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Novo aplicativo rastreia incêndios florestais na Bolívia

  • Novo aplicativo utiliza dados de partículas em suspensão e imagens de satélite recentes para rastrear incêndios nas florestas da Bolívia em tempo real.

  • Os desenvolvedores, que fazem parte do Projeto de Monitoramento da Amazônia Andina (MAAP), dizem que o uso inédito desses dados de aerossol, originalmente voltados para a monitoração da qualidade do ar, representa um avanço significativo nos alertas tradicionais de temperatura.

  • De acordo com a ONG Friends of Nature (FON), mais de 41 mil quilômetros quadrados foram devastados pelas queimadas na Bolívia em 2019.

Um novo aplicativo criado para rastrear incêndios florestais na Bolívia pode revolucionar a maneira como autoridades e bombeiros os combatem, permitindo identificar os focos de maneira mais precisa e segura. O aplicativo, lançado em 25 de setembro, foi criado por pesquisadores do Projeto de Monitoramento da Amazônia Andina (MAAP), coordenado pela Associação de Conservação da Amazônia.

O Amazon Fires — Bolivia analisa dados sobre as partículas poluidoras que ficam presas nas massas de ar acima do foco do incêndio, coletados por um sensor do satélite Sentinel-5, da Agência Espacial Europeia. Combinando esses dados de “aerossol” com as imagens de satélite recentes obtidas com o Google Earth Engine, usuários do aplicativo conseguem identificar os focos de incêndio em “tempo quase real”.

A recent fire in the dry forests of the Bolivian Amazon. Image courtesy of MAAP with data from Planet.
Incêndio recente nas florestas secas da Amazônia boliviana. Foto cedida pelo MAAP com dados da Planet.

As autoridades geralmente usam diferenças de temperatura detectadas por satélites para localizar focos de incêndio. Entretanto, de acordo com Matt Finer, diretor do MAAP e um dos desenvolvedores do aplicativo, esse método geralmente inclui filtrar “milhares de pontos vermelhos” com muito ruído, o que pode ou não indicar que um incêndio está acontecendo no momento.

“Ao mesmo tempo, descobrimos essa nova ferramenta, que nos deixou muito surpresos, que são os novos dados [de aerossol] da Agência Espacial Europeia”, diz Finer.

O sensor Tropomi, do satélite Sentinel-5, usa o comportamento da luz ultravioleta na atmosfera para detectar as emissões de poluentes provenientes de incêndios, erupções vulcânicas e redemoinhos de poeira, ajudando os cientistas a prever possíveis problemas de saúde pública relacionados à qualidade do ar.

No entanto, o novo aplicativo pode ajudar os bombeiros a agir de forma muito mais rápida, o que é essencial quando as florestas naturais estão em chamas, diz Finer.

Fires burning near the border of Bolivia and Paraguay. Image courtesy of MAAP with data from Planet.
Incêndio na fronteira da Bolívia com o Paraguai. Foto cedida pelo MAAP com dados da Planet.

Mais de 41 mil quilômetros quadrados de terra foram queimados na Bolívia em 2019, de acordo com a ONG Friends of Nature (FON). Milhares de hectares de floresta seca nas regiões de Chiquitanía e do Chaco viraram fumaça este ano, diz Finer. (Em comparação, Finer e seus colegas demonstraram que muitos dos incêndios que colocaram a Amazônia brasileira sob os holofotes da mídia recentemente aconteceram em terrenos já desmatados.)

Na Bolívia, “surgiu essa necessidade de informar bombeiros e autoridades governamentais sobre a localização dos incêndios ativos”, disse ele. “Porque, de fato, as queimadas estão devastando ecossistemas naturais.”

O aplicativo permite que o usuário arraste uma camada de dados de aerossol sobre as imagens de satélite recentes. Uma escala de cores que mede os níveis de aerossol, dos mais baixos (preto) aos mais altos (vermelho), indica a intensidade das emissões em uma área específica.

Lucio Villa, da ONG peruana Conservación Amazónica, que coordenou a criação do aplicativo, diz que usaram alertas de incêndios tradicionais para testar como os dados de aerossol lhes permitiam identificar os incêndios maiores e mais persistentes. Eles descobriram que as partículas poluentes suspensas no ar proporcionavam um monitoramento mais preciso e em tempo real. Além disso, as nuvens não interferem nos cálculos do índice de aerossol UV.

Soy abuts the forest in the Bolivian Chaco. Image by Rhett A. Butler/Mongabay.
Plantação de soja contígua à floresta no Chaco boliviano. Foto de Rhett A. Butler/Mongabay.

“Você consegue ver rapidamente onde estão os incêndios”, diz Finer, classificando o aplicativo como um “grande avanço”.

Marcos Terán, diretor executivo da Conservación Amazónica, diz que compartilhou a nova ferramenta com gestores de parques na Bolívia. “Eles estão percebendo a importância desse tipo de ferramenta para tentar mobilizar os guardas florestais e outros atores da área a combater os incêndios de forma eficiente.”

“Os bombeiros são os verdadeiros heróis nesta história”, resume Terán. “Nós tentamos ajudá-los com algumas ferramentas para melhorar a segurança.”

Foto do banner: Chaco boliviano. De Rhett A. Butler/Mongabay.

John Cannon é redator da Mongabay. Siga-o no Twitter: @johnccannon

Citação:

Villa L. & Finer M. (2019). Fires in the Bolivian Amazon — Using Google Earth Engine to Monitor. MAAP: 111.

Reportagem original: https://news.mongabay.com/2019/09/amazon-fires-app-bolivia-forest/

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