Telefones celulares e mensagens de texto revolucionam as estratégias de conservação
Telefones celulares e mensagens de texto revolucionam as abordagens de conservação
Entrevista com o especialista em TI para conservação, Ken Banks
Rhett A. Butler, mongabay.com
2/1/2008
Telefones celulares foram adotados em um ritmo não igualado por qualquer outra tecnologia
na história da humanidade. Embora o uso convencional destes dispositivos continue
a se expandir, telefones móveis são cada vez mais vistos como ferramentas para a
conservação e o desenvolvimento.
Ken Banks, presentemente professor visitante no
Reuters Digital Vision Program na Universidade de Stanford, compreende bem isso.
Banks estabeleceu o kiwanja.net como um concentrador
para as últimas informações sobre como a tecnologia, em particular telefones móveis,
podem ser aplicados para cuidar de questões de fortalecimento econômico, conservação,
educação, direitos humanos e alívio da pobreza.
Preparando um plano de conservação no Quênia. Cortesia da |
Banks diz que o desenvolvimento de aparelhos de baixo custo e a distribuição de
telefones de segunda mão em mercados emergentes como o Sul da Ásia e África — um
dos mercados de mais
rápido crescimento e que bem ultrapassa os 125 milhões de assinantes —
está gerando uma revolução em como organizações abordam seus projetos de conservação.
Os celulares oferecem a estes grupos novas maneiras de conquistar patrocinadores,
enquanto reduz custos gerais indiretos e ineficiências. A tecnologia pode mesmo
permitir-lhes rastrear animais, proteger parques e conduzir pesquisas nas florestas
mais remotas do mundo.
Em Abril de 2007 Banks falou ao mongabay.com sobre seu trabalho.
Mongabay: Como você se envolveu com a aplicação da tecnologia móvel para a
conservação e o desenvolvimento?
Banks: Originalmente eu era da indústria de tecnologia da informação
(TI) mas minha mãe e avós sempre foram entusiastas da natureza e do ambiente. Eu
devo ter herdado o gene familiar para a natureza por que desde criança eu fui fascinado
pela [vida] ao ar livre.
Ken Banks em Mana Pools, Zimbabwe |
A experiência que realmente cimentou meu interesse em conservação e desenvolvimento
foi uma viagem a Zâmbia em 1993. Eu recebi um lugar no projeto Jersey Overseas Aid
onde ajudei a construir uma escola. Enquanto estive lá, comecei a pensar sobre onde
todo o dinheiro da ajuda estava indo e porque não parecia particularmente efetivo.
Eu comecei a olhar para o lado prático dos esforços de conservação e desenvolvimento,
quando anteriormente meu interesse foi primariamente a vida selvagen – o tipo de
coisa que você viu em shows do David Attenborough e outros programas de TV. Em 1995
voltei para a África para ajudar a construir um hospital em Uganda. Naquela época
eu estava bastante cativado e sabia que era alguma coisa que eu queria estar envolvido.
Mongabay: Aparentemente, sua primeira investida neste tipo de trabalho foi
de um ângulo humanitário?
Banks com uma criança durante sua viagem de ajuda a Uganda, em 1995 |
Banks: Bem, sim, aquelas eram as oportunidades que estavam disponíveis
para mim na época, do ponto de vista de um estrangeiro. Em Jersey a empresa de TI
na qual eu trabalhava tinha o Zoológico de Jersey, agora conhecido como Durrell Wildlife,
entre seus clientes. Durante meus 3 a 4 anos envolvido lá, adquiri muito interesse
em conservação sob o ponto de vista de um país em desenvolvimento – não só o que
estava acontecendo em Jersey mas as questões mais globais. Isso deu-me a oportunidade
de recorrer a alguns líderes reais deste campo e ver programas de procriação em
cativeiro e de conservação de habitat em primeira mão. Também fui beneficiado
pelo excelente centro de aprendizagem em Durrel, onde eles treinam trabalhadores
em conservação de países em desenvolvimento nas ultimas técnicas de conservação.
Foi através destas experiências que minha experiência em TI realmente começou a
mesclar-se com o trabalho de conservação e desenvolvimento. Foi uma grande época
e tive muita sorte em tê-la experimentado.
Mongabay: Quando saiu por si mesmo?
