Aumento das invasões de terras

O estado nordestino Maranhão está sofrendo com o rápido desmatamento, invasões de reservas indígenas por especuladores de terras; tudo isso aumentou desde que Bolsonaro tomou posse, disse uma mulher indígena no acampamento de abril deste ano.

“Quando esse governo começou, sentimos imediatamente ameaçadas pelos fazendeiros, madeireiros; eles pensaram que podiam tomar posse [da nossa terra] e fazer o que eles querem porque ele [Bolsonaro] permitiu que eles invadissem nossa terra,” sem punição, explicou Cintia Maria Santana da Silva, líder do grupo indígena Guajajara/Tenetehara que faz parte da Reserva Araribóia.

“As terras indígenas pertencem ao governo federal, mas [os funcionários do governo] esquecem que estamos lá, cuidando [delas] e [oferecendo] vigilância,” disse a líder que tem 50 anos.

“As terras indígenas pertencem ao governo federal, mas [os funcionários do governo] esquecem que estamos lá, cuidando [delas] e [oferecendo] vigilância.” – Cintia Maria Santana da Silva, uma líder do povo Guajajara/Tenetehara da Reserva Araribóia no estado do Maranhão. Imagem por Karla Mendes / Mongabay

Existem atualmente mais de 300 grupos indígenas em todo o Brasil que falam 274 idiomas e possuem tradições amplamente diferentes. As reservas indígenas reconhecidas oficialmente – em diferentes estágios de demarcação – representam por volta de 13 por cento da superfície terrestre do Brasil.

Entretanto, muitos territórios ancestrais de indígenas continuam desprotegidos e não estão demarcados devido ao processo demasiado lento do governo – apesar de estar previsto na Constituição de 1988.

Bolsonaro “está cumprindo [suas promessas] e tentando destruir nossos direitos que estão presentes na Constituição Brasileira. Estamos imensamente preocupados, porque lutamos bastante, nós [ganhamos] nossos direitos, e agora estamos ameaçados. E não temos paz nos nossos territórios,” disse Silva.

Na Reserva Indígena Governador, também no Maranhão, o povo Gavião também vê uma elevação nos números das invasões ilegais e no desmatamento desde que o Bolsonaro tomou posse, disse a líder indígena Maria Helena Gavião.

“Eu acho que [a população rural] está se sentindo mais representada com esse governo, por isso eles não têm mais vergonha de entrar nas áreas indígenas,” explicou Gavião. Ela acredita que o Bolsonaro não está “fazendo nada de bom” para os povos indígenas, mas a pior coisa que ele disse até agora foi “não será demarcado nem mais um centímetro para as reservas indígenas.”

“Isso é uma afronta contra nós, isso é uma violação dos nossos direitos…Esse governo é anti-indígena. Não estamos felizes com ele, com o que ele tem feito,” disse a líder Gavião.

Aconteceram, pelo menos, 14 casos de invasões ilegais no Brasil de janeiro a março de 2019, a maior parte delas na Amazônia, um aumento de 150 por cento desde que o Bolsonaro está no poder, de acordo com o relatório publicado pela ONG Amazon Watch em abril deste ano, citando as estatísticas coletadas pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), um grupo de monitoramento que faz parte da igreja católica.

De acordo com a Amazon Watch, essas ocupações ilegais podem ser conectadas com “a retórica agressiva anti-indígena emanada em Brasília, sinalizando que uma propagação séria do abuso contra os nativos e suas terras estão por vir.”

Mulheres em destaque na luta pelas terras

As mulheres indígenas estão rapidamente ganhando posições de liderança no Brasil. Entre as figuras mais proeminentes conhecidas no âmbito nacional e internacional está Joênia Wapichana, a primeira mulher indígena na história eleita no Congresso Brasileiro; ela tomou posse em janeiro; e Sônia Guajajara, líder da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB). Há incontáveis mulheres na linha de frente, defendendo suas terras nativas. Canoé, Silva e Gavião são bons exemplos; todas elas são defensoras dos territórios ancestrais da Amazônia.

“Existia uma intensificação da liderança feminina com o crescimento dos conflitos por terras, mas essa proeminência sempre existiu. As mulheres são fundamentais na luta das terras e na luta pelos direitos em geral,” disse a antropologista Lauriene Seraguza, uma pesquisadora que foca nas questões de terras indígenas no estado do Mato Grosso do Sul.

As mulheres têm um papel muito importante na organização política e familiar…e são fundamentais nos processos de recuperação de terras, pois são elas que mantém a família, que organizam o espaço…Dessa maneira, elas sofrem um impacto muito grande em não ter suas terras demarcadas,” disse a pesquisadora, que está estudando pós-graduação sobre o papel das líderes indígenas Guarani-Kaiowá no Mato Grosso do Sul.

“As mulheres indígenas trabalham junto com os homens na defesa das nossas terras — esse é nosso lar, nossa educação, nossa saúde. Por isso estamos sempre lutando, juntamente com os homens, tentando ajudar de alguma maneira, trazendo visibilidade para os problemas que estão acontecendo dentro dos nossos territórios indígenas,” disse Gavião.

Pela primeira vez vai acontecer uma marcha de mulheres indígenas em Brasília, 9-12 de agosto com o tema “Território, Nosso Corpo, Nosso Espírito.” Acontecerá juntamente e em solidariedade com a Marcha das Margaridas lideradas por trabalhadoras rurais; essa marcha acontece todos os anos desde 2010.

“Nós apenas queremos viver de maneira livre no nosso território, do nosso jeito,” disse Silva.

Descrição da imagem do banner: Mulheres indígenas possuem um papel importante nos protestos do Acampamento Terra Livre desse ano em Brasília. Elas dizem que vão ter um papel muito maior no futuro. Imagem de Karla Mendes / Mongabay.

Artigo original: https://news.mongabay.com/2019/05/resisting-to-exist-indigenous-women-unite-against-brazils-far-right-president/

Matéria publicada por Maria Salazar
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