A Suzano, maior exportadora de celulose do mundo, está promovendo uma nova agenda sustentável; suas plantações, agora cultivadas em associação com florestas nativas, poderiam ajudar a frear a crise climática global, segundo a empresa.
Alguns grupos de conservação concordam e estão trabalhando em parceria com a empresa para garantir que ela se torne mais sustentável.
Outros ambientalistas, porém, alegam que a expansão da monocultura de eucalipto está causando danos ambientais generalizados no Brasil; segundo eles, O sequestro de carbono das plantações é mínimo, as fábricas de celulose são altamente poluentes e as florestas de eucalipto não têm a mesma biodiversidade das florestas tropicais.
Além disso, os críticos argumentam que a expansão das plantações de eucalipto resulta na usurpação de terras naturais e na expulsão de comunidades tradicionais e indígenas – que têm muito mais a oferecer na luta contra as mudanças climáticas e nos esforços para proteger florestas intactas.
A Suzano, maior exportadora de celulose do mundo, vem se distanciando nos últimos meses do presidente Jair Bolsonaro, notório por sua resistência em combater o desmatamento na Amazônia, que aumentou 29% no ano passado, de acordo com o Imazon.
Um dos principais membros da Coalizão Brasileira pelo Clima, Florestas e Agricultura, a Suzano foi ativa na cúpula do clima, COP26, em novembro de 2021, em Glasgow, Escócia. Seu diretor-executivo, Walter Schalka, disse na ocasião que “o mais importante é trabalhar para termos metas ambientais mais ambiciosas e de mais curto prazo, além de buscar a forma de financiar isso, o que passa pela criação do mercado de carbono global”
A Suzano – que fornece produtos de celulose para o mundo todo – declara que, longe de exacerbar a crise climática, suas plantações de eucalipto estão ajudando a combatê-la. Em 2020, Schalka disse ao jornal Financial Times que as “florestas plantadas serão parte da solução de longo prazo para as metas que temos no Acordo de Paris.”
Cristiano Oliveira, gerente executivo de sustentabilidade da companhia, deu detalhes sobre essa alegação à Mongabay. A Suzano, diz ele, depende de uma vasta base florestal de cerca de 2,3 milhões de hectares – com suas plantações de eucalipto abrangendo uma das “maiores áreas de conservação privadas do Brasil”, com cerca de 960 mil hectares.
Essas monoculturas de árvores contribuem com a “preservação das espécies locais, a regulação dos ciclos hidrológicos e a remoção e armazenamento do dióxido de carbono”, diz Oliveira. As novas plantações da empresa, ele acrescenta, entrelaçam corredores biológicos, ligando-os a reservas florestais nativas para sustentar a biodiversidade, atendendo a pré-requisitos de proteção do Código Florestal brasileiro.
A Suzano sustenta que só planta eucaliptos em áreas antropizadas e degradadas. Ela também rastreia a origem de seus produtos florestais para garantir que eles não venham de áreas desmatadas depois de 1994, como exige a lei ambiental brasileira. “Cada pedaço de madeira que passa pelos nossos portões e vai para as fábricas é controlado. Nós sabemos de onde ele vem e quem está por trás dele”, disse Maria Luiza de Oliveira Pinto e Paiva, diretora de Sustentabilidade da Suzano, ao Financial Times.
Ambientalistas em conflito
Ambientalistas, no entanto, oferecem outra visão. Eles argumentam que as plantações da empresa – compostas somente de eucaliptos, que não são nativos do Brasil – não deveriam ser contadas como restauração florestal legítima, que elas não sequestram carbono em longo prazo e que as monoculturas de eucalipto são na maior parte estéreis biologicamente. Comunidades tradicionais vizinhas, por sua vez, reclamam de conflitos agrários e da grilagem de terras por parte da companhia.
Mas o novo foco da Suzano na sustentabilidade ambiental e responsabilidade social persuadiu algumas organizações ambientais. Mauricio Voivodic, diretor-executivo da WWF Brasil, parceira da Suzano, declarou ao Financial Times que “a Suzano estabelece uma boa referência para outras empresas.”
