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Cientistas surpresos por biodiversidade de abelhas de orquídea próximo a plantações de dendezeiros

  • Um estudo recente descobriu que a biodiversidade de abelhas de orquídea é auxiliada por trechos de floresta ao longo das margens dos rios próximos às plantações de dendezeiros no Brasil.

  • O estudo fornece evidências de que trechos remanescentes de floresta auxiliam na mobilidade e sobrevivência de espécies de plantas e animais em ambientes desmatados.

  • As atualizações do Código Florestal Brasileiro reduzem ou eliminam consideravelmente a exigência voltada a alguns produtores agrícolas de manter trechos de floresta em margens de rios.

No decorrer dos últimos 10 anos, diversas áreas de terras degradadas pela pecuária na Amazônia foram convertidas em dendezeiros. A fim de medir de que maneira suas plantações podem afetar a biodiversidade, pesquisadores observaram abelhas de orquídea em plantações de dendezeiros e trechos de florestas secundárias ao longo de rios no Brasil.

Para a surpresa dos pesquisadores, eles descobriram que esses trechos abrigavam tantas espécies de abelhas de orquídea quanto amplos trechos de floresta primária em reservas protegidas. As descobertas, publicadas no periódico Apidologie no final de 2017, fornecem evidências de que pequenos trechos de floresta com plantações de dendezeiros podem ajudar plantas e animais a sobreviverem ao desmatamento.

O Centro de Endemismo Belém é uma ampla área de 199.211 km2 de floresta pluvial que se estende do nordeste paraense ao norte maranhense. Os cientistas a consideram uma das regiões de maior biodiversidade da Amazônia, bem como uma das mais ameaçadas.

Trecho de floresta protegida próximo a plantação de dendezeiros. Foto: Thaline Brito
Pegada de puma em reserva florestal. Foto: Colin Phifer

“Estávamos ansiosos para estudar as abelhas de orquídea nessa região com a recente expansão das plantações de dendezeiros”, afirmou Thaline Brito, bióloga da polinização da Universidade Federal do Pará e principal autora do estudo.

As abelhas de orquídea são conhecidas por suas cores chamativas e seu comportamento voltado à composição de perfumes Os machos coletam odores de diferentes espécies de flores para criarem um perfume específico que armazenam em suas pernas traseiras para que seja utilizado na atração das fêmeas. Há 250 espécies de abelhas de orquídea, as quais polinizam 600 espécies de plantas tropicais, incluindo plantas economicamente importantes, como a baunilha e a castanha-do-pará.

Em razão de as abelhas de orquídea procurarem por diferentes espécies de plantas espalhadas sobre amplas distâncias em florestas pluviais, elas são sensíveis ao desmatamento. Por causa disso, os cientistas usam a sua presença – ou a falta dela – como um indicador de saúde florestal.

Brito e sua equipe prepararam armadilhas aromatizadas com baunilha, cravo e outros aromas florais atrativos dentro das plantações de dendezeiros próximas a trechos de florestas em margens de rios e em reservas distantes de florestas primárias intactas.

Rodeado de trechos florestais à esquerda e de dendezeiros à direita, trabalhador da empresa de produção de óleo de palma ajuda a carregar armadilhas aromáticas para abelhas de orquídea. Foto: Thaline Brito
Adelsonm, estudante de graduação, e Joel, guarda florestal, ajudam a preparar armadilhas aromáticas para abelhas de orquídea dentro das plantações de dendezeiros. Foto: Thaline Brito
De grande porte, as abelhas de orquídea do gênero Eulaema são atraídas às armadilhas aromatizadas com baunilha e cravo. Foto: Thaline Brito

Os pesquisadores esperavam encontrar números reduzidos de espécies de abelhas de orquídeas nos trechos de florestas em margens de rios, pequenos nas plantações de dendezeiros – já que abelhas de orquídea não visitam suas flores – e o maior número de espécies em reservas florestais.

Em vez disso, eles descobriram que a biodiversidade de abelhas de orquídea em florestas dispersas em margens de rios era semelhante à encontrada em reservas florestais. Como esperado, poucas abelhas de orquídea foram encontradas em plantações de dendezeiros.

As descobertas do estudo são oportunas porque o Código Florestal Brasileiro de 1965, que exige que proprietários de imóveis rurais mantenham de 60 a 80% de suas terras com área com cobertura de vegetação nativa, foi atualizado recentemente. Enquanto as atualizações tentam controlar o desmatamento ilegal ao encorajar proprietários rurais a registrarem os limites de suas propriedades e reservas florestais em uma base nacional de dados, o trecho de floresta exigido foi significativamente reduzido, e, em alguns casos, até eliminado, permitindo o uso mais intensivo da terra. Esse estudo é apenas um dos diversos estudos recentes que mostram de que maneira trechos de florestas em margens de rios auxiliam na sobrevivência de animais e plantas em áreas desmatadas. Desde as atualizações no Código Florestal em 2012, pesquisas indicam que a tendência decrescente do desmatamento no Brasil se inverteu e o desmatamento aumentou em 29%.

Plantação de dendezeiros margeia ampla rodovia. Foto: Thaline Brito
Frutos recém-colhidos de dendezeiro, dos quais o óleo de palma será produzido. Foto: Colin Phifer

O novo estudo é o primeiro a analisar plantações de dendezeiros na Floresta Amazônica e seus impactos usando métodos rigorosos de iscagem para medir a biodiversidade de abelhas de orquídea.

“Eles são absolutamente a maneira mais eficiente de se estudar a abundância e dinâmica das abelhas”, afirmou David Roubik, cientista sênior do Instituto Smithsonian de Pesquisas Tropicais, no Panamá, que identificou mais de 250.000 abelhas de orquídea. Ele não estava envolvido no estudo.

Uma ressalva ao estudo é que as florestas primárias nas reservas podem não estar completamente intactas. Entretanto, os autores atestam que, em comparação às plantações de dendezeiros e florestas secundárias, elas apresentam um habitat muito superior.

“De um modo geral, as reservas mais estão intactas do que não, mas elas não devem ser consideradas virgens”, afirmou Colin Phifer, ecólogo e coautor do estudo na Universidade Tecnológica de Michigan. “Ainda assim, eu pessoalmente vi três espécies de primatas, incluindo uma ameaçada.”

 

Citação:

Brito, T.F., Phifer, C.C., Knowlton, J.L. et al. (2017). Forest reserves and riparian corridors help maintain orchid bee (Hymenoptera: Euglossini) communities in oil palm plantations in Brazil. Apidologie 48: 575-587. https://doi.org/10.1007/s13592-017-0500-z

Imagem do banner: Abelha de orquídea. Foto de Colin Phifere.

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