A premiada investigação da Mongabay que revelou a contaminação da água em terras indígenas na Amazônia por plantações de óleo de palma inspirou uma instalação artística na Conferência do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa da UNESCO em Santiago; a obra de arte também foi exibida no Museu de Arte Contemporânea do Chile.
Um grupo de 12 estudantes de design teatral e três professores da Universidade do Chile trabalharam em conjunto com a repórter da Mongabay Karla Mendes para criar o conceito de uma exposição de arte que destacasse os danos ambientais ocultos do óleo de palma “sustentável” encontrado em muitos produtos comprados em supermercados sem que tenhamos consciência dos impactos.
Publicada em 2021, a investigação revelou a contaminação da água por agrotóxicos usados em dendezeiros e o desmatamento de florestas nativas para dar lugar às plantações e como o povo Tembé tem sido afetado; no final de 2022, a investigação foi usada como evidência pelo Ministério Público Federal para obter uma decisão judicial para provar os impactos ambientais dos agrotóxicos usados nas plantações de óleo de palma para os povos indígenas no Pará.
A instalação sobre a investigação e outros projetos bem-sucedidos em que jornalistas e artistas trabalharam juntos também foram destacados em um painel focado em como promover narrativas jornalísticas mais inclusivas para cobrir questões ambientais e de mudanças climáticas.
Esta reportagem recebeu suporte do Rainforest Investigations Network do Pulitzer Center, do qual Karla Mendes é bolsista.
SANTIAGO, Chile — A premiada investigação da Mongabay que revelou a contaminação da água em terras indígenas na Amazônia por dendezeiros foi destacada em uma instalação artística na Conferência do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa da UNESCO em Santiago este mês. A obra de arte também foi exibida no Museu de Arte Contemporânea do Chile.
Um carrinho de supermercado tombado com uma montanha de produtos e derramando resíduos nas águas do rio — representadas por garrafas plásticas derretidas — foi colocado na entrada do pavilhão principal da Biblioteca Gabriela Mistral, onde o evento da UNESCO foi realizado de 3 a 4 de maio. Inspirados pela investigação da Mongabay, estudantes de design teatral da Universidade do Chile trabalharam em conjunto com esta repórter para criar o conceito de uma exposição de arte para destacar os danos ambientais ocultos do óleo de palma “sustentável” proveniente de muitos produtos encontrados em supermercados que os consumidores compram sem consciência dos impactos.
“Aqui estão todas as coisas que nós [vemos quando] vamos ao supermercado, pegamos as promoções, as ofertas, simplesmente pegamos do supermercado e colocamos em nosso carrinho. E vemos aqui que o carrinho já está cheio e derrama tudo, derrama toda a contaminação que vem da indústria do óleo de palma”, diz Cristian Canto, gerente da obra de arte, explicando que as garrafas plásticas representam a região amazônica visitada por esta repórter e a luz vermelha aponta para a Terra Indígena Turé-Mariquita apresentada na investigação. “E vemos como todos esses produtos têm esses subprodutos, que é a contaminação do supermercado natural da comunidade indígena. Eles explicam na investigação da Karla que eles costumavam ter esse mercado para pegar o peixe, pegar a fruta, tudo, e agora está contaminado pelo óleo de palma”.
Publicada em 2021, a investigação da Mongabay revelou a contaminação da água por agrotóxicos usados em dendezeiros e seus impactos para o povo Tembé no Pará. Também revelou o desmatamento de florestas nativas para dar lugar ao cultivo de dendezeiros, contradizendo as alegações das empresas e do governo de que as plantações de palma são plantadas apenas em terras já desmatadas. No final de 2022, a investigação foi usada como evidência pelo Ministério Público Federal para obter uma decisão judicial para provar os impactos ambientais dos agrotóxicos usados nas plantações de óleo de palma para os povos indígenas do Pará.
Em 2022, a investigação ganhou o 2º prêmio da Society of Environmental Journalists por Excelência em Reportagem Investigativa e o 3º prêmio do Fetisov por Excelência em Reportagem Ambiental. Em 2023, também foi finalista do Prêmio Roche de Jornalismo em Saúde.
