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Estudo mapeia espécies de répteis, completando o “atlas da vida”

  • Os 39 autores do estudo, de 30 instituições ao redor do mundo, compilaram dados dos habitats de mais de 10.000 espécies de répteis;

  • Eles observaram pouca coincidência com as áreas de conservação existentes, muitas das quais usaram os números para as espécies de mamíferos e pássaros presentes como representantes da biodiversidade geral;

  • Lagartos e tartarugas em especial não recebem muita proteção sob o esquema atual;

  • Os autores relatam que identificaram áreas de prioridade alta para conservação que protegem a diversidade réptil, desde desertos no Oriente Médio, África e Austrália até gramados e matagais na Ásia e no Brasil.

Através da faixa dos modos de vida dos vertebrados que habitam a Terra, os cientistas possuem uma ideia bem favorável sobre onde a maioria dos mamíferos terrestres, pássaros e anfíbios vivem. Isso torna a identificação de áreas para proteção em locais onde muitos desses animais vivem relativamente simples, mesmo que os detalhes da proteção desses lugares em si sejam bem mais complicados.

Mas traçar a diversidade de répteis, que representam um terço de todas as espécies vertebradas, tem sido um objetivo vago, que deixa questões como se as estratégias de conservação atuais protegem essa classe de animais. Agora, uma equipe global de pesquisadores relata ter descoberto onde mais de 10.000 espécies de répteis vivem, completando um “atlas da vida” que poderia guiar os esforços de conservação futuros.

(Malayodracon robisonii). Lee Grismer, coautor do estudo / Universidade La Sierra, Califórnia.

“Mapear as distribuições de todos os répteis foi considerado algo muito difícil,” afirmou Shai Meiri, coautor do estudo e zoólogo da Universidade de Tel Aviv, no Israel, em um artigo. “Mas graças à equipe de especialistas em lagartos e serpentes de algumas das regiões menos conhecidas do mundo conseguimos concluir a tarefa e, com sorte, contribuir para a conservação desses vertebrados muitas vezes difíceis de encontrar”

Até agora, a localização das áreas protegidas para resguardar a biodiversidade se baseou nas informações sobre onde a maioria das plantas, pássaros e mamíferos – e, em menor grau, anfíbios – vive. Até o momento, isso inclui 10.000 pássaros, 6.000 anfíbios e 5.000 mamíferos. Sem dados sobre os répteis, os responsáveis pelo planejamento muitas vezes tiveram que fazer suposições embasadas sobre os répteis que um parque ou reserva pode ter – na verdade, usar a biodiversidade de outras classes como um substituto para a diversidade reptiliana

“Isso não significa que o trabalho feito até agora foi impreciso,” afirmou Richard Grenyer, coautor do artigo e biólogo na Universidade de Oxford, no artigo. “[Com base] em nosso conhecimento no momento, os conservacionistas tomaram, com frequência, decisões muito boas.”

Mapa mostrando as regiões do mundo que mais ascenderam em importância de conservação, agora que os cientistas conhecem a localização dos répteis. (Imagem e legenda: Roll et al., 2017).

O presente estudo, idealizado por Meiri há 10 anos e publicado a 09 de outubro pelo periódico Nature Ecology and Evolution, reúne o trabalho de 39 pesquisadores de 30 instituições, catalogando os habitats de 99% dos répteis existentes de que temos conhecimento.

“[Agora] a conservação possui os dados e ferramentas necessários para construir o planejamento no mesmo nível que as empresas e os governos que podem estar de olho na região para outros usos”, afirma Grenyer.

Os resultados revelam que os répteis não estão bem protegidos pelo conjunto de áreas protegidas atuais. Apenas em torno de 3,5% da variação de espécies estão dentro desse perímetro, conforme definido pela União Internacional para a Conservação da Natureza. Esse número é menor para anfíbios: 3,4%. Isso se dá, em parte, devido à localização de muitos répteis.

“Os lagartos em especial tendem a ter distribuições peculiares e geralmente gostam de lugares quentes e secos, então muitas das áreas de conservação importantes identificadas recentemente estão em terras áridas e desertos”, afirma Uri Roll, principal autor do estudo e ecólogo na Ben Gurion University of the Negev, no artigo. “Essas não tendem a ser as preferências de pássaros e mamíferos, então não poderíamos tê-las suposto com antecedência.”

(Tropiocolotes naterreri). Foto: Simon Jamieson / Universidade de Tel Aviv.

Proporcionalmente, mais espécies de lagartos vivem fora dessas reservas que outros répteis. As tartarugas também não recebem muita proteção: os autores constataram que poucas espécies de tartarugas se beneficiam tendo um mínimo de 10% de sua diversidade protegida.

Apesar de suas análises, a equipe identificou novas áreas nas quais a diversidade dessas espécies pode estar em risco, variando desde desertos no Oriente Médio, África e Austrália até gramados e matagais na Ásia e no Brasil. Esses locais têm potencial para conservação futura, em parte devido ao baixo custo do terreno, visto que não precisaríamos abrir mão de muitas terras para reservá-las.

Entretanto, Grenyer afirma que essa não é a única consideração.

“Por um lado, encontrar áreas vitais em regiões áridas é algo bom porque a terra é bastante barata”, declarou. “Todavia, os desertos e as terras áridas também abrigam outras atividades modernas, como importantes projetos de irrigação, enormes desenvolvimentos de energia solar e, por vezes, degradação dos solos, guerras e conflitos generalizados.

“Isso as torna um ambiente muito desafiador para o trabalho dos conservacionistas.”

Foto: Alex Slavenko / Universidade de Tel Aviv.

Nos ecossistemas de água doce – habitats críticos para tartarugas e crocodilos – o cálculo de conservação também pode ser diferente por essas áreas serem igualmente importantes para os humanos. Essa nova informação cria um panorama mais complicado, mas que Grenyer argumenta ser mais completo.

“Graças a ferramentas como o nosso atlas, cientistas podem, pela primeira vez, observar o campo terrestre do planeta em sua totalidade e tomar decisões fundamentadas acerca do modo de utilização dos recursos de conservação”, afirmou.

Citação:
Roll, U., Feldman, A., Novosolov, M., Allison, A., Bauer, A. M., Bernard, R., … & Colli, G. R. (2017). The global distribution of tetrapods reveals a need for targeted reptile conservation. Nature Ecology & Evolution, 1.

Imagem do banner: Hypsilurus papuensis. Foto: Alex Slavenko / Universidade de Tel Aviv.

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