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Novo estudo revela: precificação do carbono salvaria milhões de hectares de floresta tropical

  • Uma pesquisa recém-publicada na revista Environmental Research Letters revelou que estabelecer um preço de vinte dólares por tonelada métrica de dióxido de carbono diminuiria o desmatamento em quase 16%, e a quantidade de carbono lançada na atmosfera em cerca de 25%.

  • A dupla de economistas calcula que, se as coisas continuarem como estão, o mundo perderá uma porção de floresta tropical do tamanho da Índia até 2050.

  • Além da precificação do carbono, políticas mais severas para deter o desmatamento, tais como as que ajudaram o Brasil a reduzir sua taxa de desmatamento em quase 80% no início dos anos 2000, poderia preservar quase 1 milhão de quilômetros quadrados de floresta.

Um novo estudo revela que a precificação do carbono poderia diminuir drasticamente o desmatamento das florestas tropicais até 2050: vinte dólares por tonelada métrica reduziria o desmatamento em cerca de 16% e sua consequente queima de carbono lançada na atmosfera em quase 25%.

Em uma pesquisa lançada inicialmente em 2015 e que agora foi publicada na edição de janeiro da revista Environmental Research Letters, os autores acreditam que uma área de floresta tropical do tamanho da Índia seria perdida nos próximos 32 anos. A pesquisa contou com a análise de mapas, elaborados pela Universidade de Maryland, de desmatamentos passados e de dados econômicos para descobrir como a precificação de carbono poderia ajudar a mudar esses padrões.

Desmatamento na Indonésia. Foto: Rhett A. Butler/Mongabay.

O que despertou preocupação em suas análises não foi apenas o pouco conhecimento sobre o quanto de floresta o homem pode desmatar até 2050, mas onde e o quão rápido isso pode acontecer. Em seus estudos, a equipe sempre encontrava os mesmos padrões de desmatamento, de acordo com o coautor da pesquisa e economista ambiental Jonah Busch, do Centro para o Desenvolvimento Global, de Washington, D.C.

“Primeiro aparecem os pequenos desmatamentos”, afirma Busch, “talvez para a construção de uma estrada, um corte de árvores que mal se percebe que foi feito”. Depois desses primeiros passos, o desmatamento costuma crescer muito até alcançar um ponto em que o pouco de floresta que restou começa a puxar a taxa de desmatamento para baixo novamente

Busch e seu colega economista e coautor da pesquisa, Jens Engelmann, não acreditam nessa ideia de que há mais desmatamento em locais com “níveis intermediários de cobertura florestal”. No entanto, ele acrescenta: “a meu ver, somos os primeiros a encontrar essa informação nos dados de uma pesquisa”.

E esse padrão poderia ajudar a guiar as políticas públicas.

“Não podemos ignorar as áreas onde há pouco desmatamento”, afirma Busch.

O ideal seria identificar os primeiros sinais de desmatamento em locais com floresta densa e lançar estratégias para conter seu avanço imediatamente, como acontece com as iniciativas do REDD+, ou reduzir as emissões causadas pelo desmatamento e degradação florestal de países em desenvolvimento. Esse recurso envolve o pagamento feito por países ricos aos países em desenvolvimento pela preservação de suas florestas e pelo seu carbono estocado, que constitui parte dos acordos sobre o clima de Paris 2015.

“Um grama de prevenção representa um quilo de recuperação”, acrescenta Busch.

Terra desmatada na Indonésia, na ilha de Nova Guiné. Foto: Rhett A. Butler/Mongabay.

Investimentos feitos por países ricos podem reduzir as emissões a um baixo custo, de acordo com os pesquisadores. Se por um lado é imprescindível que os países europeus diminuam suas emissões, por outro, Busch afirma que pagar países em desenvolvimento para que conservem suas florestas poderia reduzir cinco vezes mais as emissões pelo mesmo preço.

Os Estados Unidos também poderiam adotar essa estratégia econômica para reduzir suas emissões, afirma Busch, caso seu presidente decida voltar a ser signatário do acordo de Paris.

“Será uma grande oportunidade para os Estados Unidos, caso eles voltem a fazer parte do acordo”, diz Busch

Mesmo sem a precificação de carbono, países localizados em florestas tropicais poderiam preservar áreas consideráveis de suas matas com o estabelecimento de políticas mais severas. Busch e Engelmann destacam o impacto que os esforços feitos pelo Brasil tiveram na redução do desmatamento entre 2004 e 2012.

A cobertura florestal do Brasil, de 5,19 milhões de quilômetros quadrados, supera o segundo lugar, os 2 milhões de quilômetros quadrados da República Democrática do Congo, segundo as estimativas de 2000 feitas pela Global Forest Watch. Com tanta cobertura florestal, apenas a redução de 80% na taxa de desmatamento brasileiro, naquela época, preservou 5,2 bilhões de toneladas métricas de dióxido de carbono concentrados na floresta, fora da atmosfera.

Uma estrada desmatada no Gabão. Foto: Rhett A. Butler/Mongabay.

Se todos os países de florestas tropicais ajustarem suas políticas, poderiam salvar quase 1 milhão de quilômetros quadrados de floresta e poupar a emissão de 58 bilhões de toneladas métricas de dióxido de carbono até 2050.

Ultimamente, no entanto, as taxas de desmatamento do Brasil começaram a aumentar, apesar de terem diminuído 16% em 2017. Se o país retroceder suas taxas de desmatamento ao que praticava antes de 2004, afirma Busch, haverá um efeito drástico na reserva de florestas tropicais do mundo. E então, segundo seus cálculos, a área perdida de floresta seria de 3,65 milhões de quilômetros quadrados, mais da metade do tamanho da Austrália, caso o restante do mundo continue com seu desmatamento “de costume”.

“O que acontece no Brasil tem grande influência no futuro do clima e da perda florestal”, afirma Busch

Foto do pasto no Brasil onde ainda há floresta preservada por Rhett A. Butler/Mongabay.

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REFERÊNCIA

Busch, J., & Engelmann, J. (2017). Cost-effectiveness of reducing emissions from tropical deforestation, 2016–2050. Environmental Research Letters, 13(1), 015001.

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