Uma seca que acontece uma vez em cada cem anos teve pouco efeito negativo ou positivo sobre a floresta amazônica segundo um estudo financiado pela NASA e publicado no periódico Geophysical Research Letters.
“Não constatamos grandes diferenças no nível de verde destas florestas entre anos secos e não secos, o que indica que estas florestas podem vir a ser mais tolerantes à seca do que se pensava”, disse o principal autor do estudo Arindam Samanta da Universidade de Boston.
Empregando dados de satélite do MODIS da NASA o estudo mediu o verde da Amazônia ao longo da última década, incluindo 2005 quando a floresta passou por condições de seca que ocorrem aproximadamente apenas a cada cem anos.
“Este novo estudo traz certa clareza para a nossa obscura compreensão de como estas florestas, com a sua rica fonte de biodiversidade, se sairiam no futuro face à dupla pressão do desmatamento e das mudanças climáticas”, comentou outro autor Ranga Myneni da Universidade de Boston.
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O estudo demonstra resultados bem diferentes do relatório do IPCC de 2007 que declara que 40% da floresta amazônica estavam ameaçados pelas mudanças climáticas. Apesar do IPCC ter sido alvo de críticas pela afirmação, que cita um estudo da WWF, ecólogos tropicais proeminentes tem alegado que o IPCC estava enganado nas suas análises dadas as informações da época.
Thomas Lovejoy, presidente de biodiversidade do Centro Heinz para Ciência, Economia e Meio Ambiente de Washington, disse recentemente ao Terramerica que a floresta amazônica estava bem perto da gota d’ água.
Citando um relatório do Banco Mundial que considera os efeitos sinergéticos do desmatamento, mudanças climáticas e incêndios, Lovejoy disse que a gota d’ água “para a Amazônia é 20% de desmatamento”. Atualmente entre 17% e 18% da Amazônia foi perdida. A força deste estudo está no fato de não ter se concentrado em uma única ameaça, mas considerar uma combinação de impactos que atualmente cerca o ecossistema.
Outro especialista em florestas tropicais, Simon Lewis da Universidade de Leeds, disse a BBC no início do ano que “é muito sabido que na Amazônia, as florestas tropicais existem quando há mais de cerca de 1,5 metros de chuva ao ano, abaixo disso o sistema tende a virar uma savana.
Ele completou: “de fato, alguns dos principais modelos dos impactos futuros das mudanças climáticas demonstram uma mortalidade de mais de 40% das florestas da Amazônia devido às quedas projetadas das chuvas”.
Jose Marengo, cientista climático do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e membro do IPCC, discorda, alegando que “a maneira como o relatório da WWF calculou estes 40% foi totalmente errada, enquanto (os novos) cálculos são de longe mais confiáveis e corretos”.
O consenso ainda não foi alcançado sobre a questão. Outro estudo publicado na revista Science em 2007 dizia que na verdade as florestas se sairiam melhor em condições mais secas, pois receberiam mais luz solar com um céu sem nuvens. Entretanto, não foi possível reproduzir os resultados do estudo.
Dadas as opiniões divergentes, mais pesquisas podem ser necessárias antes de um consenso ser alcançado sobre como a Amazônia reagirá às mudanças climáticas, especialmente face a outras ameaças como o desmatamento.
Citação: Samanta, A., S. Ganguly, H. Hashimoto, S. Devadiga, E. Vermote, Y. Knyazikhin, R. R. Nemani, and R. B. Myneni (2010), Amazon forests did not green‐up during the 2005 drought, Geophys. Res. Lett., 37, L05401, doi:10.1029/2009GL042154.
Traduzido por Fernanda B. Muller, CarbonoBrasil