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Autoridades investigam assassinato de líder indígena na Amazônia brasileira

  • Uma força-tarefa está investigando o assassinato do líder indígena Emyra Wajãpi, encontrado morto, esfaqueado, em 23 de julho, perto da aldeia indígena Waseity, onde morava, no norte do estado do Amapá, de acordo com o Conselho das Aldeias Wajãpi (Apina).

  • Na noite de 26 de julho, um grupo de 50 garimpeiros – alguns, supostamente armados com rifles e metralhadoras – teriam invadido a aldeia vizinha Yvytotõ e ameaçado moradores, obrigando-os a fugir, relatou o Apina. Autoridades estão investigando a suposta invasão.

  • A violência no Amapá surgiu com o presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro, que continua pressionando pela legalização das operações de mineração e agronegócio dentro de reservas indígenas protegidas. Grupos indígenas argumentam que a retórica do presidente encoraja invasões de terras indígenas, aumentado a violência contra os nativos.

  • As aldeias indígenas onde supostamente ocorreram os crimes fazem parte da reserva indígena Wajãpi, uma área de cerca de 6.000 km² (2.317 milhas quadradas), rica em ouro e outros minerais.

Autoridades brasileiras estão investigando o assassinato de um líder indígena no norte do estado do Amapá, na região da Amazônia, onde a violência aumentou desde que um grupo de 50 garimpeiros –13 deles com suspeita de estarem fortemente armados – supostamente invadiram a reserva indígena Wajãpi.

Na manhã de 23 de julho, o cacique Emyra Wajãpi foi encontrado morto, esfaqueado perto da aldeia indígena Waseity, onde morava, de acordo com o Conselho das Aldeias Wajãpi (Apina). Sua morte não foi testemunhada por nenhum wajãpi, disse o Apina em um comunicado.

Na noite de 26 de julho, um grupo de homens não indígenas armados com rifles e metralhadoras teriam invadido a aldeia vizinha Yvytotõ e ameaçado moradores, obrigando-os a fugir para a aldeia mais próxima Mariry, de acordo com o Apina.

As aldeias indígenas onde supostamente ocorreram os crimes fazem parte da reserva indígena Wajãpi, uma área de cerca de 6.000 km² (2.317 milhas quadradas), rica em ouro e outros minerais, demarcada como área protegida em 1996. Metade de seu território está dentro da Reserva Nacional de cobre e associados (RENCA), que o ex-presidente Michel Temer tentou abolir em setembro de 2017. Porém, Temer foi forçado a recuar de sua decisão após protestos internacionais o acusarem de vender a Amazônia aos interesses de mineração estrangeiros.

A Polícia Federal e o Ministério Público Federal do Amapá divulgaram investigações sobre os eventos dentro da reserva Wajãpi após denúncias de violência divulgadas pelo senador Randolfe Rodrigues nas redes sociais. Depois de receber pedidos de ajuda de grupos indígenas, Rodrigues exigiu ação imediata das autoridades para evitar mais confrontos diretos entre invasores e comunidades indígenas.

“Estamos em perigo. Solicitamos ajuda do Exército e da Polícia Federal. Se nenhuma ajuda for enviada em breve, precisaremos agir por conta própria”, disse Jawaruwa Wajãpi, vereador indígena do estado do Amapá, em uma mensagem de áudio enviada a Rodrigues.

Jawaruwa Wajãpi, vereador indígena no estado do Amapá, caça na região de Okakai, em 2012. Ele relatou violência na reserva indígena Wajãpi. Imagem de Bruno Caporrino.

O senador reconheceu que essa é a primeira invasão violenta da reserva Wajãpi desde sua demarcação em 1996. “Temos que nos unir para evitar o banho de sangue que está prestes a acontecer. Estamos em contato com os líderes indígenas para pedir que não façam retaliação antes que as forças armadas do governo cheguem”, disse Rodrigues.

Investigações controversas

A FUNAI, órgão de assuntos indígenas do Brasil, disse em um comunicado que oficiais estão no local investigando ambos os casos, junto com agentes da Polícia Federal e do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) da Polícia Militar do Amapá.

Segundo a FUNAI, uma força-tarefa federal e estadual foi criada para investigar conflitos indígenas na região. Entretanto, a Polícia Federal disse em um último relato, que “não há indicação, até agora, da presença de grupo (s) armado (s) na área”. A FUNAI especificou que um relatório detalhado será divulgado.

O presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro, que não comentou sobre o assassinato e a invasão até segunda-feira de manhã, disse ao jornal Folha de São Paulo que “não há provas concretas” de que o líder indígena foi assassinado: “Procurarei desvendar o caso e mostrar a verdade sobre isso”, disse Bolsonaro.

Entretanto, em um comunicado anterior, a FUNAI havia dito que a presença de invasores “é real e essa tensão… na região é alta” e pediram aos Wajãpi, que não se aproximassem de invasores não indígenas para evitar o agravamento do conflito.

Em seu último comunicado, o Apina disse que quando os policiais chegaram às aldeias Mariry e Yvytotõ não havia invasores presentes, apenas seus vestígios. “A polícia marcou os pontos [usando] GPS e tirou fotos… [porém] eles disseram que não poderiam procurar os invasores na floresta”, relatou o Apina, acrescentando que em seguida, a polícia retornou à capital do Amapá, Macapá.

O presidente Jair Bolsonaro em uma cerimônia em Brasília. Imagem da Presidência do Brasil via Flickr Commons (CC BY 2.0).

Pressão crescente para desenvolver reservas indígenas

A violência no Amapá surgiu com o presidente Jair Bolsonaro, que continua pressionando pela legalização das operações de mineração e agronegócio dentro de reservas indígenas protegidas.

Em 27 de julho, Bolsonaro disse que planeja nomear seu filho, Eduardo Bolsonaro, como embaixador do Brasil nos EUA, para que ele possa atrair investimentos do país americano para explorar minérios em territórios indígenas. Na semana passada, durante uma visita a Manaus, o presidente reafirmou sua meta de legalizar a mineração, apesar da contaminação e dos danos decorrente de desmatamento causados a várias reservas indígenas, incluindo os territórios dos Yanomami (nos estados de Roraima e Amazonas), os Munduruku (no Pará), e os povos Cinta-larga (em Rondônia).

Kleber Karipuna, representante da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), afirmou uma correlação direta entre a invasão e as políticas do governo federal. “Os conflitos que vemos, estão relacionados a tudo que esse governo vem fazendo em termos de direitos indígenas, tanto em palavras quanto em ação. Quando se incentiva a população a portar armas, por exemplo, também se estimula o confronto e o assassinato dos povos indígenas”.

Segundo o antropologista Bruno Caporrino, que atuou como conselheiro em um programa de pesquisa com o povo Wajãpi de 2009 a 2016, o grupo indígena vinha monitorando a presença de mineiros em seu território, mas até agora as ocupações eram ocasionais e discretas. Na sua opinião, os crimes recentes podem apontar para uma nova tendência alarmante, pelo qual os invasores pretendem enviar a seguinte mensagem: “A partir de agora, é assim que vamos atuar. Com a aprovação do estado”.

Imagem do banner: Os indígenas Wajãpi relatam a invasão de garimpeiros na reserva Wajãpi no estado brasileiro do Amapá. -Imagem cortesia da Rede de Cooperação Amazônica.

Artigo original: https://news.mongabay.com/2019/07/authorities-investigate-murder-of-indigenous-leader-in-brazilian-amazon/

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