Números preliminares recém-divulgados sobre o desmatamento na Amazônia referentes ao período de agosto de 2018 a julho de 2019 mostram um aumento de 29,5% em relação ao ano anterior. Foram derrubados 9.762 quilômetros quadrados de floresta, mais do que o dobro da taxa de 2012, ano em que o desmatamento voltou a crescer após um notório período de declínio.
Apesar do aumento do desmatamento, o governo de Jair Bolsonaro afirma que o crescimento é normal e semelhante a outras altas de desflorestação registradas várias vezes desde 2012. Contudo, críticos apontam o discurso do governo e a desregulação ambiental como parte do “efeito Bolsonaro”, que levou ao desmatamento desenfreado.
A defesa do governo não leva em consideração que os novos dados cobrem apenas o período até julho. Em agosto de 2019, a taxa de desmatamento cresceu 222% em relação ao mesmo período de 2018; em setembro, o crescimento foi de 96%. O “efeito Bolsonaro” completo sobre o desmatamento só será verificado quando o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) revelar os números totais em novembro do ano que vem.
Até agora, o governo não fez nada para mudar sua retórica inflamada ou suas políticas antiambientais, então há motivos suficientes para esperar que os níveis de desmatamento do Brasil continuem a subir. Este texto é um artigo de opinião. As ideias expressas aqui são as do autor, não necessariamente as da Mongabay.
Em 18 de novembro, o governo divulgou os números preliminares do desmatamento na Amazônia entre agosto de 2018 e julho de 2019 – um aumento de 29,5% em relação ao ano anterior. Um total de 9.762 quilômetros quadrados foram desmatados nesse período, mais do que o dobro da taxa de 2012, ano em que o desmatamento voltou a crescer após um notório período de declínio.
O anúncio foi feito em conjunto pelos ministros Marcos Pontes, da Ciência e Tecnologia, e Ricardo Salles, do Meio Ambiente. Segundo este último, os números indicam que o governo de Jair Bolsonaro, empossado em janeiro de 2019, não tem relação com o aumento das taxas de desmatamento. Ele argumentou que o crescimento deste ano faz parte de uma tendência de elevação que vem acontecendo desde que o desmatamento atingiu seu ponto mais baixo, em 2012.
Lamentavelmente, o aumento da perda florestal em 2019 pode certamente ser atribuído ao governo Bolsonaro – embora em 2013 e 2016 o desmatamento tenha se aproximado da taxa deste ano.
Apesar de o aumento deste ano ser só um pouco mais alto do que nos dois anos com porcentagens similares, deve-se lembrar que os dados divulgados pelo Prodes se referem a um período que vai só até 31 de julho. Nos meses seguintes, a taxa de desmatamento explodiu para níveis bem acima dos registrados nos mesmos meses do ano anterior: em agosto de 2019, o aumento foi de 222%, e o valor de setembro foi 96% maior em relação a 2018. Como resultado, o reflexo do “efeito Bolsonaro” só aparecerá nos dados do programa Prodes do Inpe quando os números de 2020 forem divulgados daqui a um ano.
O aumento do desmatamento e das queimadas é resultado tanto de um discurso antiambiental constante quanto de ações concretas de desmonte de órgãos ambientais e da suspensão de multas por desmatamento ilegal. A retórica e o retrocesso institucional foram documentados em detalhe num artigo publicado na revista Environmental Conservation.
O discurso do presidente e de seu ministro do Meio Ambiente sugere repetidamente que as leis ambientais podem ser violadas impunemente. Uma mensagem clara de que não haverá consequências para essas violações foi passada quando Salles e a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, visitaram uma plantação ilegal de soja numa área indígena de Mato Grosso, onde posaram para fotos com o maquinário e elogiaram a operação.
O fato é que pessoas que agem na fronteira do desmatamento não acompanham a publicação de decretos e leis no Diário Oficial, nem leem os detalhes das mudanças legais relatadas nos principais jornais do país. Em vez disso, sua informação vem das redes sociais, que rapidamente espalham a notícia de cada declaração inflamada do presidente e de seus ministros contra órgãos ambientais, ambientalistas e ONGs. É o clima gerado por este discurso que influencia o comportamento. Este ano, muitas pessoas flagradas violando leis ambientais responderam imediatamente que o presidente “liberou” tudo.
O desmatamento subiu desde 2012 devido ao crescimento contínuo de forças que impulsionam a perda de floresta, como a construção e a melhoria de estradas, o aumento da população e mais investimentos. O efeito indireto da expansão da soja teve, sem dúvida, um papel importante, já que os produtores da leguminosa passaram a comprar muitas fazendas de gado em Mato Grosso – tanto no Cerrado quanto em antigas áreas de Floresta Amazônica. Os fazendeiros, por sua vez, usam o dinheiro da venda das propriedades para comprar terras mais baratas em áreas mais setentrionais da Amazônia, especialmente no Pará, onde derrubam a floresta em grande escala para criar gado. O Pará foi o estado que mais contribuiu para a perda de vegetação desde 2006, quando ultrapassou Mato Grosso como campeão em desmatamento.
As perspectivas para 2020 são desalentadoras. Os dados do Prodes incluirão o desmatamento que já ocorreu de agosto de 2019 em diante, que até agora totaliza 3.929 quilômetros quadrados, segundo o sistema de monitoramento Deter. (O total oficial produzido pelo sistema Prodes será ainda maior, já que o Deter não detecta todo o desmatamento.)
A estação chuvosa acabou de começar, mas, quando a seca chegar novamente em 2020, pode-se esperar outro aumento no desmatamento. Nada mudou no discurso do governo, e o desmonte das instituições ambientais do país continua. O planejamento de várias estradas, represas e outros projetos na Amazônia implica ainda mais desmatamento pela frente.