Estradas ligadas à caça pela carne na África
Estradas ligadas à caça pela carne na África
Rhett A. Butler, mongabay.com
30/12/2007
Novo estudo liga a presença de estradas à caça pela carne na floresta tropical do
Congo e também levanta questões importantes para a conservação global.
O estudo, publicado na edição atual do Conservation Biology, descobriu que
as estradas e a pressão da caça associada reduziram a abundância de um número de
espécies de mamíferos incluindo antílopes africanos, elefantes de floresta, búfalos,
porcos do rio vermelho, gorilas de terras baixas e carnívoros. A pesquisa sugere
que mesmo a pressão da caça moderada pode afetar significativamente a estrutura
das comunidades de mamíferos na África Central.
O estudo da Conservation Biology examinou uma área de 400 milhas quadradas
de florestal tropical no Sudoeste do Gabão, dos quais 130 quilômetros quadrados
são concessões de óleo do Rabi operadas pela Shell-Gabon Corporation desde
1985. A área serviu como um bom local para o estudo por que a concessão da Shell,
guardada de perto e cuidadosamente regulada, efetivamente protege a floresta de
caçadores e a entrada de estranhos. Tal não é o caso nas áreas desprotegidas fora
da concessão, onde a densidade de estradas é maior e as pressões da caça e do desenvolvimento
são maiores. Ao comparar a abundância e o comportamento dos mamíferos nas duas áreas,
os pesquisadores descobriram que estradas tem o maior impacto em pequenos e grandes
ungulados, causando modificaçoes importantes na estrutura da comunidade de mamíferos.
Além disso, dizem os pesquisadores, a caça e as estradas podem alterar o comportamento
de muitas espécies, com a vida selvagem fora da área da concessão mostrando uma
propensão maior para fugir quando confrontada com humanos.
As descobertas são significantes porque, diferentemente de estudos prévios na região,
que geralmente focaram em uma só espécie, os pesquisadores foram capazes de “quantitativamente
analisar os efeitos relativos da estrada e da caça (e sua interação) em diferentes
espécies e associações de mamíferos. Em termos mais gerais, os cientistas dizem
que seu trabalho tem “relevância geral e local, em razão da área de estudo ser um
corredor potencialmente crítico entre dois parques nacionais recentemente criados
no Gabão, e seu futuro está longe de ser seguro.” Os cientistas explicam que em
razão da produção de óleo nas concessões do Rabi terem caído perto de 80
por cento desde 1997, é esperado que a Shell eventualmente abandone sua concessão
o que poderia resultar em “um crescimento dramático na caça, extração madeireira
e fazendas de derrubada e queimada, bem como com a produção continuada de óleo por
companhias menores” e menos sintonizadas às preocupações ambientais que a gigante
multinacional. Desde que a concessão da Shell tem essencialmente como um refúgio
para a vida selvagem, seu abandono poderia ter conseqüencias significativas para
as populações de animais residentes nesta área excepcionalmente biodiversa.
Gorila de terras baixas. Foto de Rhett Butler Mais de 70 por cento das florestas tropicais restantes na África estão localizados mais>> |
“Ainda que a concessão do Rabi seja intensamente administrada para produção
de óleo, a proibição da caça e de dirigir à noite, restrição de acesso aos não funcionários,
e diretrizes projetadas para minimizar o desmatamento dentro da concessão de óleo
estão claramente tendo benefícios importantes para a vida selvagem,” escrevem os
pesquisadores. “Entre todos os locais de pesquisa fora da concessão, aquele mais
próximo da concessão… tem a maior abundância de mamíferos, sugerindo que a concessão
do Rabi possa estar agindo como uma fonte de população e as áreas externas
como um destino para a vida selvagem… Então, a concessão de óleo do Rabi
é provavelmente melhor protegida da caça e invasão ilegal que a maior parte dos
parque nacionais no Gabão.”
Implicações Globais da Conversa
Os pesquisadores, liderados por Willian F. Laurence do Smithsonian Tropical Research
Institute, levantaram um ponto interessante com implicações mais vastas
para os esforços de conservação globais, argumentando que “como um conglomerado
multinacional, os interesses da Shell-Gabon para administração ambiental em Rabi…
refletem grandemente sua sensibilidade para a opinião internacional e pressões dos
consumidores.” Descrevendo suas experiências pessoais na África e américa Latina,
o time escreve que “companhias menores baseadas em nações em desenvolvimento são
às vezes menos interessadas e frequentemente menos capazes de investir financeiramente
em proteção ambiental.” Esta observação levou os cientistas a perguntar, “Como conservacionistas,
nós pressionamos grandes companhias multinacionais baseadas em nações industrializadas
para abdicar de projetos maiores em países em desenvolvimento em um esforço para
limitar a degradação ambiental, ou nós favorecemos estas empresas sobre companhias
nacionais menores na esperança de que serão mais sensíveis às pressões internacionais?”
Embora essa questão nos é especialmente pertinente na África Central, ela realmente
se aplica na conservação em escala mundial. Companhias multinacionais podem ser
particularmente sensíveis às críticas sobre suas políticas ambientais e, como resultado,
podem realmente servir como organizadores competentes do ambiente em alguns casos.
Assim a pressão exercida pelos grupos verdes em grandes corporações pode
ser um meio efetivo para atingir metas de conservação.
Em nenhum lugar isso é mais evidente que a África sub-saariana onde as iniciativas
de conservação governamentais tem frequentemente falhado ao proteger a terra ou
a vida selvagem. Apesar de décadas de esforços para estabeler áreas protegidas em
alguns países, a África perdeu nos anos 1980, 1990 e nos anos iniciais de 2000 um
percentual mais alto que qualquer outro lugar da Terra, de acordo com as Nações
Unidas. Pobreza, conflitos sociais e exploração comercial continuam a infligir
um preço pesado demais nas populações de vida selvagem e ricos ecossistemas da África.
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