Juan José Alexander Contreras Muñoz, um dos 12 alunos que criaram a obra de arte, afirma que não estava ciente dos efeitos da contaminação por óleo de palma de muitos produtos comumente consumidos, mas agora está “graças à investigação e a esse processo de trabalho”, que foi sua primeira instalação artística. “A mensagem principal é o consumo passivo que afeta o meio ambiente e a população vulnerável, como o grupo indígena que aparece na investigação, e que isso finalmente acaba causando um impacto total no meio ambiente, na área afetada”.
Para Muñoz, foi uma grande oportunidade participar como estudante “em uma instância tão importante como a UNESCO e poder expor, do nosso ponto de vista como artistas, o conceito de dano ambiental, usar a arte como um meio, como uma ferramenta para transmitir, poder acusar uma realidade ou uma situação de vulnerabilidade”.
Alunos e professores dizem que foi a primeira vez que trabalharam com um jornalista e basearam seu trabalho em uma investigação e estão ansiosos para fazer isso novamente. “Eu gostaria de poder continuar com isso. É uma maneira de canalizar a arte a partir do que ela é, a maneira pela qual nós, os artistas, os designers, podemos dar a ela uma função… e dar a ela uma maneira de mostrar ao espectador essa realidade a partir dessa instalação”, diz Muñoz.
Canto, que também é criador e artista, diz: “A pesquisa e os conceitos já estavam prontos e pudemos aproveitá-los facilmente. Todos os materiais estavam lá para criar. Foi uma experiência excelente. Eu gostaria de fazer isso novamente”.
Em 8 de maio, a instalação foi exibida no Museu de Arte Contemporânea de Santiago como marco da inauguração do ano acadêmico da Faculdade de Artes da Universidade do Chile. “Isso não acontecia há muito tempo e é a primeira vez que todas as carreiras com diferentes expressões artísticas foram reunidas”, diz Katiuska Valenzuela, co-coordenadora do projeto e coordenadora do curso de desenho teatral.
Amanda Bazaes, co-coordenadora do projeto e assistente do curso, diz que a exposição foi muito bem-sucedida, com muitos alunos e professores de diversas áreas visitando a instalação. “Os alunos ficaram muito entusiasmados. Muitas pessoas vieram fazer perguntas e tirar fotos”.
Agora, os professores estão buscando mais oportunidades para exibir a instalação na Universidade do Chile, em outras universidades e em outros lugares, “para que possamos fazer o trabalho circular”, diz Valenzuela.
Na conferência da UNESCO, a instalação artística sobre a investigação do óleo de palma e outros projetos bem-sucedidos em que jornalistas e artistas colaboraram foram destacados no painel “Reescrevendo narrativas sobre mudanças climáticas: abordagens artísticas para contar histórias inclusivas” no qual esta repórter foi uma das palestrantes. A gravação completa do painel, promovido pelo Media Diversity Institute, está disponível aqui.
Além de Muñoz, os artistas que criaram a instalação são: Carla Jesús Alcántara Basoalto, Sebastián Barbe Rojas, Valeska Cartagena, Anette Ignacia Cerda Tamayo, Victor Salvador Antu González Ancamil, Amaranta Paz González Urriola, Diego Antonio Huenchuleo Violdo, Catrian Ochoa Marchant, Victoria Nicolasa Orellana Stevenson e Alondra Estephania Salamanca Cerda.
Banner image: Estudantes de design teatral da Universidade do Chile trabalharam em conjunto com a repórter Karla Mendes, da Mongabay, para criar o conceito de uma exposição de arte para destacar os danos ambientais ocultos do óleo de palma “sustentável” proveniente de produtos que os consumidores compram em supermercados sem consciência dos impactos. Nesta foto, parte da equipe de criação (da esquerda para a direita): professor Cristian Canto, alunos Diego Antonio Huenchuleo Violdo, Juan José Alexander Contreras Muñoz e Sebastián Barbe Rojas. Imagem de Karla Mendes/Mongabay.
Karla Mendes é repórter investigativa da Mongabay no Brasil e bolsista do Rainforest Investigations Network do Pulitzer Center. Ela é a primeira brasileira e latinoamericana eleita para a diretoria da Society of Environmental Journalists (SEJ), dos Estados Unidos, onde ela também foi eleita Vice-Presidenta de Diversidade, Equidade e Inclusão. Leia outras matérias publicadas por ela na Mongabay aqui. Encontre-a no 𝕏, Instagram, LinkedIn, Threads and Bluesky
Leia a investigação aqui:
Desmatamento e água contaminada: o lado obscuro do óleo de palma ‘sustentável’ da Amazônia