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60% das aldeias da Amazônia estão a mais de 200 km de um leito de UTI

Imagem do banner: Matsi Waura Txucarramãe, do povo Kayapó, na aldeia Piaraçu (MT). Foto: André Oliveira Cebola/InfoAmazonia.

  • ONG mapeia as distâncias que separam as aldeias indígenas da Amazônia Legal de um leito de UTI.

  • Um terço das 3.141 aldeias analisadas está a mais de 400 quilômetros das unidades de cuidados intensivos.

  • Um exemplo é o do povo Yanomami da aldeia Maturacá, que precisaria viajar 3 horas de avião até uma unidade de saúde dotada de respirador.

  • Há menos de 5 mil respiradores em toda a Amazônia Legal, e mais de metade dos municípios não tem nenhum.

A pandemia do novo coronavírus representa uma ameaça especialmente sorrateira para as aldeias remotas na Amazônia, onde o leito de UTI mais próximo fica, em média, a 315 quilômetros de distância. Para algumas comunidades, a distância pode ser mais de três vezes maior. E, mesmo assim, a maioria dos municípios amazônicos não tem respiradores.

Nessas regiões, é essencial manter aldeias inteiras isoladas da presença de pessoas de fora, mas a invasão de madeireiros ilegais, garimpeiros e grileiros, bem como o trânsito de viajantes entre as aldeias e as cidades, representa uma ameaça iminente.

Segundo o Instituto Socioambiental, até o final de maio já haviam sido confirmados 1312 casos de covid-19 entre indígenas no Brasil.

A ONG InfoAmazonia gerou uma série de gráficos que ilustram a distância das aldeias até as UTIs e o número de respiradores na Amazônia Legal. Os dados foram obtidos no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde do Ministério da Saúde e no Sistema de Cadastro de Aldeias (SisAldeia), da Funai. Segundo a InfoAmazonia, este é um projeto de mapeamento colaborativo e não inclui todas as aldeias amazônicas.

Mais da metade (58,9%) das 3.141 aldeias analisadas está localizada a mais de 200 quilômetros de um leito de UTI, e 10% destas estão entre 700 e 1.079 quilômetros de distância.

A assistência à saúde indígena é fornecida em unidades básicas dentro dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs), mas o sistema só cobre casos de baixa complexidade, de modo que respiradores e leitos de UTI devem ser compartilhados com a população em geral, servida pelo SUS.

Alguns indígenas, como os Yanomami da aldeia Maturacá, em Roraima, precisariam viajar 3 horas de avião até uma unidade básica dotada de respirador. Não existem conexões por terra nem por rio entre a aldeia e Boa Vista, a capital mais próxima. Nas comunidades mais distantes do Alto Rio Negro, no Amazonas, a viagem pelo rio pode levar mais de uma semana.

Para as pessoas nessas áreas, a distância não é o único desafio. Cidades como Manaus têm enfrentado superlotação dos hospitais, e o risco de uma longa espera por um leito de UTI ou mesmo de falta de leitos é uma possibilidade real.

Comunidade indígena Yanomami. Foto: CB V. Santos/Força Aérea Brasileira.

Concentração de respiradores

“Casos graves da covid-19 também significam falta de ar para o paciente e, portanto, a imediata necessidade de um respirador, para ajudar o ar a circular pelo pulmões. Os dados também revelam que esse é um dos grandes gargalos do acesso à saúde indígena na Amazônia”, publicou a InfoAmazonia num artigo sobre a análise dos dados.

Apenas 4.760 ventiladores pulmonares estão disponíveis pelo SUS nos nove estados da Amazônia Legal. Em março de 2020, quase 8% não funcionavam, segundo dados do Ministério da Saúde.

Mais de metade dos municípios da Amazônia (66,5%) não tem nenhum respirador. Esses municípios somam mais de 8 milhões de habitantes, incluindo 203 mil indígenas, de acordo com dados de 2020 do IBGE.



Imagem do banner: Matsi Waura Txucarramãe, do povo Kayapó, na aldeia Piaraçu (MT). Foto: André Oliveira Cebola/InfoAmazonia. 

Liz Kimbrough é redatora da Mongabay. Encontre-a no Twitter @lizkimbrough_

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