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Existem mais gorilas e chimpanzés na África Central do que era imaginado

  • Um estudo conduzido pelos pesquisadores da WCS coletou dados de uma pesquisa sobre a fauna no período entre 2003 e 2013 em 59 locais de cinco país no ocidente da África Central.

  • Com esse estudo foram desenvolvidos modelos matemáticos para entender onde e porquê estão as maiores densidades de gorilas e chimpanzés e também onde estão as maiores tendências nas populações.

  • Foi encontrado mais de 361.000 gorilas da planície ocidental (Gorilla gorilla gorilla) e quase 129.000 chimpanzés comuns (Pan troglodytes troglodytes) presentes nessas florestas – cerca de 30% a mais de gorilas e 10% a mais de chimpanzés do que estimado anteriormente.

  • A análise da equipe também demonstrou que o gorila da planície central passou para uma porcentagem de 2,7 no ano.

Potencializando ainda mais os dados pesquisados até o momento referente aos gorilas e chimpanzés que vivem no Ocidente da África Central, os cientistas concluíram que existem mais de duas subespécies do que foi estimado anteriormente, porém que a maioria delas vivem fora dos parques de proteção e reservas.

“São boas notícias que as florestas da África Equatorial Ocidental ainda possuem centenas de milhares de gorilas e chimpanzés, mas também sabemos que muitos primatas estão fora das áreas de proteção e estão vulneráveis à caça, às doenças e à degradação e perda do habitat,” informa em uma declaração a cientista de Conservação Samantha Strindberg da Wildlife Conservation Society (WCS).

O estudo produziu uma estimativa da população total de chimpanzé comum, o número é de quase 130.000 indivíduos, aproximadamente um décimo mais de chimpanzés do que era estimado. Imagem de Emma Stokes/WCS.

Strindberg e a coautora cientista de conservação da WCS, Fiona Maisels, liderou uma equipe de mais de 50 pesquisadores na coleta de dados para a pesquisa sobre a fauna entre 2003 e 2013 em 59 locais em cinco países. Os pesquisadores de campo caminharam por volta de 8.700 quilômetros para coletar informações utilizadas no estudo, cobrindo uma área de 192.00 quilômetros quadrados – uma área maior que a Síria ou o estado de Washington, nos Estados Unidos.

Eles publicaram o trabalho de autoria própria no dia 26 de abril no jornal Science Advances.

Os pesquisadores encontraram mais de 361.000 gorilas da planície ocidental (Gorilla gorilla gorilla) e quase 129.000 chimpanzés comuns (Pan troglodytes troglodytes) vivendo nessas florestas. Esse número é 30% a mais de gorilas e por volta de 10% a mais de chimpanzés do que foi estimados na última pesquisa.

“As equipes de pesquisa de campo e os parceiros são cruciais para o sucesso desses programas e para a conservação dos gorilas e chimpanzés,” disse o coautor do estudo, Dave Morgan, um biólogo juntamente com o Lincoln Park Zoo lideraram o projeto: Goualougo Triangle Ape Project, no norte da República do Congo, informaram na declaração do WCS.

Durante essas investigações, os pesquisadores também coletaram dados de outros animais. Em 2013, o jornal PLOS ONE publicou publicou dados similares coletados nas florestas sobre elefantes (Loxodonta cyclotis) com a conclusão surpreendente de que o número de elefantes na floresta da África Central diminuiu por volta de 60% entre 2002 e 2011. Maisels declarou que os membros da equipe também têm planos de realizar uma análise similar nos antílopes da floresta ainda esse ano.

Dois chimpanzés comuns observando as redondezas desde uma árvore. Imagem de Emma Stokes/WCS.

Após coletar a informação, a equipe criou modelos matemáticos para entender onde estão localizados e porquê. Onde estão localizadas as maiores densidades de gorilas e chimpanzés, assim como as maiores tendências de populações.

A análise da equipe demonstra que apesar do grande número de gorilas da planície ocidental que vivem na região, isso demonstra que está próximo dos 2.7 por cento no ano. É uma comprovação adicional que demonstra que a IUCN deve continuar listando as subespécies de gorilas que estão em perigo crítico de extinção ou que estejam apenas a um passo de ser extinto da natureza.

A informação não indica uma mudança similar nos números de chimpanzés em perigo. Porém, isso não significa que não esteja acontecendo uma queda nos números, Maisels informa que a análise realizada por eles não conseguiu recolher a informação significativa sobre a tendência.

“O que é certo é que eles têm dificuldade assim como os gorilas têm em se recuperar após uma queda de populacional,” Maisels disse a Mongabay. Assim como os gorilas, os chimpanzés demoram a amadurecer e a se reproduzir. Isso faz com que voltem a receber grandes perdas após um aumento de população, mesmo que as perdas sejam resultados de doenças, perca de habitat ou caça ilegal – as três principais ameaças de sobrevivência dos animais.

