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A Amazônia e a ciência climática ameaçadas se Bolsonaro for eleito presidente do Brasil (comentário)

  • Fake news e pseudociência tem sido usados como propaganda por apoiadores do candidato de extrema direita Jair Bolsoaro durante sua campanha presidencial, de acordo com um grupo de 18 cientistas latino-americanos.

  • A falta de propostas ambientais pelo candidato em seu programa político é de grande preocupação para a comunidade científica.

  • A promessa de fusão dos ministérios de agricultura e meio ambiente deve expandir as atividades agrícolas e de mineração, especialmente na Amazônia, e a promessa feita de retirar o Brasil do Acordo do Clima de Paris, podem fazer a presidência de Bolsonaro perigosa não apenas ao Brasil, mas para todo o mundo.

  • Este artigo é um comentário. As visões aqui apresentadas represetam os autores, não necessariamente o Mongabay. Uma lista completa dos autores é apresentada no final do comentário.

O Brasil é o guardião da maior floresta tropical do planeta, possui uma das maiores áreas cultivadas do mundo e a maior população entre as nações sul-americanas. É portanto, de grande preocupação, não apenas para o brasileiros, mas também para toda humanidade, que um político neste país ignore assuntos relacionados às mudanças climáticas globais e ao meio ambiente.

O tempo está se esgotando para o mundo agir no sentido de mitigar as mudanças climáticas. Especialmente quando as superpotências EUA e China fazem muito pouco para descarbonizar as suas economias. Agora, o Brazil está à caminho de eleger Jair Bolsonaro como presidente, sua própria visão de Donald Trump, com todas as implicações globais envolvidas.

De acordo com o programa de governo registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), as propostas políticas de Bolsonaro carecem de medidas direcionadas ao meio ambiente e à mitigação das mudanças climáticas. Ao contrário, seu programa apoia políticas que são de grande preocupação para a comunidade científica, incluindo a fusão dos ministérios da agricultura e do meio ambiente (com um ministro “sugerido por produtores do agronegócio”), o que deve promover a expansão de atividades agrícolas e de mineração na Amazônia. Além disto, não há qualquer menção sobre uma transição para energias limpas.

Apesar de não constar no seu plano de governo, Bolsonaro declarou em entrevistas à mídia sua intenção de retirar o Brasil do Acordo do Clima de Paris, evitando assim, qualquer comprometimento do Brasil em termos de redução de emissões de gases do efeito estufa. Esta política de negação climática – encorajada pelo exemplo de Trump – coloca o planeta em alto risco dado o curto espaço de tempo que temos para mudar a sociedade globalmente no sentido de manter o aquecimento global abaixo do 1.5 graus centígrados, conforme estabelecido pelo relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas das Nações Unidas.

Em particular, a exploração e o deflorestamento da Amazônia, apoiado por Bolsonaro, pode levar a mudanças negativas drásticas em muitos níveis ecológicos. Tais políticas podem aumentar os efeitos diretos do aquecimento, diminuir drasticamente a biodiversidade, exacerbar extremos climáticos e impactar negativamente a dinâmica regional.

Além disto, Bolsonaro falha em apresentar medidas eficientes para capacitar a ciência no Brasil. De acordo com o candidato, universidades e ciência devem entrar na fila atrás de empreendedores e companhias. Ele diz ainda que a ciência básica e as ciências ambientais não serão prioridade no seu governo, o que provavelmente significa que haverá mais cortes orçamentais.

Enquanto isto, fake news que apoiam Bolsonaro são espalhadas de forma rápida e eficiente no Brasil, com apoiadores que fazem uso de agumentos pseudocientíficos. Com a desinformação fora de controle, o candidato presidenial e seu time confundem ainda mais seus eleitores com suas constantes contradições em suas políticas e posições.

Uma presidência de Bolsonaro – sem garantia de proteção socioambiental para a Amazônia e o clima global – representa um grande retrocesso para o Brasil e o planeta.

Autores deste comentário: Eliane Gomes-Alves; Ana María Yáñez-Serrano; Jorge Saturno; Samara Carbone; Pamela Dominutti; Sebastián Diez; Stefan Wolff; Janaína Nascimento; Ana Paula Pires Florentino; Natália Targhetta; Blanca Yáñez Serrano; Tomas Chor; Lucas Emilio Hoeltgebaum; Simone Silva; André Luís Diniz dos Santos; Nora Zannoni; Cybelli Barbosa; Marcia Munik Mendes Cabral.

Tradução: Samara Carbone

Referências

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