Banks: Eu deixei meu emprego em Jersey em 1996 e fui para a Universidade
de Sussex para buscar uma graduação em Antropologia Social com estudos de desenvolvimento.
Vendi tudo que eu tinha até ali e deixei a Inglaterra com duas malas. Aquele foi
o início da jornada. Eu formei o kiwanja.net
em 2003 depois que retornei de um ano trabalhando com os primatas na Nigéria.
Mongabay: O que o levou a fazer o kiwanja.net?
Banks: O kiwanja.net ajuda organizações
sem fins lucrativos locais, nacionais e internacionais a fazer melhor uso das tecnologias
de informação e comunicação em seu trabalho. Embora o site seja mais um recurso
de informação, eu geralmente funciono como um intermediário entre a tecnologia –
especialmente a móvel – e grupos de conservacão ou desenvolvimento. Você verá organizações
como a Gates Foundation olhando o uso da tecnologia em países em desenvolvimento.
Eu ajudo a pô-los em contato com as pessoas na área bem como com algumas das tecnologias
e aplicações em desenvolvimento. Parte do que faço, de certa forma, são “casamentos”.
Eu também tenho desenvolvido aplicações móveis para uso em conservação e desenvolvimento,
como o FrontlineSMS.
Mongabay: Que vantagens as tecnologias móveis oferecem aos grupos de conservação
e desenvolvimento?
Agora telefones celulares baratos são vendidos em mercados ao redor do mundo. Cortesia |
Banks: Embora um grande número de organizações venha tentando promover
a difusão da Internet em partes rurais de países em desenvolvimento, as taxas de
penetração são ainda bem baixas em muitas áreas. Telefones móveis, entretanto, têm
se difundido rapidamente e hoje são quase onipresentes em alguns países, ultrapassando
o número de linhas fixas em questão de 3 ou 4 anos. Temos agora uma situação onde
mesmo se a pessoa não tem um celular, pode facilmente ter acesso a um através de
outro membro da comunidade, ou através dos vários esquemas de telefone comunitário.
Em razão de sua abundante adoção, estamos hoje vendo fones móveis sendo usados para
muitas aplicações de conservação e desenvolvimento. Muitos centros melhoram a comunicação
entre patrocinadores e ONGs – por exemplo, enviando alertas sobre desastres naturais
iminentes como tsunamis e furacões, ou alertas da vida selvagem, divulgando
vagas de trabalho ou mensagens sanitárias. As vantagens das mensagens de texto é
que são muito rápidas, geralmente baratas, e são diretas. A maioria das pessoas
lê as mensagens que recebe, diferentemente de spam. Elas também funcionam em cada
telefone independentemente do tamanho – uma questão crítica em áreas onde grande
número de telefones pode ter de 5 a 7 anos de idade. Estes telefones são frequentemente
inúteis para surfar na Internet, mas trabalham bem com SMS.
Da mesma forma que para as aplicações de conservação, eu foco nas melhores capacidades
de comunicação. Diferentemente do passado onde você tinha agências governamentais
expulsando as pessoas de suas terras para criar áreas protegidas, hoje compreendemos
que os esforços para conservação precisam envolver as pessoas locais, de outra forma
você apenas os discrimina e os conduz a opor-se aos esforços de conservação. Agora,
com o aparecimento da conservação baseada na comunidade e projetos integrados de
conservação e desenvolvimento, a comunicação pode reduzir estas questões – fones
móveis nos permitem abrir canais onde nunca foi possível. Por exemplo, no Kruger
National Park (África do Sul), a administração do parque costumava ter que
enviar um Land Rover até as 18 diferentes comunidades que vivem ao redor do parque
para informá-las de reuniões, dar as últimas notícias, e assim por diante. Se uma
reunião era cancelada ou alterada, a caminhoneta tinha que ir novamente. Podia levar
dias para divulgar a mensagem. Hoje é possível simplesmente transmitir uma mensagem
de texto. Podemos mesmo preparar um banco de dados que capture respostas de texto
de várias comunidades em se poderão estar presentes ou como irão votar em uma iniciativa
em particular. Esta funcionalidade libera uma grande quantidade de recursos para
atividades mais significativas e produtivas da perspectiva de ambos, parque e comunidade.
