O desflorestamento tropical é ‘uma das piores crises desde que nós saímos de nossas cavernas’
O desflorestamento tropical é ‘uma das piores crises desde que nós saimos de nossas cavernas’
Jeremy Hance, mongabay.com
Traduzido por Marcela V.M. Mendes
28 de Maio, 2008
Falando na Semana Silvicula da Ásia-Pacífico no Vietnã, orador principal Dr. Norman Myers disse: “Eu vou dar a vocês agora minha mensagem agora, esta é uma super crise que estamos enfrentando, é uma crise estarrecedora, é uma das piores crises desde que saímos de nossas cavernas há 10.000 anos atrás. Eu estou me referindo, claro à eliminação de florestas tropicais e de suas milhões de espécies.”
Dr. Myers continuou, afirmando que quando ele foi para escola ” através dos trópicos havia uma rica faixa verde brilhante denotando florestas tropicais” em seu atlas. “Eu posso te dizer que nós perdemos metade de todo aquela banda verde e a menos que começemos a fazer um melhor trabalho do que temos feito até agora, senão no tempo em que meus netos estiverem na escola eles terão atlas onde não verão uma faixa verde nos trópicos mas poderão ter de colorir seus atlas com um marrom sujo que mostra que uma vez ali havia verde que desapareceu. E o que havia antes lá, é a mais exuberante e colorida expressão de diversidade da natureza que já enfeitou a face desse planeta em milhoes de anos. Isso é o que está em jogo aqui.”
Plantação de palmeira de óleo confinando a floresta tropical.
Plantação de palmeira de óleo e floresta desmatada pela extração de madeira em Bornéo. |
O Dr. Norman Myers é um bem conhecido e renomado biólogo britânico. Atualmente, um professor de Oxford, Myers tem tido uma longa historia em apontar questões ambientais antes aceitas por outros cientistas, tais como a extinção massiva atual, pelo ritmo do desflorestamento tropical, e pelos subsideios perversos que vão contra ambos o meio ambiente e a economia. Alguns de seus livros incluem Os Novos Consumidores: A Influencia da Afluência no meio Ambiente e A Arca do Naufrágio: Uma nova visão sobre o Problema das Espécies em Extinção.
Ao olhar para as razões do desflorestamento atual, Myers apontou quatro grandes contribuidores em seu discurso. De acordo com suas estatísticas, 5 por cento do desflorestamento em 2005 foi devido A`fazendas de gado, 19 por cento devido às extrações pesadas de madeira, 22 por cento devido à crescente setor de plantações de palmeira de óleo, e 54 por cento devido à queima e corte para a agricultura.
Myers disse que a porcentagem devido às fazendas de gado foi um ponto brilhante, já que costumava ser um condutor maior do desflorestamento. Enquanto Myers afirmou sua aprovação da extração industrial nas florestas tropicais, ele advertiu que sua aprovação se estendia apenas àquelas operações que são “feitas de forma sustentável”. Considerando a palmeira de óleo, Myers argumentou que ele gostaria de ver produtos que contém palmeira de óleo refletirem o custo real de suas produções, i.e. levando em conta a perda de florestas no Sudeste da Ásia.
Desflorestamento em Madagascar. |
Mas o maior deslocamento no desflorestamento, de acordo com Myers, foi a agricultura de corte e queima. Myers afirmou que o corte e queima costumava ser empreendido pelos “plantadores de deslocamento”. Esses cultivadores desflorestavam pequenas áreas para subsistência e então se mudavam quando a riqueza do solo se esvaia em alguns anos. Myers chamou o cultivo de corta e queima de uma “forma de exploração da floresta tropical que tem sido inteiramente sustentável”. Os cultivadores do mundo foram contabilizados em 30 milhões. Mas agora, Myers disse que estamos vendo o que ele chama de “cultivador de deslocamento”. Eles são “o camponês nômade, que se encontra, digamos no sul do Brasil, que é um sem terra, sem trabalho, sem perspectivas de melhorar, sem janta na mesa, assim ele sente o desespero e pega uma machete, uma caixa de fósforos e ruma para a Amazonia onde ele põe fogo na floresta.” Existe um número estimado de 300 milhoes de cultivadores nomades no mundo todo, levando ao desflorestamento em uma escala massiva, que se aprofunda na floresta e não permite que uma floresta uma vez explorada se regenere.
Apesar de Myers ter reconhecido que muito tem sido feito pela conservação das florestas tropicais, ele sabe que nenhum esforço diminui a onda de destruição tropical. “Apesar de todo o dinheiro que colocamos na floresta tropical, e toda a ciencia e tecnologia que aplicamos nela, e toda a atenção pública que temos tido, e toda a ênfase governamental, nunca estivemos ficando tão ruim a cada ano como agora, e eu acredito que se continuarmos a operar dentro de nossa atual política mesmo que tivessemos cinco vezes a quantidade de dinheiro, e cinco vezes a compreensão científica, não seria ainda suficiente para evitar que as coisas desabem.”
Apesar da opressiva crise da natureza, Myers ainda tem esperança: “Ainda temos tempo, pouco tempo, para salvar as florestas que restam e todas suas espécies.”
A conferência onde Myers falou foi colocada pela Organização de Alimentos e Agricultura das Nações Unidas (FAO). A conferência de abril tinha um numero estimado de 600 habitantes de cerca de 50 países, incluindo oficiais florestais de 33 nações regionais.
Desflorestamento no Peru |
De acordo com Patrick Durst, um oficial florestal senior da FAO, a semana cobriu numerosos tópicos: mudança climática, povos indigenas, espécies invasivas, alívio da pobreza através das florestas, o programa REDD, extração ilegal de madeira e comércio, mercados, e pesquisa florestal. Em uma entrevista no website da FAO, Durst vê “mais e mais desejo de ligar o diálogo da silvicultura global com mecanismos regionais e ação que está acontecendo nas regiões, então estamos esperando que a Semana da Floresta tome um passo importante rumo a isso, povos trabalhando na região tem muita experiencia prática que queremos fomentar nesse diálogo global”.