A SOS Mata Atlântica, ONG dedicada a proteger as áreas remanescentes de Mata Atlântica no Brasil – o bioma mais ameaçado do país – também está colaborando com a Suzano. Malu Ribeiro, diretora de políticas públicas da ONG, diz que foi uma decisão difícil, porque a escolha seria controversa diante de outros ambientalistas. Mas, acrescenta, referindo-se ao governo Bolsonaro: “O Brasil está passando por um dos piores momentos em relação ao meio ambiente na história do país”, e “se a expansão das plantações de eucalipto ocorrer sem medidas para proteger as florestas nativas, enfrentaremos uma perda irreversível de biodiversidade.”
Ribeiro acredita que trabalhar em parceria com a maior produtora de celulose e papel da América Latina oferece novas oportunidades de conservação, e fornece um exemplo de cooperação bem-sucedida entre a ONG, governos municipais e a Suzano em concordância com as leis ambientais do Brasil. “Sem a pressão do mercado internacional, a Suzano não estaria mudando seu comportamento”, diz ela. “Estamos aproveitando o momento para criar ‘um bom agronegócio’ que se distancie da elite rural bastante reacionária que está aliada a Bolsonaro.”
Ribeiro, contudo, reconhece que as plantações de eucalipto têm desvantagens ambientais, entre elas a redução dos níveis de águas subterrâneas (potencialmente impactando florestas nativas e fazendas próximas), e despeja grandes quantidades de substâncias tóxicas nos rios. Mas ela acredita que a cooperação da ONG com a Suzano levará a acordos que eliminarão as piores práticas com o tempo.
Seria a celulose uma solução para o clima?
Não surpreende que a Suzano use suas parcerias com organizações ambientais para promover e lustrar suas credenciais verdes, provavelmente na espera de que suas plantações sejam aceitas pela comunidade internacional como parte de um amplo chamado de apoio para o reflorestamento em escala mundial para combater as mudanças climáticas. De acordo com as regras atuais da ONU, “tanto as monoculturas industriais de eucalipto quanto as florestas tropicais com suas centenas de espécies de árvores diferentes são classificadas como florestas”.
Contudo, críticos dessa política da ONU dizem que não há comparação entre a imensa capacidade de armazenamento de carbono e a extensa biodiversidade de uma floresta brasileira nativa e aquela de uma fazenda de árvores. Ativistas e alguns pesquisadores apelidaram as monoculturas de eucalipto de “desertos biológicos”, embora outros cientistas digam que isso é um exagero.
A associação da companhia com esforços globais de reflorestamento não é boa apenas para a imagem da Suzano junto aos consumidores eco-conscientes, como os da União Europeia. Ela também pode ajudar a empresa a ganhar financiamentos do governo em curto prazo, possivelmente arrecadando alguns dos US$ 19,2 bilhões prometidos pela Declaração Florestal de Glasgow, anunciada na COP26 em novembro, “para deter e reverter a perda florestal e a degradação de terras” até 2030.
Em longo prazo, a Suzano espera que as autoridades governamentais reconheçam que suas plantações possam ser consideradas como parte da Contribuição Nacionalmente Determinada do Brasil (NDC, na sigla em inglês) – os compromissos de redução de emissões de carbono do país, assumidos como parte do Acordo de Paris de 2015. Essa designação poderia abrir mais possibilidades de financiamento no futuro, possivelmente na forma de apoio financeiro internacional, subsídios e incentivos fiscais.
A Mongabay perguntou à Suzano se as novas plantações seriam incluídas na NDC do Brasil e a empresa respondeu: “O Brasil anunciou ajustes em sua NDC muito recentemente durante a COP26, mas toda gama de ações relacionadas a ela ainda não foi totalmente divulgada”.
Com base no ano de referência de 2005, o compromisso da NDC 2020 aprovado na COP26 obriga o país a reduzir as emissões líquidas totais de gases de efeito estufa em 37% em 2025, em 43% em 2030, e alcançar a neutralidade climática (zero emissões líquidas) em 2060. A WWF foi altamente crítica ao compromisso da NDC 2020 do Brasil, observando em parte que “a omissão das medidas a serem adotadas para reduzir o desmatamento, o uso de combustíveis fósseis e seus subsídios e de como estimular ações de restauração florestal e a adoção de sistemas integrados lavoura-pecuária-florestas, entre outras áreas (constantes na NDC de 2015) transformam a nova NDC numa proposta difusa e sem foco”.
