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Unidades de conservação com desmatamento mais propensas a perderem status em estado brasileiro

  • Um estudo recente mostrou que unidades de conservação inefetivas possuem uma chance reduzida de sobrevivência se o desmatamento ocorreu dentro de suas fronteiras;

  • A pesquisa foi realizada em Rondônia, na Amazônia;

  • O grupo de cientistas também verificou que as unidades de conservação efetivas são menos propensas a serem divididas para desenvolvimento;

  • Os autores argumentam que a remoção de medidas de proteção, mesmo de áreas degradadas, não leva em consideração os benefícios que podem surgir da existência de unidades de conservação, incluindo armazenamento de carbono e água potável.

Um estudo recente mostrou que, quando parques e reservas não realizam um bom trabalho quanto à preservação das florestas neles contidas, eles são mais propensos a perderem seus status de unidades de conservação.

“É um ciclo vicioso”, afirmou Mike Mascia, que dirige o departamento de Ciências Sociais na Conservação Internacional em uma declaração. “Se uma unidade de conservação sofreu desmatamento, ela se torna então vulnerável à perda de proteções legais. E, se um governo reduz algumas ou todas as proteções legais, a floresta remanescente pode ficar ainda mais vulnerável às forças que levaram ao desmatamento em primeiro lugar”.

Floresta pluvial no Brasil. Foto: Rhett A. Butler/Mongabay.

Mascia foi coautor da pesquisa, publicada online no dia 12 de fevereiro pelo periódico Proceedings of the National Academy of Sciences (Procedimentos da Academia Nacional de Ciências, em tradução livre). Buscando compreender melhor a tendência global na qual governos desacreditam, diminuem e desoficializam unidades de conservação – conhecida internacionalmente pelo acrônimo PADDD (Administração de Petróleo para Distritos de Defesa) – a equipe analisou 62 unidades de conservação em Rondônia. Antes permeado pela Floresta Amazônica, o estado de Rondônia foi severamente atingido pelo desmatamento e ocorreram instâncias da PADDD, a fim de tipicamente abrir espaço para a agricultura e projetos de hidrelétricas. Todas elas aconteceram sob o conjunto de leis de um único estado.

Em alguns casos, as unidades de conservação perderam toda sua proteção, sendo referidas como desoficializadas. Mascia e seus colegas descobriram que, se uma unidade de conservação realizou um trabalho insuficiente na conservação de florestas existentes, ela estava mais propensa a ser desoficializada. Por outro lado, os cientistas também observaram que as unidades de conservação que cumprem efetivamente seu dever são mais propensas a permanecerem no lugar, em outra pequena evidência demonstrando a importância da governança.

Os cientistas ainda estão lutando com o significado da PADDD para os índices de desmatamento nos trópicos. Diversos estudos no Peru e na Malásia registraram aumentos na quantidade de desmatamento após a instituição desses tipos de mudança. Em contrapartida, investigações em outras partes do Brasil mostraram que o desmatamento não aumentou quando a mesma coisa aconteceu.

E a PADDD não está apenas limitada a florestas tropicais. “O apoio do governo para o desenvolvimento econômico em Rondônia – e o consequente desmatamento nas unidades de conservação do estado – é um representativo dos desafios voltados às unidades de conservação ao redor do mundo”, afirmou Rodrigo Medeiros, biólogo, vice-presidente da Conservação Internacional do Brasil e coautor do estudo, na declaração.

Um mico comum no Brasil. Foto: Rhett A. Butler/Mongabay.

Mascia apontou para os Estados Unidos: “Um exemplo recente e muito conhecido é o que está acontecendo no Monumento Nacional Bears Ears, em Utah”, afirmou. “O presidente Donald Trump reduziu o tamanho do Bears Ears – isso é uma PADDD. Agora a área está aberta par a mineração.”

Muitas vezes, os impactos não vistos de uma unidade de conservação escapam dos olhos de decisores que podem considerar que uma área que sofreu algum desmatamento não merece proteção. Entretanto, esse pode ser um posicionamento imprudente, declarou Medeiros.

“Há uma concepção errônea de que essas áreas não estão trazendo nenhum benefício à sociedade. As unidades de conservação fornecem ar puro, armazenamento de carbono, água fresca – os benefícios são inúmeros”, afirmou. “É imprescindível que os governos considerem a importância ecológica das unidades de conservação e reforcem as proteções para efeitos de conservação.”

Imagem do banner de um sapo no Brasil por Rhett A. Butler/Mongabay.

CITAÇÃO

Tesfaw, A. T., Pfaff, A., Kroner, R. E. G., Qin, S., Medeiros, R., & Mascia, M. B. (2018). Land-use and land-cover change shape the sustainability and impacts of protected areas. Proceedings of the National Academy of Sciences, 201716462.

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