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Grande desaparecimento de mamíferos na Mata Atlântica desde 1500

  • Um novo estudo investigou o desaparecimento de mamíferos na Mata Atlântica, que atualmente tem apenas 13% do seu tamanho histórico.

  • A devastação da mata por motivos de agricultura, juntamente com a caça, vem diminuindo em uma média superior a 70% o número de espécies que vivem em locais específicos por toda a mata.

  • Os pesquisadores solicitam um aumento no reflorestamento da Mata Atlântica para oferecer habitat e recuperação das espécies.

A Mata Atlântica da América do Sul já foi o lar de uma área “exuberante…megadiversa” com abundante vida de fauna e flora, de acordo com o ecologista Juliano Bogoni. Porém em um artigo publicado no jornal PLOS ONE no dia 25 de setembro, Bogoni e seus colegas informaram que o impacto da mata por causa humanos nos últimos 500 anos reduziu dramaticamente a população de mamíferos.

“Documentamos milhares de locais de extinção,” Bogoni, o autor líder do artigo, que está cursando pós-doutorado na Universidade de São Paulo, escreveu por email para Mongabay.

Um riacho na Mata Atlântica. Imagem de Juliano A. Bogoni/Universidade de São Paulo.

A Mata Atlântica tropical estende-se desde o litoral até às montanhas chegando a uma altura máxima de 3.000 metros. A Mata Atlântica tropical, localizada no sudeste do Brasil, está desaparecendo. Diminuiu de 1.1 milhão de metros quadrado para apenas 143.00 quilômetros quadrados, como resultado da demolição de árvores para revenda e criação de terrenos agrícolas, além da destruição para moradia de pessoas. Esse desaparecimento e destruição de áreas pequenas de habitat, juntamente com a constante caça diminuíram os números de mamíferos, principalmente os de grande e médio porte. Os biólogos realizaram dezenas de estudos em áreas da Mata Atlântica.

Nós humanos, temos concentrado nossos campos de cultivo e de caça em locais de baixa altitude. Nessas áreas era possível encontrar maior densidade de mamíferos comparando com os locais com alta altitude na Mata Atlântica.

“Foi enorme a pressão histórica nesses locais,” declara o coautor Carlos Peres, um biólogo de conservação da University of East Anglia, onde Bogoni adquiriu seu doutorado.

Uma armadilha fotográfica mostra uma jaguaritica (Leopardus pardalis). Imagem de Juliano A. Bogoni/Universidade de São Paulo.

Até o presente momento, ninguém observou por completo o bioma da Mata Atlântica em uma escala da hemorragia dos mamíferos. Dessa maneira, Bogoni coletou e separou as informações desses estudos localizados, examinando por volta de 500 diferentes grupos, ou “amostragem” de espécies por toda a Mata Atlântica. Em cada área, seus colegas e ele, compararam os grupos de mamíferos presentes nesse momento, informações retiradas de pesquisas realizadas nos últimos 30 anos, com aquelas encontradas quando os europeus chegaram na região, por volta de 500 anos atrás.

A equipe descobriu que nenhuma espécie de mamífero entrou completamente em extinção na mata, uma média de mais de 70% das espécies desapareceram de cada uma dessas amostragens.

Pradarias altas no Brasil. Imagem de Juliano A. Bogoni/Universidade de São Paulo.

Os pesquisadores também buscaram além da diversidade das espécies, análises de como a atividade humana afetou as espécies agrupadas por suas funções no ecossistema. Os mamíferos de grande porte são mais propensos a desaparecer, provavelmente porque eles são os favoritos dos caçadores e são mais lentos para se reproduzir comparando com os animais menores, diz Peres.

Os efeitos da perda desta importante espécie pode desorganizar o ecossistema, segundo Bogoni, incapacitando a mata de se regenerar. Os herbívoros de grande porte têm um papel importante como dispersores de sementes. E a perda de grandes predadores, como por exemplo, jaguares, pode significar que aqueles animais que comem plantas, como as capivaras não estejam sob controle.

“O gato-maracajá – um felino selvagem de pequeno porte – [não] caça a Capivara,” declara Bogoni. “Porém, a população da Capivara pode crescer (descontroladamente até que eles sucumbam por outros motivos).”

O muriqui-do-sul (Brachyteles arachnoides). Imagem de Mariana Landis/Universidade de São Paulo.

Na Amazônia, a principal prioridade é conter o desmatamento para salvar os primatas que ainda estão na floresta. Por outro lado, os alvos para a Mata Atlântica são outros,” disse Bogoni.

“Não estamos falando sobre o desmatamento lento porque praticamente não existe mais nada para ser cortado,” disse Peres. “Todo o atrativo da floresta já foi devastado.”

Peres solicita o aumento de reflorestamento em toda a Mata Atlântica. O reflorestamento pode ser custoso, necessita a dedicação dos políticos e pode ter resultados desordenados. Ainda assim, o esforço vale a pena.

“Esse é o momento certo de recuperar um pouco de natureza,” diz ele. “Se você criar o habitat, os animais vão chegar.”

Imagem do banner muriqui-do-sul (Brachyteles arachnoides) por Mariana Landis/Universidade de São Paulo. 

Citações 

Bogoni, J. A., Pires, J. S. R., Graipel, M. E., Peroni, N., & Peres, C. A. (2018). Wish you were here: How defaunated is the Atlantic Forest biome of its medium- to large-bodied mammal fauna? PLOS ONE, 13(9), e0204515.

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