As organizações também estão descobrindo que telefones móveis podem servir como
uma ferramenta de ativismo. Mensagens SMS podem ser usadas para organizar petições
e planejar manifestações. De fato, a ferramenta é tão poderosa que é até preocupação
para governos repressores. Nas eleições recentes no Cambodja e no Irã o governo
desligou servidores de mensagens para prevenir a organização e campanha de manifestantes.
Eles não queriam dar nenhuma chance depois do que aconteceu na Ucrânia, onde a revolução
laranja não teria sido possível sem os serviços de mensagem de texto, e nas Filipinas,
onde o presidente Estrada foi derrubado por assembléias organizadas por campanhas
de mensagens de texto.
No Zimbabwe jornalistas estão agora usando mensagens de texto para distribuir notícias
desde o presidente Robert Mugabe proibiu email e transmissões de ondas curtas.
Mongabay: Soa como se a maior parte das aplicações são abordagens “top-down”.
Há exemplos de conteúdo gerado pelo usuário?
Banks discutindo o uso da tecnologia no Zoológico de Johannesburg em 2005 |
Banks: Definitivamente, mas está nos estágios iniciais em muitos casos.
O lançamento do meu sistema FrontlineSMS
é uma tentativa de trazer a tecnologia para as mãos dos usuários, e promover uma
abordagem mais “bottom-up”. Em termos de conteúdo gerado pelo usuário, as aplicações
quentes atualmente incluem blogs SMS, que realmente floresceu no último
ano durante o conflito Israel-Líbano. Vimos notícias sendo geradas por mensagens
SMS a medida que Beirute era bombardeada. A natureza em “tempo real” das postagens
forneceu a percepção do que estava realmente acontecendo no chão. Este tipo de reportagem
– jornalismo cidadão – é muito dirigido pela tecnologia e a BBC, por exemplo, regularmente
pede que as pessoas perto do centro da ação, particularmente com imagens ou vídeos
de fotos tiradas pelo telefone, que as enviem.
De uma perspectiva conservacional, telefones móveis são cada vez mais usados para
pesquisas e monitoramento. No Quênia, por exemplo, o Save the Elephants está
utilizando colares GPS/GSM para rastrear elefantes. Comparado às alternativas, é
mais barato, em “tempo real” e não depende dos satélites ARGOS que aumentam a complexidade
e os custos. Estes dispositivos não somente ajudam a organização a entender como
os elefantes usam seus ambientes, mas também fornecem aos fazendeiros e aldeões
um sistema de aviso antecipado para que possam proteger plantações de serem comidas
e pisoteadas. O conflito homem x elefante é ainda uma grande assunto em muitos
países. Na África do Sul, um sistema sem fio de rastreamento de animais fornecido
pela African Wildlife Tracking ajuda pesquisadores a rastrear a vida selvagem
em áreas de caça. Uma vez equipado com o dispositivo de rastreamento, mensagens
de texto são enviadas até o aparelho para isolar a latitude e longitude do animal.
Repetindo, isso é muito mais simples e economicamente viável do que envolver satélites
multi-milionários ou sistemas mais lentos de rastreamento VHF.
Mongabay: Quais são os maiores desafios ao seu trabalho?
Banks: O maior problema que vejo é que as pessoas são em geral relutantes
para compartilhar. É difícil de encontrar exemplos de aplicações para telefones
móveis em conservação e desta forma você vê muita duplicação e voltas no mesmo lugar.
O telefone móvel está sendo alardeado como o dispositivo que será a ponto para a
inclusão digital, e desta forma haveria mais colaboração entre organizações tentando
endereçar estes assuntos importantes. Você sabe, quantos portais ‘ICT for development’
(desenvolvimento de tecnologia da informação e comunicações, NT) nós precisamos?
Ao invés de sós, penso que o primeiro instinto das pessoas deveria ser colaborar
onde possível.
Mongabay: Então é aí que você vem com o kiwanja.net?
Banks com o renomado naturalista inglês, Sir David Attenborough |
Banks: Sim, o kiwanja está se desenvolvendo em algo como um centro de
informações para as últimas notícias sobre a aplicação da tecnologia móvel para
a conservação, e, de forma crucial para mim, isso tem sido conduzido pelas necessidades
da comunidade, não somente algo que eu pense que é necessário. O
banco de dados de aplicações móveis contém detalhes de mais de 200 projetos
do mundo todo que usam a tecnologia móvel em campos incluindo saúde humana, fortalecimento
econômico, conservação, educação, direitos humanos e redução da pobreza, e está
crescendo o tempo todo. Recebo emails de pesquisadores me dizendo o quão importante
ele tem sido em seus trabalhos. Há também uma
galeria de imagens mostrando a tecnologia móvel em ação nos países em desenvolvimento.
