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Por que mamíferos são importantes para nós – e o que podemos perder se forem extintos

  • A maioria das 701 espécies de mamíferos brasileiros presta serviços ecossistêmicos fundamentais que beneficiam as pessoas, informa um novo estudo.

  • No entanto, mais da metade das espécies que prestam esses serviços são categorizadas como ameaçadas e provavelmente perderam a capacidade de prestá-los de forma significativa.

  • Os tatus estão entre os prestadores de serviços mais importantes, transportando nutrientes e projetando ecossistemas por meio de atividades de escavação; no entanto, esses animais ainda sofrem com a caça. 

  • Os autores do estudo afirmam que divulgar a conservação em termos de benefícios humanos no mundo real, em vez de apenas a preservação da vida selvagem em si, pode aumentar o apoio à conservação.

A maioria das 701 espécies de mamíferos que vivem no Brasil presta serviços que de algum modo beneficiam a humanidade, entre elas a dispersão de sementes e o consequente crescimento de florestas, o controle de pragas e o suporte à polinização. No entanto, de acordo com um novo estudo na revista científica Perspectives in Ecology and Conservation, há um risco atual de perda de mais da metade desses serviços ecossistêmicos.

O estudo, liderado por Mariana Vale, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), teve como objetivo documentar toda a gama de serviços ecossistêmicos prestados pelos mamíferos brasileiros para destacar a importância desses animais para a conservação. O estudo combina dezenas de bancos de dados existentes para apresentar uma lista abrangente dos mamíferos brasileiros e seus serviços à humanidade.

“O Brasil é um dos países com maior biodiversidade do mundo, mas sabemos muito pouco sobre o que a maioria das nossas espécies realmente faz para apoiar o funcionamento do ecossistema e o bem-estar humano”, diz Luara Tourinho, uma das coautoras do estudo, da Universidade de São Paulo.

Os investigadores categorizaram 11 tipos de serviços ecossistêmicos que poderiam ser associados aos mamíferos – desde serviços culturais como o ecoturismo até serviços reguladores como o controle de pragas e a regulação de doenças. Combinando características e distribuições das espécies, determinou-se que 82% dos mamíferos brasileiros, ou 575 espécies, prestam pelo menos um serviço.

No entanto, mais da metade das espécies prestadoras de serviços ecossistêmicos categorizadas como ameaçadas estão perto de perder sua capacidade de beneficiar a humanidade. “É preocupante ver muitos desses serviços em risco”, disse Luara.

Os primatas são importantes dispersores de sementes. Graças a esforços de reflorestamento na Mata Atlântica, o mico-leão-preto passou de espécie criticamente ameaçada para ameaçada. Foto: IPE.

A dispersão de sementes é proporcionada pelo maior número de espécies. No entanto, o estudo também revelou que vários serviços essenciais, como a engenharia de ecossistemas, a remoção de carcaças (de animais mortos) e o controle populacional de roedores, são sustentados por apenas algumas espécies e, portanto, altamente vulneráveis.

Os tatus estão entre os prestadores de serviços mais importantes, constataram os pesquisadores. Por meio das atividades de escavação, os tatus transportam nutrientes e projetam ecossistemas. Isso é fácil de observar no caso do tatu-canastra (Priodontes maximus), a maior espécie de tatu do mundo, que pode atingir até 1,5 metro de comprimento e pesar até 60 kg.

Os autores sugerem a criação de mais áreas protegidas em pontos críticos de diversidade de mamíferos e o gerenciamento de reservas ambientais não apenas para espécies, mas também para a manutenção de serviços ecossistêmicos benéficos. Recomendam também a implementação de proteções direcionadas para espécies ameaçadas e a proibição da caça de espécies que desempenham múltiplos serviços, como os tatus.

Os autores afirmam que divulgar a conservação em termos de benefícios humanos no mundo real, em vez de apenas a preservação da vida selvagem em si, pode aumentar o apoio à conservação desses animais.

Imagem do banner: Tatu-canastra. Foto: Andre Borges/Agência Brasília (CC BY 2.0).

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