Notícias ambientais

Novo estudo: lianas trepadeiras alteram as margens das florestas fragmentadas

  • Uma nova pesquisa revelou que um grupo de plantas trepadeiras chamadas lianas germinam em números maiores ao longo das margens das florestas fragmentadas do que em áreas menos perturbadas.

  • Pesquisas anteriores mostraram que as lianas podem matar árvores ou fazê-las armazenar menos carbono, e também podem afetar a diversidade de espécies arbóreas da floresta.

  • Para assegurar um ecossistema saudável e funcional, os gestores poderiam separar zonas de proteção ao redor das margens desses pedaços ou aumentar o tamanho das áreas protegidas como um todo.

Cortar florestas tropicais para abrir espaço à agropecuária e a outras atividades causa algumas alterações no ecossistema, muitas das quais os cientistas estão apenas começando a entender.

Um estudo recente, que observa como plantas tipo vinhas colonizam as margens dos cada vez menores fragmentos florestais, traz uma nova peça ao quebra-cabeça. Uma equipe de ecologistas reporta que um grupo de plantas trepadeiras chamadas lianas germinam em números maiores ao longo das margens desses fragmentos menos perturbados.

Uma liana subindo ao dossel. Foto de Mason Campbell/James Cook University.

As lianas são similares às vinhas por se agarrarem às árvores como forma eficiente de economizar energia para subir ao dossel florestal. Pesquisas anteriores mostraram que as lianas podem matar árvores ou fazê-las armazenar menos carbono, e sua presença também pode afetar a diversidade de espécies arbóreas da floresta. Dessa forma, elas transformam o habitat dos animais e organismos locais. Em outras palavras, alterações no crescimento e número das lianas podem causar mudanças fundamentais na estrutura de uma floresta e na maneira como essa funciona, ressaltando a importância de proteger as margens florestais.

Quando uma árvore cai ou uma área da floresta é removida, uma dose incomum de luz solar atinge o solo florestal, e as lianas estão naturalmente entre as plantas que brotam quando estas perturbações ocorrem, disse Mason Campbell, botânico da James Cook University em Cairns, Austrália, e autor principal do estudo.

“Se há uma grande extensão de floresta, as lianas são como curativos que consertam a queda de uma só árvore e que [também] selam a margem”, disse Campbell à Mongabay.

Mas quando os humanos dividem, ou “fragmentam”, as florestas em pedaços cada vez menores, as lianas se tornam mais numerosas. Elas também penetram mais profundamente no interior do que nos blocos maiores e mais intactos da floresta, descobriram Campbell e seus colegas.

“Na verdade, elas entram nas clareiras criadas pelas árvores caídas e impedem a sucessão”, disse ele. Isso significa que elas impedem a floresta de se regenerar de forma normal após quedas de árvores do interior ou das margens. Essas perturbações podem ocorrer quando um fazendeiro desmata para agricultura ou quando um ciclone — comum no norte da Austrália onde Campbell fez sua pesquisa — derruba muitas árvores.

Mason Campbell, o autor principal da pesquisa, mede o diâmetro de uma árvore em Atherton Tablelands. Foto de Mason Campbell/James Cook University.

Há milhares de anos, uma erupção vulcânica formou um manto de solo fértil em uma região conhecida como Atherton Tablelands, criando uma das “melhores florestas tropicais” da Austrália, disse Campbell. Ainda hoje, ela ostenta a maior densidade populacional de Dendrolagus lumholtzi (uma espécie de canguru-arborícola) do continente, e faz parte dos Trópicos Úmidos de Queensland, Patrimônio da Humanidade da UNESCO.

Mas a fertilidade do solo também significa que é um lugar excelente para a agropecuária, e ao longo dos anos as pessoas desmataram muita floresta, deixando um punhado de fragmentos florestais: “muito ruim para a natureza, mas muito bom para estudar”, disse Campbell.

“É como um laboratório natural,” adicionou ele.

Para observar o impacto das lianas, Campbell e sua equipe compararam tanto florestas fragmentadas quando florestas intactas de Atherton Tablelands. Nos terrenos estudados, a equipe mediu com precisão o dossel florestal, contaram as árvores e mediram os diâmetros das mesmas. Também observaram o tamanho e o número de lianas presentes ao redor das margens desses blocos. Em geral, os fragmentos florestais tinham menos dossel florestal, resultando em mais lianas, além de uma variedade diferenciada de espécies destas comparado com o que os pesquisadores encontraram nas florestas intactas. Eles publicaram seu trabalho online no dia 02 de abril na revista Ecology and Evolution.

Atherton Tablelands em Queensland, Austrália. Foto de Mason Campbell/James Cook University.

Estas novas revelações sobre as lianas mostram a necessidade de cuidar dos fragmentos florestais de maneira diferente. Em um lugar como Atherton Tablelands, isso poderia significar ir além de proteger áreas florestais como pontos turísticos ou relíquias que ilustram como era a floresta, disse Campbell. Para assegurar um ecossistema saudável e funcional, os gestores poderiam separar zonas de proteção ao redor das margens desses pedaços ou aumentar o tamanho das áreas protegidas como um todo, para antes de tudo manter as margens livres de pertubações que encorajam a infiltração das lianas e os seus impactos na floresta.

“Isso,” disse Campbell, “faria uma grande diferença.”

Um casuar em Atherton Tablelands. Foto de Mason Campbell/James Cook University.

Primeira imagem: canguru-arborícola (Dendrolagus lumholtzi), por Mason Campbell/James Cook University.

Siga a John Cannon no Twitter:  @johnccannon

Citação:

Campbell, M. J., Edwards, W., Magrach, A., … & Laurance, W. F. (2018). Edge disturbance drives liana abundance increase and alteration of liana–host tree interactions in tropical forest fragments. Ecology and Evolution, 00, 1–15.

Comentários: Use este formulário para enviar uma mensagem ao autor deste artigo. Se você deseja deixar comentários públicos, você pode fazer isso no final da página.

Exit mobile version