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Marfim continua no Reino Unido, enquanto governo se mobiliza para acabar com o comércio legal

  • O governo britânico começou um período de consulta de 12 semanas, no dia 6 de outubro, para resolver detalhes de uma proibição quase total de seu comércio doméstico de marfim.

  • Grupos de conservação têm se preocupado que até mesmo o comércio legal possa ocultar a movimentação ilícita de marfim e estimular ainda mais a demanda por marfim proveniente da caça predatória de elefantes.

  • Os grupos de conservação WCS e Stop Ivory aplaudiram a declaração e se comprometeram em trabalhar com o governo para fazer a proibição entrar em vigor.

O governo do Reino Unido anunciou que irá acabar com o comércio legal de marfim dentro de suas fronteiras.

“O declínio populacional de elefantes causado pela caça predatória por marfim envergonha a nossa geração”, disse o secretário do Meio Ambiente do Reino Unido, Michael Gove, em um comunicado. “A necessidade por ações radicais e intensas para proteger uma das espécies mais icônicas e queridas do mundo é incontestável.”

Evidências crescentes mostram que até mesmo o comércio legal de marfim pode encobrir a venda ilegal e estimular a demanda que leva à caça predatória. Atualmente, as leis do Reino Unido permitem que peças de marfim trabalhado, como esculturas, feitas antes de 3 de março de 1947, sejam vendidas. Peças feitas após essa data exigem um certificado para serem legalmente comercializadas.

Em 6 de outubro, o governo começou um período de consulta de 12 semanas para definir um novo conjunto de restrições. Durante esse período, grupos de conservação e curadores de arte e antiguidades irão trabalhar em conjunto “para garantir que não existam lacunas que estimulem a caça ilegal de elefantes”, de acordo com o comunicado.

Algumas esculturas de marfim serão excluídas da nova proibição doméstica de marfim no Reino Unido. Foto de sha (trabalho próprio) [CC0], via Wikimedia Commons.

O Reino Unido se une aos Estados Unidos e à China em suas recentes declarações de fechamento do comércio doméstico de marfim.

De acordo com o plano, o governo fará exceções para permitir o comércio e venda de instrumentos musicais de marfim e peças com pequenas quantidades de marfim. O comércio de objetos de “significativo valor histórico, artístico e cultural” também será permitido, bem como a movimentação de peças para e entre museus.

De acordo com o escritório de Gove, o objetivo será identificar “exceções bem definidas e cuidadosamente selecionadas para itens que não contribuem para a caça predatória de elefantes e para as quais a proibição seria injustificada”.

Uma investigação recente da Agência de Investigação Ambiental descobriu que o Reino Unido é o maior exportador de marfim legal, em grande parte para mercados na China e em Hong Kong.

“O marfim ilegal se esconde por trás do marfim ‘legal’, e o Reino Unido ainda permite um significativo mercado de marfim‘legal’”, disse Cristián Samper, CEO da Wildlife Conservation Society, em um comunicado da organização. “A implementação de uma proibição rígida sem lacunas para comerciantes tirarem proveito é essencial na luta contra a caça predatória de elefantes e o tráfico de marfim.”.

Uma presa de marfim esculpida no Brooklyn Museum. Fonte da foto: Brooklyn Museum [CC BY 3.0], via Wikimedia Commons.

Nos últimos 15 anos, o número de elefantes da floresta (Loxodonta cyclotis) na África Central diminuiu 66%, disse Samper. No continente inteiro, 20.000 elefantes morrem a cada ano nas mãos de caçadores. Muitos cientistas temem que os elefantes da savana (Loxodonta africana) e da floresta possam enfrentar extinção nas próximas décadas se essa tendência continuar.

“O único jeito de salvar os elefantes, além de intenso trabalho de campo e de cumprimento da lei, é proibir a venda de marfim para evitar oportunidades para esse tipo de lavagem”, disse Samper.

Um relatório recente da ONG TRAFFIC destacou o movimento elaborado de marfim por vários países da África Central, em grande parte através mercados internacionais clandestinos.

“A crise sem precedentes que enfrentamos – o patrimônio natural da África sendo destruído e comunidades em risco devido à caça predatória, feita por grupos armados ilegais – só irá parar quando as pessoas pararem de comprar marfim”, disse John Stephenson, CEO da ONG Stop Ivory, na declaração do governo. “Juntamente com nossos parceiros, nós parabenizamos o governo neste passo importante e estamos ansiosos para trabalhar com ele e com nossos colegas, para assegurar que a proibição seja fortemente implementada e sem atraso”.

Em outubro de 2018, o Reino Unido organizará uma conferência internacional sobre o comércio ilegal de vida selvagem, o qual vale 17 bilhões de libras (22,4 bilhões de dólares) segundo cálculos do escritório de Gove.

Um elefante-da-savana na Tanzânia. Fotografia de John C. Cannon.

Samper reconheceu a necessidade de “intenso trabalho de campo e de cumprimento da lei” para proteger os elefantes onde eles vivem, mas ele disse que os líderes desses países precisam de ajuda.

“Nós não podemos salvar os elefantes se o comércio de marfim continuar”, disse Samper. “A maioria dos elefantes se distribui por vários países … pedimos à comunidade global para acabar com o comércio de marfim.”

“Os elefantes precisam de uma ajuda significativa agora”, ele acrescentou.

Imagem do banner: Elefante em Tanzânia. John C. Cannon.

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