Novamente, eu estava preocupado à respeito da ausência de imagens que muitas [organizações]
sem fins lucrativos precisavam para fazer campanhas de literatura, propostas de
projeto, websites e assim por diante. Antes da galeria, a maior parte das imagens
boas que eu encontrava vinham com um preço, enquanto as minhas são gratuítas para
usar. Franqueza, compartilhamento e transparência são os pilares chave do meu trabalho.
Mongabay: Como telefones móveis são usados para a Saúde?
Banks: Na Índia e Nigéria temos visto agências governamentais e ONGs
usar SMS como uma aplicação de educação para saúde. Há também grupos utilizando
telefones móveis e suas redes para vigilância de doenças. O que há alguns anos levava
três meses para reportar é agora quase instantâneo. Espalhar a notícia de erupções
em áreas remotas salva vidas.
Uma aplicação interessante na [área de] saúde é o SIMpill que ajuda pessoas
com o problema de não concluindo o tratamento com antibióticos. Isso certamente
só produz descendentes resistentes às drogas e mais difíceis de tratar. SIMPill
é um frasco de comprimidos habilitado ao SMS que, quando aberto, envia uma mensagem
para o servidor central. Cada SMS recebe uma etiqueta com a hora e mantém um registro
do paciente tomando sua medicação. O médico é avisado através de uma mensagem de
texto se o paciente não está tomando sua medicação adequadamente.
Mongabay: De que outras formas o SMS e a telefonia móvel podem ser usados
na conservação?
Banks: Temos visto o SMS sendo usado na arrecadação de recursos e campanhas
de conscientização e em aplicações mais específicas da conservação.
Garota em Moçambique. Cortesia do |
Um projeto que eu estive fortemente envolvido foi o
wildlive!, um serviço que promoveu a conservação global ao fornecer notícias
e informações em diversos assuntos através dos aparelhos telefônicos das pessoas.
Ele tem um ângulo direto para arrecadação de fundos através da venda de papéis de
parede com temas conservacionistas, toques para celular e jogos. Os fundos levantados
vão para a Fauna & Flora International, organização baseada na Inglaterra,
e diretamente para os projetos de conservação sendo promovidos.
Em Sumatra, o pesquisador de tigres Debbie Martyr manteve um diário de campo que
foi transmitido através de um site de internet móvel. Suas experiências incluem
operações de vigilância ao vivo que usaram telefones com câmera para capturar caçadores
e negociantes ilegais de pele em ação.
Na Reserva de Vida Selvagem de Okapi na República Democrática do Congo, fones por
satélite permitem que patrulhas enviem por mensagem de texto sua posição GPS junto
com uma mensagem curta de qualquer lugar na reserva. O operador na base pode então
chamar as equipes de patrulha em uma emergência, resultando em uma resposta mais
rápida às ameaças para a Reserva.
Mongabay: O que você pensa do
projeto das equipes de conservação da Amazônia — Amazon Conservation Team (ACT)
que usam GPS e o Google Earth para mapear as terras indígenas e proteger a floresta
contra invasões? Não é tecnologia móvel mas parece ter seus paralelos.
Nativos da Amazônia usam o Google Earth e GPS para proteger seu lar na floresta tropical. |
Banks: O projeto da ACT é muito interessante. O que faz dele particularmente
excitante sob minha perspectiva é que é muito antropológico. Conservação não é somente
sobre trabalhar com a vida selvagem, é também sobre trabalhar com pessoas, desta
forma a antropologia, com seu foco centrado no homem, é de particular relevância.
Para muitas pessoas não é um encaixe óbvio, particularmente quando a tecnologia
está envolvida. Ultimamente tenho falado muito sobre isso em empresas, workshops
e conferências.
O que realmente gosto sobre o projeto ACT é que é orientado às necessidades, baseado
naquilo que as pessoais locais precisam, não doações. Os usuários – neste caso as
tribos amazônicas – vêem a relevância da tecnologia e desta forma a adotam, e a
tecnologia se encaixa de forma transparente com aquilo que estão buscando atingir.
