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Uma Amazônia saudável e produtiva é a base da soberania do Brasil (comentário)

  • O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, gosta de afirmar que estrangeiros não têm o direito de opinar sobre o futuro da Amazônia porque esta é uma questão de soberania nacional. Ao apresentar esse argumento, Bolsonaro acaba criando uma enorme conspiração, de acordo com a qual órgãos como a ONU tentam “internacionalizar” a Amazônia, alegando que ela pertence ao mundo.

  • Com o avanço dos incêndios, algumas pessoas nas redes sociais estão propondo a ideia de que a Amazônia é um bem comum universal. Porém, esse discurso vai exatamente ao encontro da narrativa de Bolsonaro, fortalecendo ainda mais seu argumento.

  • Ao invés disso, as pessoas de todo o mundo que estão realmente preocupadas deveriam falar sobre como uma Amazônia saudável e produtiva na verdade solidifica a soberania do Brasil ao fortalecer a segurança alimentar, hídrica e energética, ao mesmo tempo em que mantém as boas relações com os países vizinhos.

  • Este post é um comentário. As opiniões expressadas são do autor, não necessariamente do Mongabay.

O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, gosta de afirmar que estrangeiros não têm o direito de opinar sobre o futuro da Amazônia porque esta é uma questão de soberania nacional. Sua lógica é a seguinte: a Amazônia brasileira é um território soberano do país e, portanto, o Brasil tem o direito de fazer o que quiser com ela, seja desmatá-la para abrir novas áreas para pastagem e plantações de soja, seja tomar a decisão de conservá-la.

Ao apresentar esse argumento, Bolsonaro acaba criando uma enorme conspiração, de acordo com a qual órgãos como a ONU tentam “internacionalizar” a Amazônia, alegando que ela pertence ao mundo. Essa teoria da conspiração não é nova: durante a ditadura militar que ocorreu entre 1964 e 1985 no país, essa narrativa era comum e ainda hoje é utilizada com frequência por opositores dos esforços de conservação da floresta.

Agora, com a atenção do mundo todo voltada para os incêndios na Amazônia, Bolsonaro está novamente usando essa retórica. Hoje, por exemplo, ele citou a soberania do Brasil (e o que entendeu como sendo “insultos” de Emmanuel Macron após ter ofendido a esposa do presidente francês) como desculpa para recusar uma contribuição de $20 milhões do G7 para combater os incêndios.

CANDEIRAS DO JAMARI, RONDÔNIA, BRAZIL: Aerial view of a large burned area in the city of Candeiras do Jamari in the state of Rondônia. (Photo: Victor Moriyama / Greenpeace)
Vista aérea de uma grande área em chamas na cidade de Candeias do Jamari, no estado de Rondônia, em 23 de agosto de 2019. (Foto: Victor Moriyama/Greenpeace).

Com o avanço dos incêndios, algumas pessoas nas redes sociais estão propondo a ideia de que a Amazônia é um bem comum universal. Porém, esse discurso vai exatamente ao encontro da narrativa de Bolsonaro, fortalecendo ainda mais seu argumento.

Essa é uma abordagem equivocada por parte daqueles que estão preocupados com o futuro da floresta. Ao invés disso, as pessoas de todo o mundo que estão realmente preocupadas deveriam falar sobre como uma Amazônia saudável e produtiva na verdade solidifica a soberania do Brasil ao fortalecer a segurança alimentar, hídrica e energética, ao mesmo tempo em que mantém as boas relações com os países vizinhos.

Esse argumento vai direto ao ponto e está embasado na boa ciência – ciência feita por cientistas brasileiros.

Tempestade sobre a Amazônia. Há diversos outros motivos além dos serviços do ecossistema pelos quais uma Amazônia saudável e produtiva é tão valiosa para o Brasil. Um deles é o fato de cerca de um milhão de indígenas viverem na floresta tropical. Foto de Rhett A. Butler/Mongabay.

Em suma, desestruturar a função ecológica da Amazônia põe em risco a base econômica do Brasil. Em outras palavras: uma Amazônia saudável e produtiva é necessária para uma economia brasileira saudável e produtiva.

Visão por satélite do Rio Juruá via Google Earth com imagens dos programas Landsat/Copernicus. Este comentário leva em consideração somente o valor da Amazônia do ponto de vista de seus serviços hídricos, não considerando questões como armazenamento de carbono, biodiversidade e outros serviços do ecossistema, bem como o fato de que o bioma sustenta aproximadamente um milhão de indígenas.

Quando Bolsonaro agrada sua base falando em abrir a Amazônia para o desmatamento, ele está adotando uma abordagem de curtíssimo prazo. Os agropecuaristas estarão entre os maiores perdedores no longo prazo se a floresta tropical se transformar em um ecossistema mais seco.

Ao invés de falar sobre a internacionalização da Amazônia, os críticos do presidente do Brasil e de suas políticas deveriam buscar pontos em comum com seus apoiadores. O bem-estar econômico do Brasil parece ser um bom ponto de partida.

Imagem do título: visão por satélite da Bacia Amazônica via Google Earth com imagens dos programas Landsat/Copernicus.

Artigo original: https://news.mongabay.com/2019/08/a-healthy-and-productive-amazon-is-the-foundation-of-brazils-sovereignty/

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