O Projeto de Monitoramento da Amazônia Andina (MAAP) registrou um total de 242 focos de incêndio na Amazônia Legal brasileira entre 28 de maio e 12 de agosto. Somados, equivalem a 127.866 hectares queimados – quase a área do município de São Paulo.
Mais de dois terços desses incêndios ocorreram nas duas primeiras semanas de agosto, indicando o início da temporada de queimadas na Amazônia. Terras desmatadas no começo do ano são agora queimadas para se transformar em pastagens e áreas de cultivo. Segundo o MAAP, 95% dos incêndios foram ilegais.
Quatorze dos focos de incêndios ocorreram em unidades de conservação. Destas, as mais afetadas foram as Florestas Nacionais de Jamanxim e Altamira, no Pará – áreas afetadas pela mineração, pela extração de madeira e pela grilagem.
Um total de 242 focos de incêndio foram registrados na Amazônia Legal brasileira entre 28 de maio e 12 de agosto. Somados, equivalem a 127.866 hectares queimados – quase a área do município de São Paulo. Mais de dois terços desses incêndios (165) ocorreram nas duas primeiras semanas de agosto, indicando o início da temporada de queimadas na Amazônia. Os dados são registrados em tempo real pelo Projeto de Monitoramento da Amazônia Andina (MAAP).
Segundo o MAAP, 95% dos incêndios foram ilegais, violando o decreto federal de 15 de julho que proíbe queimadas no Brasil por 120 dias. Apenas dois dos focos registrados foram confirmados como incêndios florestais, totalizando 1.447 hectares. O restante ocorreu em terras desmatadas nos últimos dois anos, ressaltando a importância do desmatamento como catalisador de incêndios na Amazônia.
“Argumentamos que a questão central é na verdade o desmatamento. Os incêndios são, na verdade, um indício incandescente dessa perda de floresta”, afirma o relatório do MAAP.
No ano passado, o MAAP analisou imagens de satélite da base de dados Planet Explorer e detectou que muitos dos incêndios de 2019 queimaram áreas previamente desmatadas no início do mesmo ano, destinadas a pastagens e áreas de cultivo. Com base nessa descoberta, o MAAP previu que os locais de incêndio em 2020 seguiriam o exemplo, ocorrendo em áreas que sofreram desmatamento no começo do ano.
Os últimos dados de desmatamento da Amazônia brasileira divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revelaram que 9.205 quilômetros quadrados – maior que a Região Metropolitana de São Paulo – foram desmatados nos últimos 12 meses. Isto representa um aumento de 34,5% em relação ao mesmo período do ano anterior.
O MAAP monitora incêndios na Amazônia por meio de um aplicativo para identificar áreas com elevadas emissões de aerossol, causadas por grandes quantidades de queima de biomassa. Um “grande incêndio” é definido como aquele com um índice de aerossol > 1 (de ciano a vermelho no aplicativo). Assim que um alerta é detectado, o MAAP analisa as imagens de satélite de alta resolução para confirmar o incêndio.
O app também compara imagens de satélite ano a ano para determinar se o incêndio começou após um evento de desmatamento recente. Esta medida é diferente dos amplamente divulgados hotspots detectados por satélites, que já somam dezenas de milhares nesta estação seca.
“Nós damos dois passos além dos habitualmente relatados (e muitas vezes enganosos, na minha opinião) alertas baseados em calor, para rastrear incêndios maiores com muito mais precisão”, diz Matt Finer, especialista em pesquisas sênior e diretor do MAAP.
Tanto a Nasa quanto o Inpe usam satélites com tecnologia infravermelha de detecção de calor para identificar os focos de incêndio. Esses satélites, porém, podem ter uma capacidade limitada de detectar fogos menores e no sub-bosque, invisíveis a grandes distâncias, que podem ser substanciais em florestas tropicais como a Amazônia.
No Brasil, 14 dos incêndios relatados em 2020 ocorreram em unidades de conservação. As mais afetadas são as Florestas Nacionais de Jamanxim e Altamira, no estado do Pará – áreas conhecidas pela ação de grileiros. A Floresta Nacional de Jamanxim foi duramente atingida pelo desmatamento em 2019, perdendo mais de 3% de sua cobertura florestal somente em maio de 2019. Aqueles que vivem na área dizem que a retórica antiambientalista de Bolsonaro incentivou grileiros e madeireiros a limpar as terras protegidas e vender a propriedade a fazendeiros a preços inflacionados.
A Floresta Nacional de Altamira, por sua vez, teve um aumento de 85% no desmatamento em 2019 em relação ao período anterior. A mineração de ouro e estanho, a extração madeireira e a pecuária foram os principais motores de desmatamento na unidade de conservação. “Enfatizamos, no entanto, que esses incêndios [nas Florestas Nacionais de Jamanxim e Altamira] ocorreram em áreas recentemente desmatadas; não são incêndios florestais [de ocorrência natural]”, diz o relatório do MAAP. “Novamente, o principal problema é o desmatamento.”
Citação:
Finer M, Nicolau A, Villa L (2020) 200 Major Amazon Fires in 2020: Tracker Analysis. MAAP.
Imagem do banner: Foco de incêndio em Alta Floresta, Mato Grosso, em julho de 2020. Foto: Christian Braga / Greenpeace.