Entre agosto de 2018 e julho de 2019, um total de 9.762 km² de floresta primária foi desmtado na Amazônia brasileira, de acordo com dados divulgados na semana passada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
A área, equivalente à Região Metropolitana de São Paulo, representa a maior taxa de desmatamento em 11 anos.
Especialistas contatados para esta matéria disseram à Mongabay que o aumento de 30% do desmatamento no ano passado pode ser ainda maior nos próximos meses, devido à falta de fiscalização e à derrubada de grandes áreas antes dos incêndios registrados em agosto e setembro de 2019.
O aumento do desmatamento é resultado direto das ações do presidente Jair Bolsonaro, que desmantelou agências e políticas ambientais com o objetivo de abrir áreas protegidas da Amazônia ao agronegócio e à mineração, segundo os especialistas.
Se medidas eficazes para deter o desmatamento não entrarem em vigor, é provável que a maior taxa de destruição da Amazônia brasileira em mais de uma década aumente ainda mais durante o mandato do presidente Jair Bolsonaro, alertam especialistas.
Entre agosto de 2018 e julho de 2019, uma área total de 9.762 km² de floresta primária — um pouco menor que a Região Metropolitana de São Paulo — foi destruída, segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) na semana passada.
Especialistas contatados para esta matéria disseram à Mongabay que o aumento de 30% do desmatamento no ano passado pode ser ainda maior nos próximos meses, devido à falta de fiscalização e à derrubada de árvores em grandes áreas antes dos incêndios registrados em agosto e setembro de 2019.
“Estamos agora na nova temporada de desmatamentos, que começou em agosto de 2019. Já nos primeiros meses, temos visto mais desmatamento do que no mesmo período da última temporada”, diz Carlos Souza Jr., pesquisador sênior do Imazon, uma entidade sem fins lucrativos cuja missão é promover a conservação e o desenvolvimento sustentável na Amazônia. “Se o governo federal continuar agindo assim, haverá ainda mais desmatamento nos próximos meses.”
O governo Bolsonaro tem sido altamente criticado por seu papel no desmatamento e na destruição das florestas. Embora as taxas anuais tenham crescido nos últimos 11 anos, o pico observado em 2019 é, segundo muitos especialistas, um resultado direto das ações do governo.
“O aumento [no desmatamento] é, definitivamente, resultado da retórica do presidente Bolsonaro e de suas ações concretas no desmantelamento do Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis]”, afirma Philip Fearnside, ecologista do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em entrevista à Mongabay. Fearnside chamou isso de “efeito Bolsonaro”.
As ações negativas do atual governo foram examinadas tanto por acadêmicos como pela mídia. Algumas delas incluem o enfraquecimento da legislação florestal e de agências ambientais nacionais, a redução de áreas protegidas, a aprovação de agrotóxicos nocivos à saúde, a negligência e o perdão de crimes ambientais e a negação das mudanças climáticas.
“O que é desalentador no governo Bolsonaro é que ele está destruindo leis e salvaguardas ambientais que levaram muitos anos para serem criadas”, afirma William Laurance, ecologista da Universidade James Cook, da Austrália, e membro do conselho consultivo da Mongabay. “O dano que Bolsonaro está causando vai durar muito além de seu mandato como presidente, pois os demônios que ele está liberando são notoriamente difíceis de controlar.”
O Ministério do Meio Ambiente não se manifestou sobre os pedidos de resposta em relação às críticas em relação ao governo.
Por que o desmatamento está aumentando?
As taxas de desmatamento já atingiram níveis mais altos no passado — 27 mil km² em 2004 e 29 mil km² em 1995 —, mas esses picos estavam intimamente ligados a uma expansão da economia impulsionada pelo boom de commodities“, aponta Cláudio Almeida, técnico sênior do Inpe.
“O aumento atual tem valores absolutos muito mais baixos. No entanto, é preocupante que, mesmo em um contexto de crise econômica, o desmatamento apresente uma tendência ascendente constante por cerca de sete anos”, acrescenta Almeida.
O crescimento do ritmo de desmatamento, segundo Souza, é alarmante porque em breve mais de 20% da floresta estarão perdidos: “Se continuarmos a desmatar nesse ritmo, podemos chegar mais rapidamente ao ponto de inflexão da floresta”.
Carlos Nobre, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo e especialista em Amazônia e mudanças climáticas, expressa preocupações semelhantes: “As implicações [desses dados] são abrangentes. O mais preocupante é o fato de que uma combinação sinérgica de desmatamento, aquecimento global e maior vulnerabilidade da floresta a incêndios pode levar de 50% a 60% da floresta a um ponto crítico de savanização”.
Nesse cenário, grandes áreas da Amazônia secariam e mudariam de floresta tropical para savana. Já existem evidências de que a Bacia Amazônica está secando mais rapidamente do que os modelos climáticos previam. No sul e leste da Amazônia, a estação seca está se tornando mais longa, mais seca e mais quente.
“Se a duração da estação seca exceder quatro meses”, explica Nobre, “[a Amazônia] se transformará em uma savana tropical seca. O impacto será enorme, resultando em uma liberação de mais de 200 bilhões de toneladas de CO², uma enorme perda de biodiversidade e impactos nos sistemas de chuva de locais distantes na América do Sul.”
Nobre acrescentou que áreas como a várzea dos rios, onde as árvores podem retirar as águas subterrâneas durante todo o ano, podem reter florestas, criando fragmentos florestais. No entanto, esses fragmentos são insuficientes para sustentar a vida selvagem da Amazônia, incluindo animais como onças e macacos, que precisam de grandes extensões de mata para viver.
O que pode ser feito?
O maior obstáculo à redução do desmatamento, segundo Souza, é a falta de ações para implementar medidas de controle do desmatamento. “O Brasil sabe fazer isso e reduziu com sucesso o desmatamento”, afirma ele, referindo-se a um plano de ação para a prevenção e controle do desmatamento na Amazônia Legal, região que abrange os nove estados amazônicos do Brasil. Conhecido como PPCDAm, esse plano, implantado entre 2004 e 2015, tratava da posse de terra e planejamento territorial, fazia monitoramento e controle ambiental e fomentava a produção sustentável.
“O que eu acredito”, diz Almeida, “é que fazer com que as taxas de desmatamento caiam novamente exigirá forte fiscalização e monitoramento com a presença do Estado. Ao mesmo tempo, a sociedade precisa renegociar medidas de produção sustentável, como a moratória da produção somente em áreas desmatadas antes do Código Florestal.”
Exportações de carne bovina, soja e minérios continuam a impulsionar o desmatamento. Se as empresas forem mais rigorosas na busca por produtos livres de desmatamento, aponta Nobre, o desmatamento poderá ser drasticamente reduzido em apenas cinco anos. Isso se houver mudanças rápidas e sistêmicas nas cadeias produtivas e ações efetivas de aplicação da lei. Caso contrário, ele diz, “é provável que o desmatamento em 2019-2020 fuja do controle”.
Imagem do banner: Árvore morta em área de pastagem no município de Novo Progresso, no Pará. Foto: Vinícius Mendonça/Ibama [CC BY 2.0]