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Desmatamento tropical está aumentando, revela estudo

  • Uma análise de dados de satélite revela que o índice do desmatamento tropical (composto por clareiras médias, grandes e muito grandes) aumentou entre 2001 e 2012.

  • Estas clareiras maiores geralmente são atribuídas à produção agroindustrial de óleo de palma.

  • A América do Sul e o Sudeste Asiático tiveram os maiores aumentos, com exceção do Brasil onde as clareiras de grande porte tiveram queda durante a época do estudo.

  • Os pesquisadores dizem que esta queda se deve ao êxito das políticas de redução ao desmatamento, que podem oferecer possíveis soluções para outros países com percentagens elevadas de clareiras de grande porte.

Enquanto as nações lutam para manter as florestas em ordem e evitam que o mundo sobreaqueça, cientistas estão tentando entender quais ações humanas estão causando o desmatamento e qual a melhor forma de impedí-las. Um estudo publicado em maio de 2017 na Environmental Research Letters forneceu algumas novas ideias sobre o assunto, descobrindo que a maioria da perda de florestas nos trópicos se deve as clareiras de médio, e, também, de grande porte, marca tradicional da agroindústria. Os autores do estudo disseram que ações são necessárias a fim de se reduzir o desmatamento para a colheita de bens como o óleo de palma.

Para realizar o estudo, pesquisadores da Universidade Duke, nos Estados Unidos, analisaram dados da perda da cobertura de árvores detectados por satélites entre 2001 e 2012, e compilados pela Universidade de Maryland. Eles restringiram a análise às áreas tropicais tal como definidas pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO).

Em seguida, analisaram a evolução da perda de cobertura arbórea referentes a quatro tipos de tamanho de desmatamento: menos do que 10 hectares, 10 a 100 hectares, 100 a 1,000 hectares e mais de 1,000 hectares. Segundo a FAO, as habitações e outras fazendas pequenas em nações tropicais subdesenvolvidas desmatam menos que 10 hectares, portanto os autores usam este número para definir atividades de pequeno porte.

Os dados indicam que nos trópicos, de modo geral, o desmatamento aumentou em 53% entre 2001 e 2012, de uma média de 69,000 km² por ano na primeira metade do período do estudo até 79,000 km² por ano na última metade.

Ao observarem a dimensão de casos de desmatamento específicos, os pesquisadores descobriram que mais da metade eram maiores do que 10 hectares.

Esta tendência, segundo eles, foi mais aparente na América do Sul e Sudeste Asiático, onde ocorreu 79 por cento do desmatamento tropical. Na América do Sul, os pesquisadores descobriram que clareiras pequenas contribuíram em 42 por cento para o desmatamento geral na América do Sul e 67 por cento no Sudeste Asiático. Em comparação, ocorrências de clareiras pequenas representaram mais de 80 por cento em outras regiões.

De modo geral, os pesquisadores descobriram que o índice de desmatamento composto por clareiras médias, grandes e muito grandes aumentaram de 2001 até 2012. No Sudeste Asiático, este número aumentou em 16 por cento.

Exemplos de desmatamento florestais de 2001 até 2012 em Kalimantan, Indonésia. Imagem de Austin et al.,2017
Mudanças no desmatamento tropical por país de 2001 a 2012: (a) mudança na taxa de desmatamento e (b) mudança no índice da área de clareiras pequenas (menos que 10 hectares). Imagem de Austin et al.,2017
Mudanças na média do desmatamento (por mil hectares) entre a primeira e a segunda metade do período do estudo (2001-2012), para países com mais de 10,000 hectares de desmatamento anual na (a) América do Sul e (c) Sudeste Asiático, divididas pelo tamanho das clareiras. O valor negativo dado ao Brasil indica uma redução na média de desmatamento anual. Índice da mudança na taxa do desmatamento entre as duas metades do estudo atribuíveis às mudanças em cada tipo de clareira na (b)América do Sul e (d) Sudeste Asiático. Imagem de Austin et al.,2017

Eles afirmam que os resultados sugerem uma mudança contínua no desmatamento industrial de pequeno a grande porte. De fato, os dois países com os maiores índices de clareiras de grande porte, Indonésia e Malásia, produzem a maior parte do estoque de óleo de palma mundial. À medida que a indústria do óleo de palma expande para novas fronteiras como a América do Sul e a África Central, ecologistas receiam os impactos potenciais às florestas e a fauna nela contida. (No entanto, a expansão do óleo de palma não levou necessariamente a um maior desmatamento em lugares onde ela pode ser cultivada em terras previamente degradadas.)

Um aspecto positivo potencial que o estudo revelou foi o Brasil. Os pesquisadores descobriram que o desmatamento despencou no país entre 2001 e 2012, principalmente devido à redução das clareiras de grande porte. Embora os dados de 2016 a 2017 indicam que a perda de florestas possa estar novamente em ascensão, os pesquisadores de Duke dizem que as políticas de redução de desmatamento no Brasil foram muito eficazes e dão esperanças e modelos para outros países com florestas tropicais.

“Medidas políticas similares podem ser eficazes em reduzir clareiras de grande porte em outras regiões e países, incluindo, por exemplo, os compromissos de sustentabilidade voluntários emergentes, que focam em eliminar o desmatamento da rede de fornecimento de bens comercializados à nível mundial, como o óleo de palma”, relatam os autores.

Clareira para uma plantação de palmeira-de-óleo em Aceh, Indonésia.

Enquanto que o estudo revela os impactos e evoluções do desmatamento industrial de grande porte, os pesquisadores dizem que também é importante dar atenção às clareiras de pequeno porte.

“Há várias regiões onde clareiras pequenas continuam a dominar o perfil de desmatamento, incluindo a maioria da América Central e da África”, relatam. “Como as mudanças nas terras de pequeno porte são geralmente espalhadas através de várias comunidades com diferentes motivações e princípios dominantes, as medidas políticas para enfrentar estas mudanças são mais variadas, e devem ser adaptadas especificamente a contextos locais.

Os pesquisadores reconhecem que o estudo deles focam unicamente em analisar os tamanhos de ocorrências de desmatamento e encorajam que suas causas específicas sejam estudadas de modo mais aprofundado. É importante ressaltar que a base de dados usada por eles não diferencia desmatamento natural da colheita de plantio de árvores, o que significa que o desmatamento poderia ser menor do que o indicado pelos dados, especialmente em países com muita plantação, como a Indonésia. No entanto, os autores relatam que compararam esta base de dados com uma outra para a Indonésia, e não foram reveladas grandes discrepâncias.

Os autores esperam que, no fim das contas, as descobertas dos seus estudos ajudem a informar os legisladores e a abrir o caminho para uma maior compreensão do desmatamento tropical e seus efeitos nocivos tais como a perda de habitat dos animais, como o orangotango.

“O desmatamento tem aumentado em todo o trópico, resultando em impactos negativos bem documentados nas funções e serviços do ecossistema,” relatam. “Para enfrentar este desmatamento de forma eficaz, intervenções devem ser sustentadas por uma maior compreensão dos catalisadores de perda de florestas que eles detêm como alvo.”

 

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