Aquecimento do oceano – não el Niño – deflagrou a severa seca amazônica em 2005
Aquecimento do oceano – não el Niño – deflagrou a severa seca amazônica em 2005
mongabay.com
21 de Fevereiro, 2008
Uma das piores secas registradas na Amazônia não foi causada pelo El Niño mas pela alta temperatura no Atlântico, de acordo com análises de registros climáticos e hidrológicos. A pesquisa, publicada na revista Eventos Filosóficos da Royal Society B, sugere que o aquecimento, impulsionado pela humanidade, já está afetando o clima da maior floresta tropical da terra.
Em 2005, a Amazônia viveu a pior seca já registrada. Com os rios
secando, comunidades remotas foram isoladas, enquanto o commércio chegou
a uma parada total. Milhares de quilômetros quadrados de terra queimaram
durante meses, liberando mais de 100 milhões de toneladas de carbono
para a atmosfera.
Na época da seca cientistas observaram uma aparente correlação
entre a temperatura da superfície do mar no Oceano Atlântico e
a precipitação na Amazônia. Agora uma pesquisa do Dr. José
Marengo e colegas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e do Instituto
de Aeronáutica e Espaço (AIE), ambos do Brasil, confirmou que
"a seca de 2005 não estava ligado ao El Niño como a maioria
das secas anteriores na Amazônia, mas ao aumento de temperaturas da superfície
do mar no Oceano Atlântico do Norte tropical".
"Muito simples, durante o ano de 2005 não ocorreu o fenómeno
El Niño no Oceano Pacífico Tropical", o Dr. Carlos Nobre
do INPE disse à mongabay.com. "Em segundo lugar, quando tem El Niño,
raramente ele afeta o sudoeste da Amazônia, onde a seca era mais intensa."
"O Oceano Atlântico Norte tropical foi mais quente durante todo
ano de 2005 e a análise meteorológica descrita no documento mostrou
que a temperatura anormalmente quente da superfície do mar do Atlântico
Norte tropical criou um sistema de pressão relativamente baixa sobre
aquela região oceânica. Essa baixa pressão mudou o sistema
do vento nos trópicos. O resultado global foi de movimento descendente
sobre o Sudoeste da Amazonia, o que reduziu nebulosidade e chuva."
A autor principal Dr. Marengo disse à mongabay.com que, embora as secas
anteriores foram ligados ao eventos do El Niño, a seca de 2005 foi uma
anomalia.
Scena da seca de 2005 na Amazônia. Foto cortesia da Greenpeace. |
"A idéia de episódios de seca durante anos de El Niño
não é sempre correta", explicou. "Durante o El Niño
a seca é mais localizada sobre o lado Central e Oriental da Amazônia
(entre 5N-10S). Esse foi o caso das secas de 1926, 1983, 1998, enquanto a seca
de 2005 não foi durante o El Niño, e foi no lado sudoeste da bacia,
semelhante a outra seca não relacionada ao El Niño em 1964. "
"O aquecimento nas regiões tropicais do Atlântico Norte foi
responsável por esta seca, uma vez que o Pacífico tropical foi
quase neutro (inexistência de El Niño)."
A conclusão é significativa, porque modelos climáticos
prevêem a continuação do aquecimento no Atlântico
Norte devido ao aumento das emissões de gases com efeito de estufa. Condições
quentes no Atlântico Norte também são interligados a formação
de furacões no Golfo do México e ao longo da costa leste dos Estados
Unidos. O furacão Katrina atingiu Nova Orleans, em agosto de 2005.
Vários modelos climáticos para a Amazônia projetam aquecimento
significativo e secagem até 2100, devido ao aumento das concentrações
de dióxido de carbono na atmosfera. Essas mudanças, combinadas
com previsão de desmatamento e a continuação de queimadas,
poderão resultar na conversão de uma grande parte da floresta
Amazônica em savana e matagal.