Pesquisadores examinaram estudos passados para entender o impacto que acordos contra o desmatamento têm na redução da perda florestal.
Cerca de 450 empresas assinaram 760 acordos no início de 2017.
Esses acordos conseguem reduzir o desmatamento em alguns casos, mas, em outros, eles não tiveram sucesso ou apresentaram resultados inesperados, segundo o estudo.
Os autores defendem a melhora na comunicação público-privada, mais apoio aos pequenos proprietários e leis complementares que amparem esses acordos.
Já se tornou uma tendência entre as grandes empresas a garantia de que seus produtos não provocam desmatamento. E, enquanto muitos especialistas acreditam no potencial desses acordos contra o desmatamento para diminuir ou mesmo frear este dano ambiental, um novo estudo, publicado na revista Nature Climate Change revelou uma série de desafios que enfraquecem esses esforços.
“Essas empresas estão preparadas para romper o vínculo entre a produção de commodities e o desmatamento”, afirma o coautor da pesquisa e cientista ambiental Holly Gibbs, da Universidade de Wisconsin-Madison, em uma declaração. “Para fazer isso, são necessárias ações mais imediatas para demonstrar o compromisso em mudar e acabar com as incertezas que rondam esses acordos”.
Gibbs e um grupo de colegas de cerca de doze outras instituições ao redor do mundo analisaram os acordos, que têm o objetivo de reduzir o desmatamento, feitos por redes de empresas nos últimos anos. Cerca de 450 empresas fizeram 760 desse tipo de acordos até março de 2017. Mesmo assim, os primeiros resultados dão a entender que eles não estão apresentando o que prometeram. Então, os pesquisadores tentam entender o porquê.
O grupo de pesquisadores analisou as diferentes abordagens, observando se elas foram anunciadas como iniciativa de uma única empresa, ou se faziam parte de um grupo de empresas, por exemplo. Também observaram se elas estabeleciam um conjunto de ações direcionadas a enfrentar o desmatamento em toda sua rede, ou se elas simplesmente estabeleciam uma série de objetivos soltos.
Neste último caso, o compromisso pode ser reforçado pelo trabalho de um relações públicas, que leva os consumidores a acreditarem que a empresa é focada em sustentabilidade, mesmo que ela não seja comprometida com essa prática.
“A natureza vaga dos comprometimentos de muitas empresas pode levar ao greenwashing, entendido como um desempenho ambiental fraco, acompanhado por publicidade positiva sobre práticas relacionadas ao meio ambiente”, afirma o autor da pesquisa.
De acordo com o estudo, um dos problemas dos acordos contra o desmatamento é que eles não existem há muito tempo, e, por isso, na maioria dos casos, é difícil mensurar se eles estão fazendo alguma diferença. Entretanto, quando foi possível, os pesquisadores analisaram estudos científicos feitos sobre a efetividade dos acordos para frear o desmatamento e encontraram resultados diversos.
Na Colômbia, por exemplo, plantadores de café que obtiveram uma “eco certificação” aumentaram seu nível de cobertura vegetal se comparados a fazendas sem essa certificação, de acordo com um dos estudos citados pelos pesquisadores. Por outro lado, alguns estudos mostraram que a certificação concedida pelo Forest Stewardship Council (Conselho de Manejo Florestal) não era tão eficiente para a diminuição do desmatamento em Camarões, no México ou no Peru, mas o era no Chile e na Indonésia.
Ações em larga escala voltadas à redução do desmatamento tiveram impactos importantes, como ficou evidente depois que o Brasil estabeleceu uma moratória contra o desmatamento de novas terras para o cultivo de soja em 2004. Da mesma maneira, empresas pecuaristas que operam no Brasil assinaram um acordo contra o desmatamento em 2009. Os cientistas creditam esses resultados ao reforço das punições que ajudaram o país a diminuir consideravelmente o desmatamento até 2012.
No entanto, efeitos inesperados somaram-se a esses benefícios. A moratória da soja pode ter levado os fazendeiros ao desmatamento para outros usos, tais como a criação de gado. E os agricultores, aparentemente, encontraram novas áreas, sem tantas restrições para o desmatamento, para criar seu gado, como a região do Gran Chaco, que engloba a Argentina, a Bolívia e o Paraguai. Ambientalistas temem que o ecossistema único, mas ainda mal compreendido, do Gran Chaco esteja desaparecendo de forma mais rápida do que qualquer outro no mundo – parte disso devido ao aumento da agricultura na região.
Essas “exceções” podem resultar de problemas que as políticas e os acordos criaram para pequenos produtores. Em alguns casos, eles não conseguem arcar com os custos necessários para alcançar os novos padrões. Os autores do estudo afirmam que os governos podem ajudar os pequenos produtores ao cobrir os custos adicionais de adequação a esses acordos.
Além disso, os autores afirmam que as autoridades podem garantir apoio público a essas iniciativas privadas ao aprovar leis “amigáveis”, alinhadas aos compromissos contra o desmatamento. Eles também poderiam contar com o governo para compartilhar informações com empresas que possam lhes ajudar a atingir seus objetivos.
“A época é propícia para aumentar o alcance e os resultados dos compromissos contra o desmatamento, feitos por empresas transnacionais”, declara Eric Lambin, geógrafo na Universidade de Stanford. “Elas contam com uma crescente disponibilidade de dados de monitoramento adquiridos via satélite e outras fontes, e também com uma expansão de políticas públicas, nacionais e internacionais, voltadas à conservação de florestas com o objetivo de diminuir a emissão de gases causadores do efeito estufa”.
Imagem de desmatamento na Indonésia por Rhett A. Butler/Mongabay.
Referência
Lambin, E. F., Gibbs, H. K., Heilmayr, R., Carlson, K. M., Fleck, L. C., Garrett, R. D., … Walker, N. F. (2018). The role of supply-chain initiatives in reducing deforestation. Nature Climate Change. https://doi.org/10.1038/s41558-017-0061-1
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