes estão tornando mais fácil para os grupos de conservação equilibrar a exploração dos recursos pela industria. Por causa das economias de escala, as corporações multinacionais frequentemente acham mais eficiente concentrar suas atividades apenas em poucos grandes países, portanto reduzindo o número de áreas geográficas que os grupos de conservação devem monitorar ativamente. Além do mais, muitas industrias, motivados pelo medo da publicidade negativa, estão estabelecendo coalisões que clamam promover sustentabilidade ambiental entre seus membros. Exemplos de tais grupos industriais incluem Aliança da Terra para os criadores de gado da Amazônia [31], a Roundtable on Sustainable Palm Oil no Sudeste da Ásia, e o Conselho de Supervisão Florestal para a idustria global de madeira. Portanto, ao invés de ter como alvo centenas de diferentes corporações, os conservacionistas podem ter um grande impacto pressionando apenas alguns pontos industriais.
As corporações também estão sendo influenciadas tanto pelos consumidores habituais quanto pelos consumidores ecologicamente conscientes. Firmas que compram dentro da sustentabilidade desfrutam da crescente preferência do consumidor e preços mais altos para seus produtos ecologicamente amigos. De acordo com fontes industriais [32], por exemplo, produtos ‘verde’ de madeira—aquelas produzidas de maneira ambientalmente sustentável—foi responsável por $7.4 bilhões de vendas nos Estados Unidos em 2005, e são esperadas crescerem em $38 bilhoes em 2010. Tais recompensas poderiama ter maiores vantagens com as corporações multinacionais, que devem tentar manter seus consumidores internacionais e acionistas felizes, do que com as firmas locais operando somente nos países em desenvolvimento [33].
Novos Desafios
Mining road in Suriname. |
O crescente impacto das companhias que causam desflorestamento também tem sérias desvantagens. A industrialização pode acelerar a destruição florestal, com florestas que já foram seriamente desmatadas por plantadores em pequena escala agora sendo rapidamente varrida pelos now being quickly overrun by bulldozers. Além do mais, atividades industriais tais como extração de madeira, mineração e desenvolvimento de óleo e gás promovem o desflorestamento não apenas diretamente, mas também indiretamente, criando poderoso ímpeto ecônomico para construção de estradas florestais. Uma vez construidas, podem levar a desconntroladas invasões por colonos, caçadores, e especuladores de terra [20, 21, 24].
Outro grande problema é que nem todos os mercados respondem a prioridades ambientais. Em muitas nações em desenvolvimento, as preocupações estão sendo inundadas por novas demandas de uma crecente classe média. Por exemplo, consumidores Asiáticos tem mostrado até agora pouco interesse em produtos eco-certificados de madeira [34], diferente dos consumidores da América do Norte e especialmente Europa. Além dos mais, conforme os preços por matérias brutas sobem, uma procura demasiada por recursos naturais poderia surgir, rendendoi a sustentabilidade ambiental uma mera reflexão tardia de encontro ás crescentes necessidades.
Por fim, nem mesmo a abundância de consumidores eco-conscientes não podem garantir bom comportamento das corporações (see Box 1). Muitas corporações tem sido acusadas de ‘enganar o consumidor—produzindo produtos ecologicos que na verdade tem pouco beneficio ambiental. Na industria madeireira tropical, por exemplo, alguns duvidosos grupos patrocinados pela industria tentaram competir com corpos de eco-certificação legítimos como o Conselho de Supervisão Florestal [35]. Rastrear produtos da floresta até o consumidor final—via cadeias de intermediários, fábricas, e varejistas—pode também ser absurdamente difícil. Por exemplo, o Greenpeace [36] recentemente revelou que gigantes do ramo alimentício como a Nestlé, Procter & Gamble, e Unilever estavam usando plantações de palmeira de óleo em terras recentemente desflorestadas, apesar de assegurar o contrário na Mesa Redonda sobre Palmeira de Óleo Sustentável. Tais complicações dão vantagens aos trapaceiros e diminuem os beneficios para as corporações que fazem um esforço de boa fé em direção a sustentabilidade.
