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Novas espécies de coruja são identificadas e já estão em risco de extinção

  • Duas novas espécies de minúsculas corujas da Floresta Amazônica e da Mata Atlântica acabam de ser descritas pela ciência.

  • Antes da descoberta, essas espécies eram agrupadas com duas outras da América do Sul, mas, investigações sobre seus gritos, seu DNA e sua aparência, levaram os cientistas a identificar diferenças suficientes para classificá-las como duas espécies novas.

  • Embora sejam novas para a ciência, essas corujas correm risco de extinção e provavelmente serão classificadas como em perigo crítico na lista de espécies em extinção.

“São corujinhas lindas, provavelmente com 13 a 15 centímetros de comprimento e com tufos de penas na cabeça”, disse John Bates, curador de aves no Museu Field de Chicago e um dos pesquisadores que descreveram a nova espécie na revista científica Zootaxa. “Algumas são marrons, outras são cinzentas e outras, ainda, ficam no meio termo [entre as duas cores].”

A descoberta é resultado de vários anos de trabalho em florestas, acervos de história natural e análises em laboratório do complexo da corujinha-sapo/corujinha orelhuda (Megascops atricapilla – M. watsonii), um grupo de corujas cujo número total de espécies é incerto. Ao todo, os pesquisadores analisaram 252 espécimes, 83 gravações de gritos e 49 amostras genéticas.

“Para atrair os pássaros, nós usamos gravações”, disse Bates. “Nós gravamos os seus gritos e depois os reproduzimos. As corujas são territoriais e, ao ouvir as gravações, saem para defender seu território.”

The newly described Alagoas screech owl (Megascops alagoensis) from Brazil’s Atlantic forest is thought to be critically endangered. Image by Gustavo Malacco.
Acredita-se que a recém-descrita corujinha-de-alagoas (Megascops alagoensis), da Mata Atlântica, esteja em perigo crítico. Foto: Gustavo Malacco.

Examinando de perto a aparência, os gritos e o DNA das corujas, os cientistas determinaram que havia diferenças suficientes para classificar duas espécies como novas.

As novas corujas foram denominadas corujinha-de-Alagoas (Megascops alagoensis), em referência ao estado nordestino onde vive, e corujinha-do-Xingu, (Megascops stangiae) em homenagem ao Rio Xingu, na Amazônia, e à falecida Irmã Dorothy Mae Stang, ativista dos direitos à terra nascida nos Estados Unidos e radicada no Brasil. A freira católica foi assassinada em 2005.

Embora sejam novas para a ciência, as corujas estão em risco de extinção e provavelmente serão classificadas como em perigo crítico.

“As duas novas espécies estão ameaçadas pelo desmatamento”, disse Jason Weckstein, coautor do estudo, professor associado e curador de ornitologia da Academia de Ciências Naturais da Universidade Drexel. “A corujinha-do-Xingu é endêmica da área mais atingida pelos incêndios que ocorreram na Amazônia em 2019, e a corujinha-de-Alagoas deve ser considerada em perigo crítico devido à ampla fragmentação florestal na minúscula área onde ocorre.”

One of the newly described species, the Xingu screech owl (Megascops stangiae) from the Amazon. Image by Kleiton Silva.
Uma das espécies recém-descritas, a corujinha-do-Xingu (Megascops stangiae) foi batizada em homenagem à falecida ativista Irmã Dorothy Mae Stang. Foto: Kleiton Silva.

A corujinha-de-Alagoas foi encontrada em apenas cinco fragmentos isolados de Mata Atlântica. Restam em torno de 10% do bioma, que é um dos mais biodiversos do planeta.

Antes da descoberta, as novas espécies de coruja estavam agrupadas com duas outras espécies da América do Sul: a corujinha-sapo e a corujinha-orelhuda. Com 21 espécies nas Américas, seu gênero, Megascops, é o mais rico em espécies do Hemisfério Ocidental. No entanto, muitas são parecidas, por isso tem sido difícil determinar quais delas são espécies diferentes.

O principal do estudo, Sidnei Dantas, que coletou muitas das gravações de campo e amostras de tecido durante sua pesquisa de doutorado, medindo espécimes de coruja no Museu Field. Foto: John Bates/Museu Field.

“As corujas são consideradas um grupo bem conhecido em comparação com alguns outros tipos de organismos nessas áreas”, diz Bates. “Mas quando a gente começa a ouvir essas aves e compará-las em toda a extensão geográfica, descobre que há aspectos que as pessoas não haviam notado. É por isso que essas novas espécies estão sendo descritas.”

“Nem mesmo entre ornitólogos profissionais que trabalharam a vida toda com corujas haveria consenso sobre o número real de espécies encontradas nesse grupo”, diz Alex Aleixo, chefe da equipe de pesquisa responsável pelo estudo e curador de aves no Museu Finlandês de História Natural, da Universidade de Helsinque, “então um estudo como o nosso é esperado há muito tempo”.

Citação:

Dantas, S. M., Weckstein, J. D., Bates, J., Oliveira, J. N., Catanach, T. A., & Aleixo, A. (2021). Multi-character taxonomic review, systematics, and biogeography of the black-capped/tawny-bellied screech owl (Megascops atricapilla-M. watsonii) complex (Aves: Strigidae). Zootaxa4949(3), 401-444. doi:10.11646/zootaxa.4949.3.1

Imagem do banner: corujinha-do-Xingu (Megascops stangiae), de Kleiton Silva, e corujinha-de-Alagoas (Megascops alagoensis), de Gustavo Malacco

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