Mais notável é que o programa também promove a preservação cultural em um meio onde
a perda cultural é um problema sério.
Você viu o anúncio dos recursos sobre Darfur adicionados ao Google Earth esta semana?
O que estamos vendo é a criação de “comunidades conscientes” que desenvolvem um
interesse e percepção nas histórias humanas por trás dos eventos. É uma grande maneira
de construir suportes sólidos para um assunto. Penso que a ACT faria algo similar
se as tribos quisessem postar algumas de suas lendas sagradas de forma que o público
em geral teria uma melhor compreensão de sua história e cultura. Poderia servir
como argumento comum para suas preocupações sobre o desenvolvimento da floresta.
Talvez já estejam fazendo isso.
Embora sempre hajam preocupações sobre se a tecnologia irá conduzir as pessoas para
longe de seus estilos de vida tradicionais, em casos como este as tecnologias podem
fornecer novas oportunidades enquanto que permite que as pessoas continuem a viver
das formas tradicionais. Como Mark Plotkin tem dito na ACT, é o melhor de ambos
os mundos.
Mongabay: O que você pensa da iniciativa “One
Laptop Per Child” (Um laptop por criança – OLPC) que fornece laptops duráveis
de baixo custo (US$ 100) para crianças de países em desenvolvimento?
O laptop de US$ 100. Foto cortesia de One Laptop per Child. |
Banks: Eu penso que é um experimento interessante – o que basicamente
é o que ele é – mas de qualquer forma ainda não está claro. Pessoalmente tenho mais
problemas com o processo de que com o produto. Um dos melhores argumentos que ouvi
em porque ele tem potencial de ser eticamente problemático é que você está pedindo
a alguns dos países mais pobres do mundo para pagar a conta pelo que é basicamente
um protótipo. Estes governos irão gastar centenas de milhões de dólares cada, adiantados,
para financiar uma tecnologia sem comprovação. Isso está cheio de riscos e em uma
escala de produção que nunca antes foi tentada no campo de desenvolvimento da tecnologia
da informação e comunicação. Embora essas preocupações possam se tornar totalmente
infundadas, parece uma maneira cara de “fazer uma tentativa” – especialmente para
governos com menos capacidade de arcar com as despesas dele. Comparativamente, se
você olhar para o telefone móvel ele é abundante, mais barato e menos complexo.
Estamos vendo mais companhia e organizações desenvolvendo aparelhos telefônicos
nos mercados emergentes baseados em 2, 3 ou 4 anos de experiência no “mundo real”.
Você não pode dizer isso sobre o OLPC. OLPC não pode realmente comparar a si mesmo
com qualquer outra coisa, ainda que o OLPC 2.0 (se é que posso chamá-lo assim!)
fosse capaz disso.
Mas, para ser honesto, OLPC pode bem ser uma revolução – eu não estou tentando censurar
o projeto. Você tem que dar crédito aos desenvolvedores por terem saído e tentado
algo ousado para o benefício da humanidade.
Interessantemente, a Índia na prática rejeitou o projeto. Ao invés disso, está avaliando
tecnologias desenvolvidas lá mesmo (chamadas NetTV e NETPC), o que pede a questão
de se um único produto pode realmente funcionar em uma escala global nos mercados
emergentes. O mundo não é homogêneo e a tecnologia definitivamente precisa ser testada
na prática. Frequentemente vejo uma disconexão entre os desenvolvedores de tecnologia
e o uso no “mundo real” de seus produtos. Em uma conferência que participei recentemente
na Índia para o W3C, havia muito pouca ênfase no usuário – era tudo sobre a tecnologia.
Há uma grande diferença entre como uma coisa é usada no saguão de um aeroporto e
como bem poderá funcionar em uma aldeia remota com alimentação elétrica limitada,
calor, tempestades de areia e um usuário semi-analfabeto. Para muitos desenvolvedores,
como sua tecnologia irá funcionar no contexto de mercados emergentes é geralmente
um pensamento “para depois”.
Nos lugares onde trabalho esta é a primeira questão que sou inclinado a fazer.
Ken Banks é atualmente Professor Convidado no Reuters
Digital Vision Program da Universidade de Stanford.
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