Um novo estudo constatou que é provável que oito espécies de aves tenham desaparecido completamente nas últimas duas décadas.
Pesquisadores recomendam que três espécies atualmente listadas como criticamente em perigo na Lista Vermelha da IUCN sejam reclassificadas como extintas, enquanto uma seja tratada como extinta na natureza.
Quatro outras espécies de aves estão perigosamente ameaçadas de extinção, se já não estiverem extintas, e devem ser reclassificadas como criticamente em perigo (possivelmente extintas), dizem os pesquisadores.
Oito espécies de aves podem ter desaparecido completamente nas últimas duas décadas, conforme constatado por um novo estudo. Entre elas, está a ararinha-azul (Cyanopsitta spixii), um pássaro que inspirou o personagem Blu na animação Rio, lançada em 2011. Encontrada apenas no Brasil, a ave não tem sido observada na natureza desde 2000.
Assim como a ararinha-azul, acredita-se que diversas outras espécies de aves foram extintas nos últimos anos. Para identificar aquelas que podem já ter desaparecido, pesquisadores da BirdLife International, uma parceria mundial de organizações de conservação com foco em aves, analisaram 51 espécies de aves com “uma possibilidade razoável de terem sido extintas”. Foram investigadas espécies que não são vistas na natureza há mais de 10 anos, apesar de pesquisas exaustivas, ou espécies que foram observadas nos últimos 10 anos, mas em uma população muito pequena, que sofreu um declínio bem documentado.
Stuart Butchart, cientista-chefe da BirdLife International, e seus colegas usaram uma nova abordagem estatística para descobrir a probabilidade de extinção das 51 espécies, combinando informações sobre a intensidade das ameaças às espécies de aves, o momento e a confiabilidade dos registros para as espécies, bem como a época e a qualidade dos esforços feitos para pesquisá-las.
Com base nos resultados, os pesquisadores recomendam que três espécies atualmente listadas como criticamente em perigo na Lista Vermelha da IUCN sejam reclassificadas como extintas. Essas espécies incluem o gritador-do-nordeste (Cichlocolaptes mazarbarnetti), visto pela última vez na natureza em 2007; o limpa-folha-do-nordeste (Philydor novaesi), que não é visto na natureza desde 2011; e a trepadeira-de-cara-preta (Melamprosops phaeosoma), que não é vista desde 2004. A ararinha-azul, que tem alguns indivíduos sobrevivendo em cativeiro, deve ser reclassificada como extinta na natureza, disseram os pesquisadores no estudo publicado na Biological Conservation.
A equipe também verificou que quatro outras espécies de aves estão perigosamente ameaçadas de extinção, se já não estiverem extintas. Essas espécies – a Charmosyna diadema, o abibe-preto (Vanellus macropterus), a caburé-de-pernambuco (Glaucidium mooreorum) e a arara-azul-pequena (Anodorhynchus glaucus) – deveriam ser tratadas como criticamente em perigo (possivelmente extintas), dizem os pesquisadores. A categoria “possivelmente extinta” aplica-se a um subconjunto de espécies criticamente em perigo cuja extinção é provável, com base nas evidências disponíveis. No entanto, pode haver relatos locais das espécies que precisam ser verificados ou pode haver uma pequena chance de que futuras pesquisas possam confirmar a presença das espécies.
Embora a maioria dos casos de extinção de aves tenha ocorrido anteriormente em ilhas, a taxa de extinção nos continentes está crescendo no momento, de acordo com o estudo, impulsionada principalmente pelo desmatamento e a perda de habitat, espécies invasoras e a caça e o aprisionamento. Cinco das oito extinções suspeitas ou confirmadas ocorreram na América do Sul. Dessas, cinco ocorreram no Brasil, demonstrando como o desmatamento desenfreado está ocasionando a extinção de espécies, afirmam os pesquisadores.
“Noventa por cento das extinções de aves nos últimos séculos foram de espécies que habitam ilhas”, declarou. Butchart. “Entretanto, os resultados de nossa pesquisa confirmam que há uma onda crescente de extinções que se alastra pelos continentes, impulsionada principalmente pela perda de habitat e pela degradação provocadas pela agricultura e a extração não sustentáveis.”
Citação:
Butchart, S. H., Lowe, S., Martin, R. W., Symes, A., Westrip, J. R., & Wheatley, H. (2018). Which bird species have gone extinct? A novel quantitative classification approach. Biological Conservation, 227, 9-18.
*Correção (09/09/2018): A foto da trepadeira-de-cara-preta na história originalmente identificava por engano a ave como o limpa-folha-do-nordeste. A legenda foi corrigida. Agradecemos aos nossos leitores por terem nos informado do erro.