A controvérsia das plantações de eucaliptos
Alguns ambientalistas acreditam que é um erro cooperar com a Suzano na promoção de sua imagem como uma aliada na conservação das florestas porque, segundo eles, esse rótulo verde esconde os impactos danosos das plantações de eucalipto.
Não há dúvida de que o eucalipto (Eucalyptus spp.), nativo do oeste da Austrália, é uma espécie de árvore útil. Altamente tolerante a solos inférteis, tem sua celulose transformada em papel higiênico, lenços e outros produtos de papel, além de ser utilizada para projetos de reflorestamento de grande escala. Em 2015, as plantações mundiais de eucalipto cobriam 20 milhões de hectares, sendo o Brasil o país com a maior taxa de hectares plantados: 4,12 milhões.
A expansão das plantações de eucalipto está em ascensão tanto na China quanto no Brasil. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a área coberta por essas plantações em 2019 no país aumentou para 7,6 milhões de hectares.
Os eucaliptos crescem rápido, e por isso são visto como árvores com grande capacidade de captura de carbono. Um estudo de 2018 descobriu que “o dióxido de carbono removido por todas as florestas plantadas brasileiras nos últimos 26 anos [1990-2016] representa quase que a totalidade das emissões [de carbono] do setor agrícola, florestal e de outros usos da terra em 2016”. Os pesquisadores concluíram que “as plantações florestais desempenham um papel importante na mitigação da emissão de gases de efeito estufa no Brasil.” Em 2016, observou o estudo, as lavouras de eucalipto responderam por 71% de todas as plantações do país. A pesquisa também sugeriu que elas poderiam desempenhar um papel importante nas metas da NDC do país.
Outros pesquisadores argumentam que é insuficiente contar apenas a quantidade de carbono que os eucaliptos capturam à que medida que crescem. Markus Kröger, professor associado de desenvolvimento global na Universidade de Helsinque, na Finlândia, apontou para as descobertas de um estudo de 2004 que mostrou como as mudanças no uso da terra associadas à produção de eucaliptos, incluindo a “acidificação do solo e a diminuição do carbono orgânico do solo”, levaram a um acentuado declínio no armazenamento de carbono, cancelando cerca de 80% do carbono capturado pelos eucaliptos.
Além disso, como o eucalipto cresce rápido e é derrubado também com rapidez, o carbono que ele captura não é armazenado em longo prazo como acontece nas florestas nativas, mas é logo liberado de volta para a atmosfera. Um relatório da Environmental Paper Network (EPN, Rede Ambiental do Papel), um coletivo global de pesquisadores do clima e da proteção florestal, concluiu: “Entre dois a três anos depois da colheita [do eucalipto], todo o CO2 ‘armazenado’ é liberado novamente na atmosfera.”
Há outras questões preocupantes. “As usinas de processamento são altamente poluentes, de forma que a produção de 1 milhão de toneladas de celulose gera pelo menos 2 milhões de toneladas de emissões de carbono”, diz Kröger. “Essa informação é escondida pelas companhias de celulose e não é considerada nos cálculos.”
Geraldo Wilson Fernandes, professor de ecologia na Universidade Federal de Minas Gerais, concorda: “Precisamos considerar a pegada ecológica que essas plantações têm como um todo. Há problemas advindos da queima de dejetos, do processamento da madeira, da plantação de árvores onde elas não ocorrem naturalmente”.
Fernandes destaca outra diferença fundamental entre as plantações de árvores e as florestas naturais: “Essas plantações homogêneas, ou monoculturas, têm uma diversidade muito menor de espécies quando comparadas ao ambiente que foi destruído para lhes dar lugar. Elas têm menos aves, menos mamíferos, menos insetos e menos polinizadores. Além disso, as companhias sempre usam agrotóxicos, o que torna a situação muito mais grave. A floresta [plantada] parece um deserto se comparada ao ecossistema nativo.”
Kröger conclui: “As plantações de eucalipto não são sustentáveis para o Brasil ou qualquer outro país. A expansão das monoculturas de árvores é característica de um fenômeno mais amplo de grilagem, impulsionado pela lógica financeira dominante do capitalismo atual.” Críticos argumentam que a regra do Acordo de Paris que equipara as plantações de árvores às florestas nativas não é totalmente baseada na ciência, mas foi fruto de uma pressão da indústria florestal e dos países com grandes áreas florestais como os EUA, a Rússia e o Brasil.
