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‘Guardião da Floresta’ é assassinado em emboscada na Amazônia

  • Paulo Paulino Guajajara, líder indígena de apenas 26 anos, foi assassinado na sexta-feira em uma emboscada — supostamente por madeireiros — na Terra Indígena Arariboia, um dos territórios indígenas mais ameaçados do País, localizado Maranhão.

  • Paulo era membro dos “Guardiões da Floresta”, um grupo de 120 indígenas Guajajara que arriscam suas vidas combatendo a extração ilegal de madeira na Terra Indígena Arariboia. Os Guardiões também atuam na proteção dos indígenas isolados Awá Guajá, considerado um dos grupos indígenas mais ameaçados no planeta.

  • O líder indígena Laércio Guajajara, outro Guardião, também foi atingido por tiros, mas conseguiu escapar e depois foi levado para um hospital, segundo o cacique Olímpio Iwyramu Guajajara, líder dos Guardiões. Os três estavam sendo ameaçados por madeireiros.

  • A Polícia Federal e a polícia do Maranhão estão investigando o caso, que também resultou na morte de um madeireiro, segundo os Guardiões. O assassinato é o mais recente em um cenário crescente de violência contra os povos indígenas desde que Jair Bolsonaro assumiu o poder em janeiro.

Um jovem líder indígena Guajajara foi assassinado na sexta-feira — supostamente por madeireiros — na Amazônia, aumentando a preocupação sobre o crescimento da violência contra protetores da floresta no governo de Jair Bolsonaro.

Paulo Paulino Guajajara, de 26 anos, foi baleado na cabeça e morto em uma emboscada na Terra Indígena Arariboia, no Maranhão – fato confirmado à Mongabay pelo cacique Olímpio Iwyramu Guajajara. O assassinato havia sido anunciado na noite de sexta-feira pela Mídia Índia, plataforma de produção de conteúdo indígena por representantes de várias etnias.

Paulo era membro dos “Guardiões da Floresta”, um grupo de 120 indígenas Guajajara que arriscam a vida lutando contra a extração ilegal de madeira na Terra Indígena Arariboia, um dos territórios indígenas mais ameaçados do país. Os Guardiões também agem para proteger os indígenas isolados Awá Guajá, caçadores-coletores descritos pela ONG Survival International como o grupo indígena mais ameaçado do planeta.

O líder indígena Paulo Paulino Guajajara foi morto a tiros em uma emboscada, supostamente por madeireiros na Amazônia. Ele era um dos “Guardiões da Floresta”, um grupo de indígenas Guajajara que arrisca suas vidas combatendo a exploração ilegal de madeira na Terra Indígena de Arariboia (MA). Ele posou para esta foto em 31 de janeiro de 2019. Imagem: Karla Mendes / Mongabay

“É uma notícia muito triste. Perdemos um guerreiro que protegia a vida e a floresta. Ele foi covardemente assassinado por causa de seu trabalho para defender a vida. O sistema de justiça brasileiro tem que punir os culpados”, disse Olímpio, líder dos Guardiões, à Mongabay.

O líder Laércio Guajajara, também um “Guardião”, foi atingido por dois tiros — um nas costas e outro no braço durante a emboscada —, mas conseguiu fugir e ser socorrido no hospital, segundo o cacique. De acordo com Olímpio, os três vinham sendo ameaçados por madeireiros há vários meses.

Paulo Paulino Guajajara (à esquerda) e Laércio Guajajara (à direita) posam para uma foto antes de sair para uma operação de monitoramento na Terra Indígena Arariboia, no Maranhão, em 30 de janeiro de 2019. Imagem: Karla Mendes / Mongabay

A Polícia Federal e a polícia do Maranhão estão investigando o caso, que também resultou na morte de um madeireiro, segundo os Guardiões. O corpo de Paulo foi sepultado no domingo à noite; o do suposto madeireiro ainda não foi localizado.

Em nota, a Fundação Nacional do Índio (Funai) informou ter mobilizado sua assessoria técnica especial, liderada por João Rosa, que é perito aposentado da Polícia Federal, para investigar o caso. Em um post no Twitter, o ministro da Justiça, Sergio Moro, disse que nenhum esforço será poupado “para levar os responsáveis por este crime grave à Justiça”.

O Guardião da Floresta Laércio Guajajara foi atingido por dois tiros de raspão durante uma emboscada supostamente feita por madeireiros na Amazônia. Nesta foto, ele incendeia campo de extração ilegal de madeira em 31 de janeiro de 2019. Imagem: Karla Mendes / Mongabay

Aumento da violência nos governos Temer e Bolsonaro

A violência contra os povos indígenas aumentou nos últimos anos, tornando o Brasil um dos países mais perigosos do mundo para povos indígenas e ativistas ambientais: 135 indígenas foram assassinados em 2018, um aumento de quase 23% em relação a 2017, de acordo com um relatório divulgado no mês passado pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI).

