Sapos Cururus estão matando crocodilos na Austrália
Sapos Cururus estão matando crocodilos na Austrália
Jeremy Hance, pt.mongabay.com
Traduzido por Luis Carlos Oña Magalhães
22 de agosto de 2008
A praga número um da Austrália, o sapo cururu, causa devastação na população de crocodilos de água doce.
O sapo cururu tem sido um castigo para a vida selvagem da Austrália durante décadas. Uma espécie invasiva, o sapo cururu compete com espécies locais endêmicas e devido a sua alta toxicidade mata qualquer predador que o faça de presa, incluindo cobras, aves de rapina, lagartos, e o quoll do Norte (gato-marsupial) que é um marsupial carnívoro. Uma nova pesquisa revelou outra vítima do sapo. O crocodilo de água doce tem sofrido um massivo declínio de sua população devido ao consumo desse sapo irritante.
O crocodilo de água doce da Austrália não é o réptil forte dos filmes de Crocodilo Dundee ou aqueles com os quais Steve Irwin lutou. Aqueles são os maiores, e mais perigosos crocodilos de água salgada. Os crocodilos de água doce, também conhecidos como Crocodilos Johnstons, são cerca de metade do tamanho de seus primos de água salgada e não representam ameaça aos humanos. Eles se alimentam principalmente de peixes, anfíbios, e aves, mesmo assim estão no topo da cadeia alimentar como predadores em seu habitat.
O estudo mostrou que em quatro localidades a média de queda da população de crocodilos de água doce foi de 45% após a chegada do sapo cururu. A menor queda foi registrada na Lagoa Longreach, onde 15,6 % de crocodilos morreram, mas na junção dos rios Victoria e Wickham, a queda teve o percentual catastrófico de 76,9%. Antes da invasão pelo sapo cururu os pesquisadores não encontravam crocodilos mortos durante suas pesquisas populacionais, mas após a invasão do sapo cururu foram observados 34 crocodilos mortos.
Bob Goninon da FrogWatch Australia segura um grande sapo cururu capturado perto de Darwin no território do Norte da Australia Março 26, 2007. Cortesia da FrogWatch, um grupo ambientalista Australiano que para acabar a supremacia da espécie capturam e matam todos os sapos cururus no país. |
Antes do estudo, evidências que mostravam que os sapos cururus afetavam o tamanho populacional dos crocodilos de água doce eram apenas lendas. Após a invasão dos sapos cururus, naturalistas, guardas-florestais, e turistas freqüentemente reportam terem visto crocodilos de água doce mortos. Cadáveres de crocodilos são geralmente raros (um rio registrou apenas 3 crocodilos mortos em 20 anos), mas mais estranho ainda foi que os corpos encontrados após a invasão dos sapos cururus não apresentaram nenhuma marca característica – ex: feridas perfurantes na cabeça que são causadas pelo seu único inimigo natural, ele mesmo. Crocodilos de água doce freqüentemente matam uns aos outros em batalhas. O achado de corpos sem marcas levou a teoria – provada por esse estudo – que crocodilos passaram a comer sapos cururus e foram subseqüentemente mortos por sua alta toxicidade.
Segue uma dúvida: outras populações de crocodilos de água doce não parecem ser afetadas por sapos cururus. Aquelas que vivem rio abaixo, em terras molhadas ricas em umidade, e nos trópicos não mostraram essa alteração populacional, apesar do sapo cururu prevalecer nelas. Os pesquisadores apresentam uma série de teorias para explicar tal discrepância. Primeiramente, há uma menor densidade de crocodilos nessas áreas e eles têm uma variedade maior de escolha de alimento, provavelmente permitindo que eles evitem os sapos cururus. Além disso, os sapos cururus, que precisam freqüentemente achar uma fonte de água para evitar o ressecamento, são capazes de achar fontes de água fora dos rios com muita facilidade. Em regiões mais secas os sapos cururus são forçados a entrarem no rio dos crocodilos para evitarem que ressequem. Portanto, é provável que quanto mais úmido for o ambiente, menos freqüente será o encontro de crocodilos de água doce com sapos cururus. Os autores acreditam que a susceptibilidade dos crocodilos aos sapos cururus em regiões mais secas pode ter graves implicações para o crocodilo, uma vez que a Austrália tem vivenciado períodos longos de seca devido às mudanças climáticas.
Sapo cururu em seu habitat natural na floresta Amazônica |
Cento e dois sapos cururus foram primeiramente introduzidos na Austrália em 1935 provindos do Havaí, onde eles também eram uma espécie invasiva da América do Sul. Eles foram trazidos para a Austrália para comerem o besouro-da-cana que estava devorando as plantações de cana-de-açúcar. No entanto, como uma mudança digna de um filme de terror, os sapos cururus não conseguiam saltar alto suficiente para alcançarem os besouros-da-cana e ao invés disso, passaram a comer todo o resto que encontravam pela frente. Atualmente, existe uma estimativa de 200 milhões de sapos cururus no noroeste da Austrália, cada um deles com um apetite voraz.
Inúmeras estratégias foram empregadas para livrar o continente dos sapos. A dificuldade presente é de como destruir uma população de sapos, maior que a população humana do Brasil, sem prejudicar outras espécies. Envenenamento em massa e introdução de doenças produziu grandes preocupações sobre a fauna nativa da Austrália, principalmente outros anfíbios. Ao invés de tais medidas, as pessoas têm optado por realizar o recolhimento de sapos em larga escala, barreiras para deter a migração do sapo para o sudeste, e simplesmente matar o sapo no local encontrado com qualquer coisa disponível.
Uma idéia intrigante tem sido atualmente desenvolvida por cientistas na universidade de Queensland. Pesquisadores estão tentando desenvolver geneticamente um sapo cururu que possa produzir somente descendentes machos. E seus descendentes machos só consigam produzir descendentes machos, e assim por diante. Isso criaria lentamente uma população dominada por machos, incapaz de uma procriação eficaz. Uma vez desenvolvidos, esses sapos alterados geneticamente seriam soltos na população selvagem. Espera-se que tal estratégia livre os Australianos dos sapos sem ameaçar outras espécies.
Mas até que um plano eficaz possa ser posto em prática a fauna Australiana terá que sofrer através da contínua expansão dos sapos.
“Sapos cururus (Bufo marinus) invasores causam mortalidade em massa de crocodilos de água doce (Crocodylus johnstoni) na Australia tropical”. Mike Letnic, Jonathan K. Webb, Richard Shine. Biological Conservation 141 (2008) 1773—1782.
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