Suzano: Uma empresa com histórico manchado
Em 1920, Leon Feffer chegou ao Brasil vindo da Ucrânia, fugindo dos pogroms contra os judeus. Em 1939, comprou duas fábricas de papel que usavam celulose de fibra longa importada; uma dessas fábricas ficava na cidade de Suzano, em São Paulo, que Feffer então adotou como nome da empresa.
Depois da Segunda Guerra Mundial, a demanda por papel decolou, e o filho de Leon desenvolveu um novo processo de fabricação usando celulose de fibra curta de eucaliptos cultivados no Brasil. Desde então, a Suzano se expandiu bastante, aumentando tanto suas plantações de eucalipto quanto sua capacidade de fabricação de celulose.
Antes de se tornar uma das gigantes mundiais da celulose, a Suzano estava envolvida em outros setores, inclusive o petroquímico. E como acontece com muitas grandes empresas brasileiras, seu crescimento se deu sob alegações de corrupção. Investigadores federais da Operação Lava Jato descobriram que, em 2007, a Petrobras havia pago três vezes o valor de mercado pela compra da companhia petroquímica da Suzano, a Suzano Petroquímica, assumindo também as dívidas da empresa. A Petrobras pagou R$ 4,1 bilhões por uma empresa avaliada em apenas R$ 1,4 bilhão.
Mais recentemente, a Suzano consolidou sua posição de liderança no mercado de celulose. Em 2018, ela comprou a Fibria, que até então era a maior produtora de celulose do país. O negócio foi facilitado pelo banco BNDESPar, braço do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), acionista majoritário das duas empresas. A imprensa criticou duramente a aquisição porque o BNDES usou dinheiro público para facilitar a criação de um enorme monopólio privado. “Há cerca de US$ 2,5 a US$ 3 bilhões de sinergias nessa transação”, disse o CEO da Suzano, Walter Schalka, que defendeu o negócio, explicando que as duas empresas juntas aumentavam a competitividade futura.
Hoje a Suzano é uma empresa gigante. Suas plantações cobrem 2,3 milhões de hectares de terras. A companhia é, de longe, a maior produtora de celulose do país, e suas dez fábricas têm atualmente capacidade de produzir 10,9 milhões de toneladas de celulose por ano. Em 2017, o Brasil produziu 10,2 milhões de toneladas, bem menos do que a produção da China (99,3 milhões de toneladas) e dos EUA (75,1 milhões de toneladas). Mas o consumo interno menor significa que o Brasil liderou a exporação de celulose, com uma fatia de 17% do mercado mundial.
Espera-se que a produção de celulose da Suzano aumente rapidamente. A empresa afirma estar plantando mais de 500 milhões de mudas de eucalipto por dia, o que em breve acrescentará 9 milhões de hectares a suas plantações da árvore. A empresa também está construindo uma nova fábrica de celulose de eucalipto em Minas Gerais. Oliveira, da Suzano, disse à Mongabay que será a fábrica mais eficiente da companhia, com uma capacidade de produção de 2,55 milhões de toneladas de celulose por ano.
A Suzano continua adotando novas tecnologias. O eucalipto geneticamente modificado (GM) desenvolvido pela FuturaGene, uma subsidiária da empresa, produz 20% mais madeira e foi aprovado para uso comercial pelo governo em 2015, mas ainda não foi implantado comercialmente. Em novembro de 2021, o Brasil aprovou outro eucalipto GM, este modificado para resistir ao controverso herbicida glifosato, ligado a casos de câncer, mais conhecido como Roundup.
Conflitos sociais em andamento
A agressiva expansão da Suzano levou a conflitos com comunidades tradicionais, algumas das quais perderam suas terras. Isso deixou um legado de antipatia e ressentimento em algumas localidades próximas a plantações e fábricas de celulose.
“Como incorporou várias outras empresas, a Suzano construiu um imenso passivo social e ambiental, e um longo histórico de violações e ilegalidades, resultantes de ter promovido um modelo nefasto de monocultura de eucalipto em escala industrial ao longo de várias décadas”, diz Winnie Overbeek, coordenadora internacional do Movimento Mundial das Florestas Tropicais.