O relatório também incluiu dados preliminares para 2019: houve 160 casos de invasão de terras, exploração ilegal de recursos naturais e danos à propriedade em 153 territórios indígenas durante os primeiros nove meses do governo Bolsonaro. Esses números marcam um aumento significativo em relação a 2018, quando foram registrados 111 incidentes desse tipo em 76 territórios indígenas durante todo o ano, segundo o CIMI.

O grupo Guardiões da Floresta foi criado no final de 2012 e, desde então, destruiu cerca de 200 acampamentos ilegais de madeira dentro da reserva indígena, segundo Olímpio. Ele disse que a situação na Arariboia piorou com o novo governo. Atualmente, os Guardiões estão montando uma ONG e um página na internet para receber doações destinadas a proteger seu território.

Desde sua posse em janeiro, Bolsonaro anunciou medidas polêmicas, como planos de abrir territórios indígenas para a mineração e o agronegócio em larga escala, bem como propostas para enfraquecer leis e órgãos ambientais. Embora a maioria dessas medidas ainda precise ser implementada, alguns opositores dizem que a eleição de Bolsonaro incentivou madeireiros ilegais e grileiros a invadir terras indígenas e desmatar a Amazônia, fatos para os quais há fortes evidências.

Os “Guardiões da Floresta” posam para uma foto na Terra Indígena Arariboia, no Maranhão, em 31 de janeiro de 2019. Imagem: Karla Mendes / Mongabay

Reações de indignação

O assassinato do Guardião Paulo Paulino Guajajara provocou reação imediata de grupos indígenas e ONGs internacionais.

“Lamentavelmente, é essa a constatação do genocídio autorizado [resultante] da aliança [do governo Bolsonaro] com o agronegócio e empresários. Os ‘Guardiões’ estão fazendo seu trabalho de monitoramento, mas o discurso do [Presidente] o tempo todo de [que vai] abrir a Amazônia para o agronegócio e a mineração promovem essa violência ”, disse à Mongabay Sônia Guajajara, líder da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB).

A APIB também divulgou uma nota de pesar após o assassinato de Paulo, assim como o CIMI e a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), bem como as ONGs Survival International, Greenpeace e Amazon Watch.

Depois de deixar o hospital, Laércio, ferido, foi levado para um “esconderijo seguro” e está fora de perigo por enquanto, segundo o líder indígena Sílvio Santana Guajajara. Antes de ser socorrido, Sílvio disse que Laércio teve que percorrer 10 quilômetros até chegar à aldeia mais próxima depois de ser baleado. Sílvio disse à Mongabay por telefone que Laércio ainda está em choque e se recusou até agora a prestar depoimento à polícia.

No entanto, o Guardião ferido pegou o telefone imediatamente depois que Sílvio mencionou o nome da repórter da Mongabay que estava na linha: “Katu?”, foi a primeira palavra que disse Laércio. A expressão Guajajara significa “tudo bem?”. E continuou: “Não vou parar não. É lutar até o fim”, disse Laércio a esta repórter.

Olímpio reforçou a afirmação de Laércio: “Enquanto a gente existir, vamos ser os defensores da floresta e da vida”.

O líder indígena Paulo Paulino Guajajara (à esquerda) e Olímpio Iwyramu Guajajara (à direita), líder dos “Guardiões da Floresta”, mostram uma árvore que está na mira de madeireiros na terra indígena de Arariboia, no Maranhão, em 31 de janeiro de 2019. Imagem: Karla Mendes / Mongabay

Quando esta repórter acompanhou os Guardiões em janeiro em uma operação para um documentário, Paulo orgulhosamente nos mostrou um vídeo em que ele comia o coração ainda pulsante de um jabuti – um ritual de seus antepassados para dar proteção e força aos guerreiros da floresta.

“A nossa cultura é a nossa vida. Está no nosso sangue, e a natureza também faz parte da nossa vida”, afirmou Paulo no documentário lançado pela Thomson Reuters Foundation em maio.

Hoje a Thomson Reuters Foundation divulgou um vídeo com a entrevista feita com Paulo na época em que ele relata as ameaças que vinha sofrendo por seu trabalho como Guardião. No vídeo, ele mostra uma emboscada feita por madeireiros para atirar nos Guardiões e denuncia a falta de apoio das autoridades.

“É muito perigoso. Já morreu um dos Guardiões. O nome dele é Afonso. O madeireiro matou ele e nada aconteceu. Nada, nem a justiça”, afirma Paulo no vídeo.

“Lá no povoado tem um… [homem] branco que está jurando me matar… porque eu defendo a floresta… Não prendem o madeireiro e querem prender o Guardião… Nós [nos] sentimos muito sozinhos e sem ajuda. Nós estamos precisando de ajuda”, disse Paulo a esta repórter e ao documentarista Max Baring.

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Imagem do banner: O Guardião da Floresta Paulo Paulino Guajajara foi morto em uma emboscada — supostamente por madeireiros — na Amazônia. Ele posou para esta foto exibindo uma bala encontrada em um campo de extração ilegal de madeira na Terra Indígena Arariboia em 31 de janeiro de 2019. Imagem: Karla Mendes / Mongabay.

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