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Estudo confirma que desmatamento reduz o acesso a água limpa

  • Um estudo recente comparou dados sobre desmatamento com informações sobre o acesso residencial a água limpa no Malawi.

  • Segundo os cientistas, o país perdeu 14% das suas florestas entre os anos 2000 e 2010. O efeito dessa perda sobre o acesso a água limpa equivale ao efeito provocado por uma redução de 9% do volume de chuva.

  • Com a previsão de uma maior variabilidade pluviométrica em decorrência das alterações climáticas atuais, os autores propõem que uma maior área florestal em países como o Malawi pode atenuar os impactos da mudança climática.

Segundo um estudo recente conduzido no Malawi, o desmatamento pode reduzir o acesso de comunidades a água limpa.

Várias pesquisas anteriores sobre o impacto do desmatamento na dinâmica da água confirmaram que a destruição de florestas leva a surtos de escoamento de água, aumentando o que os cientistas chamam de water yield (disponibilidade hídrica, em tradução livre). Hisahiro Naito, economista e professor associado da Universidade de Tsukuba, no Japão, escreveu em um e-mail que tais estudos geralmente sugerem que “esse desmatamento não provoca um efeito negativo sobre o acesso a água; contestamos essa análise.”

O fato de haver mais água disponível não significa que ela é palatável ou segura o suficiente para o consumo humano. Sem o solo da floresta para absorver a água, o escoamento provoca erosão e desloca sedimentos que acabam por contaminar os sistemas de tratamento – os quais já são raros em boa parte do Malawi.

Colheita de amendoim em uma estação de pesquisa agrícola no Malawi. Imagem por Swathi Sridharan via Wikimedia Commons (CC BY-SA 2.0).

Segundo Hisahiro, ele e sua colega Annie Mwayi Mapulang acreditam que sua publicação é “a primeira a estudar diretamente o acesso a água limpa potável e o desmatamento”. Primeiro, a dupla reuniu dados de satélites do Ministério de Recursos Naturais, Energia e Mineração do Malawi que mostravam o processo de desmatamento no país entre os anos 2000 e 2010. Em seguida, compararam esses dados com informações sobre abastecimento residencial de água e sua potabilidade a partir de pesquisas sobre demografia e saúde realizadas no país entre os anos 2000 e 2010.

A análise da equipe controlou uma variedade de fatores que podem influenciar as fontes de água potável da comunidade para que a pesquisa pudesse se concentrar apenas nos efeitos do desmatamento. Hisahiro e Annie apresentaram seus resultados no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences em 25 de março deste ano.

Segundo seus cálculos, na primeira década do século 21, a cobertura florestal do Malawi encolheu mais de 14%. Outro estudo recente mostrou que o índice de desmatamento do país está entre os mais elevados do continente africano, em grande parte devido à destruição das florestas para fins agrários e produção de lenha. Esse declínio reduziu a quantidade de água potável disponível para a população nativa – uma redução equivalente à redução provocada por uma queda de 9% do volume de chuva.

“A princípio, [uma] redução de 9% parece pequena”, diz Hisahiro. Mas um declínio desse porte reduz a probabilidade de um malawiano mediano ter acesso a água limpa em mais de 5 pontos percentuais.

Praia no Lago Malawi. Imagem por Stefan7 via Wikimedia Commons (CC BY-SA 3.0).

Além disso, o desmatamento no Malawi não começou no ano 2000. Segundo Hisahiro, a onda atual remonta no mínimo à década de 1970. Ele afirma que, desde 1990, o efeito do desmatamento sobre a disponibilidade de água equivale a uma queda de 18% do volume de chuva. A probabilidade histórica de tal fato ocorrer por acaso é bastante remota – menor que 8%. Hisahiro diz ainda que, sem os efeitos adicionais do desmatamento, é possível que o Malawi conseguisse tolerar essas raras reduções do abastecimento hídrico.

Contudo, as mudanças climáticas podem alterar esse cálculo. À medida que a temperatura global aumenta, cientistas preveem maiores oscilações pluviométricas. Com isso, explica Hisahiro, a quantidade de chuva em um determinado ano pode ser 30% maior ou menor que a médica histórica, por exemplo. Os anos mais secos, se combinados com o desmatamento constante, podem ser desastrosos para o Malawi – um país onde, em 2010, cerca de 17% da população ainda obtinha água de fontes não seguras.

Reserva Florestal de Dzalanyama, no Malawi. Imagem cortesia do Ministério de Recursos Naturais, Energia e Mineração do Malawi.

Hisahiro afirma que, por outro lado, um maior patrimônio florestal – que pode ser obtido ampliando-se os esforços de reflorestamento – pode amortecer o impacto dessas oscilações decorrentes das mudanças climáticas.

“Nosso estudo mostra que, se houver mais florestas no Malawi, o país conseguirá resistir a esses eventos, e as pessoas ainda terão acesso a água limpa”, diz ele.

Imagem do banner: crianças em uma escola no Malawi; por Swathi Sridharan/ICRISAT via Wikimedia Commons (CC BY-SA 2.0).

John Cannon mora no Oriente Médio e escreve artigos para a Mongabay. Siga-o no Twitter: @johnccannon

Citações

Mapulanga, A. M., & Naito, H. (2019). Effect of deforestation on access to clean drinking water. Proceedings of the National Academy of Sciences, 201814970. doi:10.1073/pnas.1814970116

Ngwira, S., & Watanabe, T. (2019). An Analysis of the Causes of Deforestation in Malawi: A Case of Mwazisi. Land, 8(3), 48. doi:10.3390/land8030048

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