Alguns conflitos ainda estão em andamento. Flávia dos Santos, líder do Território Tradicional Quilombola de Sapê do Norte, entre São Mateus e Conceição da Barra, no norte do Espírito Santo, foi mordaz em sua denúncia sobre o impacto das plantações da Suzano: “Vivemos da coleta, dos peixes, da mandioca. Dependemos da terra, do rio e da floresta para sobreviver”. Segundo ela, a Suzano planta eucaliptos nas cabeceiras desses cursos d’água. “Os rios secam ou as nascentes ficam poluídas. Acabamos sem as condições mínimas de sobrevivência.”
“Temos uma luta diária contra a Suzano”, acrescenta ela. “A monocultura do eucalipto chegou atropelando tudo e, com o racismo, tomou nossa terra. Terra que pertencia aos nossos antepassados. Terra que era nosso meio de sobrevivência. Os quilombolas daqui tinham tudo em abundância – peixe, plantações, floresta. Mas hoje estamos construindo nossas casas uma em cima da outra porque não temos espaço.”
De acordo com a lei brasileira, esses quilombolas deveriam ter garantida a proteção de suas terras. Isso porque a Fundação Cultural Palmares reconheceu a validade da reivindicação da comunidade, de ser considerada quilombola, há uma década, e agora está esperando que o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) demarque o território. Apesar disso, o processo de demarcação da terra das 32 comunidades não foi concluído pelo governo, e muitos temem que os moradores tradicionais sejam expulsos de suas terras pela expansão das plantações de eucalipto.
Cristiano Oliveira, da Suzano, admite o conflito: “A Suzano vem trabalhando para recuperar, por meios legais, certas áreas de sua propriedade no Espírito Santo que foram ilegamente ocupadas. Enfatizamos, contudo, que desde o início da pandemia, nenhuma ação foi realizada para recuperar áreas supostamente ocupadas por comunidades quilombolas, que permanecem no local.”
A Suzano diz que, desde que seus direitos de propriedade sejam respeitados, está disposta a colaborar: “Reconhecemos a importância das comunidades locais, e é por isso que a Suzano mantém relações com todas as comunidades da região. Temos várias linhas de investimentos sociais que beneficiam diretamente algumas organizações sociais no norte do Espírito Santo, inclusive 20 associações quilombolas.”
O caminho à frente
“O aumento das plantações de eucalipto está gerando impactos negativos graves sobre a biodiversidade e causando mais pobreza, injustiça social e danos ao planeta”, diz Geraldo Wilson Fernandes, mas ele continua confiante de que é possível encontrar soluções. “Companhias como a Suzano têm profissionais muito capazes e bem treinados. Eles podem facilmente aplicar a ciência para tornar seu negócio verdadeiramente sustentável. Não estou falando de sustentabilidade econômica, mas de uma sustentabilidade ambiental, ecológica e social permanente.”
Kröger já não tem tanta certeza. “Acho que o atual modelo de plantações de eucalipto é tão arraigado no modelo básico de negócios da Suzano, que quer até mesmo ser uma pioneira na expansão do eucalipto GM resistente ao glifosato, que não é possível [em termos de sustentabilidade ambiental]. Empresas como a Suzano precisam ser tratadas mais como as companhias de combustíveis fósseis, como remanescentes de um modelo de negócios obsoleto, do qual existe a necessidade de retirar investimentos rapidamente. As empresas precisam transformar radicalmente seus modelos de negócio e práticas florestais, se quiserem se tornar parte da solução.”
Kröger diz que os verdadeiros aliados dos ambientalistas na luta para conter as mudanças climáticas não são as grandes corporações. “Comunidades tradicionais, indígenas, quilombolas e outras comunidades rurais podem ter uma grande contribuição [para o meio ambiente], substituindo os eucaliptos e outras monocultoras e áreas de pasto pela agrofloresta, que pode fornecer alimentos e ao mesmo tempo trazer benefícios para o solo, o clima, o sistema hidrológico e [também benefícios] socioambientais.”
Imagem do banner: Plantação de eucalipto no Brasil. Foto: Victor Camilo (CC BY-ND 2.0).