Uma pesquisa anterior demonstrou que as doenças, como por exemplo, as causadas pelo vírus Ebola podem diminuir os número de primatas de grande porte em até 90 por cento em áreas específicas, conforme disse Maisels. Da mesma forma, a caça ainda é uma ameaça séria, apesar das leis nacionais e internacionais que proíbem a morte de primatas de grande porte e outras espécies em perigo de extinção.

Inganda e Inguka, filhotes gêmeos de gorila da planície ocidental nas costas da mãe quando eles tinham um ano, em Bai Hokou, República Africana Central. Imagem de Terence Fuh Neba/WWF Central African Republic.

“Todos os primatas de grande porte, estejam eles na África ou na Ásia estão ameaçados pela caça ilegal, especialmente pelo comércio ilegal de carne de animais,” informa David Greer, primatologista da WWF e coautor na declaração para a WCS.

Porém o estudo também demonstra que os parques e concessões para a extração de madeira podem reduzir substancialmente essa ameaça.

“Nosso estudo descobriu que os primatas de grande porte podem viver com segurança, e em números elevados, em locais reservados comparando com aqueles que vivem em um local não protegido,” disse Greer.

Os locais que oferecem concessão para a extração de madeira podem ser a “próxima melhor benefício” para as áreas protegidas, diz Maisels, caso eles aderissem aos padrões determinados pelo Forest Stewardship Council (Conselho de Gestão Florestal) de cortar poucas árvores por hectare, para manter os caçadores longe e fechar as estradas construídas para auxiliar na extração na madeira no momento em que elas não forem mais utilizadas.

O norte da República do Congo é a residência de dezenas de milhares de primatas de grande porte, assim como as indústrias madeireiras que funcionam como uma máquina econômica para o país. Os números de gorilas se mantém razoavelmente estáveis nas áreas de concessão “bem administradas”, diz Maisels, de acordo com a pesquisa de Dave Morgan e seus colegas no jornal Biological Conservation publicado recentemente.

Um macho adulto (silverback) de gorila da planície ocidental em Bai Hokou, República Africana Central. Imagem de Terence Fuh Neba/WWF Central African Republic.

A informação obtida é que 80 por cento dos chimpanzés comuns e gorilas da planície ocidental da região vivem fora das áreas protegidas, por essa razão a boa administração dessas áreas de concessões seja ainda mais crítica. Entretanto, em uma estratégia abrangente para proteger esses animais. “As Áreas protegidas são de suma importância, porque elas podem ser administradas com mais confiança e a longo prazo comparando com outros tipos de concessão,” informa Maisels.

Ela explica que é mais difícil para as autoridades em transformar um parque em uma plantação de bananas, palmeiras ou outra plantação do que converter uma reserva ambiental para essas finalidades. Para a liberação necessária dessa floresta e realizar o plantio, devastaria o habitat de primatas de grande porte e um número incontável de outras espécies.

O estudo surgiu a partir do plano de ação da IUCN sobre os gorilas da planície ocidental e os chimpanzés comuns realizado em 2014 que explica uma série de diferentes passos para proteger as subespécies tanto em nível local quanto em nível regional. Isso demonstra que a combinação de estratégias poderia ser suficiente para oferecer alguma esperança para as regiões que possuam risco de extinção de primatas de grande porte, informa Liz Williamson, primatologista da Universidade de Stirling e coautor do documento.

A combinação responsável de práticas industriais, políticas de conservação e rede de parques e corredores bem administrados forneceria à fauna uma administração com uma fórmula vencedora para a conservação dos primatas de grande porte na África Central,” diz Williamson na declaração para a WCS. “Nosso estudo revelou que não é tarde para garantir o futuro dos gorilas e chimpanzés.”

Imagem do banner: filhotes de gorilas da planície ocidental por Terence Fuh Neba/WWF Central African Republic.

John Cannon é um escritor da equipe Mongabay. Encontre-o no Twitter: @johnccannon

CITAÇÕES

Bermejo, M., Rodríguez-Teijeiro, J. D., Illera, G., Barroso, A., Vilà, C., & Walsh, P. D. (2006). Ebola outbreak killed 5000 gorillas. Science, 314(5805), 1564-1564.

Maisels, F., Strindberg, S., Blake, S., Wittemyer, G., Hart, J., Williamson, E. A., … & Bakabana, P. C. (2013). Devastating decline of forest elephants in Central Africa. PloS one, 8(3), e59469.

Morgan, D., Mundry, R., Sanz, C., Ayina, C. E., Strindberg, S., Lonsdorf, E., & Kühl, H. S. (2017). African apes coexisting with logging: Comparing chimpanzee (Pan troglodytes troglodytes) and gorilla (Gorilla gorilla gorilla) resource needs and responses to forestry activities. Biological Conservation.

Strindberg, S., Maisels, F., Williamson, E. A., Blake, S., Stokes, E. J., Aba’a, R., … Wilkie, D. S. (2018). Guns, germs, and trees determine density and distribution of gorillas and chimpanzees in Western Equatorial Africa. Science Advances, 4(4).

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