O Futuro
Gold mine in Peru. All ohotos by Rhett A. Butler |
Apesar de tais complicações, os conservacionistas devem aprender a lidar efetivamente e vigorosamente com as corporções causadoras do desflorestamento tropical. Tais causadores irão certamente aumentar no futuro devido a atividade industrial global que é esperada expandir em 300-600% até 2050, com muito desse crescimento em países em desenvolvimento [37]. Para a parte deles, um numero crescente de corporações estão percebendo que a sustentabilidade ambiental é simplesmente um bom negócio. Devido a essas tendências, vemos muita necessidade de diálogo e debate entre as interesses industriais, científicos e de conservação nos trópicos.
Deixando de lado a influência dos grupos ambientais, os impactos da industria irão também ser mediados pelas políticas governamentais e acordos internacionais, tais como a Convenção das Estruturas sobre a Mudança Climática e a Convenção sobre Diversidade Biológica. Por exemplo, muitos subsidios americanos para o etanol do milho estão atualmente criando distorções do mercado que promovem o desflorestamento na Amazonia [23], onde o comércio internacional de carbono poderia eventualmente diminuir a rápida destruição da floresta em alguns países [35, 36]. Porque tais politicas podem mudar rapidamente e ter implicações de grande envergadura, os conservacionistas ignoram-nas em seus perigos. A mudança depende de nós. Por um lado, a rápida globalização e plantio industrial, extração de madeira, mineiração e produção de biocombustivel estao emergindo como os condutores dominantes do desflorestamento tropical. Por outro lado, a crescente preocupação pública sobre a sustentabilidade ambiental está criando importantes novas oportunidades para a proteção da floresta. Tendo como alvo industrias estratégicas com campanhas de educação do consumidor, os interesses de conservação poderiam ganhar novas armas poderosas na batalha para diminuir os prejuizos da destruição da floresta.
Desafios para a eco-certificação
Nos trópicos, como em qualquer lugar, os esquemas de eco-certificação enfrentam grandes obstáculos. Até mesmo quando clientes são a favor de produtos amigos do meio ambiente a eco-certificação pode ser impedido pela corrupçao e governância fraca, medidas ineficientes para assegurar a sustentabilidade ambiental, e vazamento de produtos não certificados nos mercados.
Por exemplo, o Conselho de Supervisão da Floresta (FSC), frequentemente visto como padrãom ouro de certificação de produtos da madeira, tem sido pesadamente criticado por alguns grupos ambientais [40]. As críticas dizem que a certificação da FSC dos produtos de ‘fontes mistas’, tais como móveis derivados em parte de madeira certificada, fere a credibilidade. A certificação de madeira em esquemas duvidosos, tais como plantações de monocuultura em áreas antes florestadas, também tem prejudicado a etiqueta [40]. Ano passado uma pesquisa do The Wall Street Journal forçou o FSC a efetivamente revogar a certificação da Companhia Pulp & Paper sediada em Singapura na Ásia por causa de suas atividades prejudiciais ao meio ambiente na Ilha de Sumatra na Indonésia [41].
A corrupção e fraude também são preocupações. A colaboração com oficiais corruptos permite que algumas companhias certifiquem falsamente seus produtos, enquanto outras empresas reivindicaram pela certificação quando essas outras não. Um relatório recente sobre a extração ilegal de madeira no Sudeste da Ásia, por exemplo, revelou que pelo menos duas das maiores empresas de móveis estavam comercializando produtos como se fossem eco-cerificados quando não eram [42].
Outro desafio é avaliar apropriadamente as atividades das corporações internacionais de madeira. Os eco-certificadores tem sido acusados de se concentrar muito estreitamente nas operações madeireiras dentro do núcleo das áreas de conservação, ignorando as operações em outros locais [40]. Além disso, corporações de madeira frequentemente compram madeira de várias fontes e subcontratam para outras firmas, e pode ser bem dificil determinar se essas subsidiarias e parceiros estão envolvido na extração destrutiva [36].
Finalmente, alguns críticos argumentam que mesmo as operações eco-certificadas de madeira são raramente sustentável a longo prazo. Extração repetida em floresta de crescimento antigo pode reduzir os estoques de carbono e degradar o habitat, portanto ameaçando a biodiversidade [1]. E mais, as florestas de onde foram extraídas madeira são mais vulneráveis á dessecação, queimadas, e desflorestamento do que áreas não extraídas [24, 43].
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